Paquito lança disco 'Xará', com músicas sobre aquecimento global e Bolsonaro

'O Monstro', com letra de Chico César, foi composta em 2016 pensando no atual presidente

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Rio de Janeiro

Antônio José Moura Ferreira, cantor e compositor baiano conhecido como Paquito, ficou feliz quando Caetano Veloso, dentre as opções que tinha, escolheu “Barulhento” para gravarem em duo.

É um acalanto no qual a palavra “silêncio”  é entoada várias vezes. O alvo da letra é a turbulência sonora de Salvador, com “decibéis indiferentes/ ao coração de ninguém”.

Tesouro ainda pouco conhecido no resto do Brasil, a obra de Paquito é suave, mesmo quando há versos contundentes. Em seu novo trabalho, “Xará”, ele repete o formato de “Bossa Trash” (2009), o minimalista voz e violão.

“Isso aqui na Bahia é contraproducente”, brinca ele, numa alusão à axé music, hegemônica nas rádios e nos palcos. “Caetano me disse uma vez: ‘Você quer acabar com o Carnaval da Bahia?’. Por isso, foi muito legal a escolha da música. Ele gosta de pontos de tensão, de provocar.”

Não surpreende que “Xará” —o título vem de uma canção para Santo Antônio— seja dedicado, entre outras pessoas, a João Gilberto. “É o cara que fez tudo certo musicalmente.”

Nascido na interiorana Jequié, “converteu-se à litoraneidade” ao se mudar para Salvador ainda na infância.

Foi roqueiro. De 1983 a 1989, exercia o papel de vocalista da banda Flores do Mal.

Em 1996, seu nome apareceu no repertório do disco “Âmbar”, de Maria Bethânia. Ele pôs melodia no poema “Brisa”, de Manuel Bandeira. O primeiro álbum solo veio em 2002, “Falso Baiano”, ainda marcado pelo rock. Nos anos seguintes, foi baixando o volume.

Na sua teia de referências estão Caetano e Gilberto Gil (“Sou filho da tropicália”), Roberto Carlos, Beatles, Luiz Gonzaga, Chico Buarque, os sambas da década de 1930 e dois ilustres compositores da Bahia, Batatinha e Riachão — ele produziu um CD de cada.

Hoje, aos 55 anos, diz estar mais seguro para ambicionar que suas composições tenham perenidade.
“Esse novo disco tem a ideia de pertencimento, daí a Bahia tão presente”, acredita. “Moro há 25 anos perto do Porto da Barra, que é uma praia no centro de Salvador aonde vou todos os dias. Uma canção fundamental é ‘Porto de Chegar’, parceria com alguém muito importante para mim e para a Bahia, que é Gerônimo Santana.”

O autor da marcante “É d’Oxum” é um dos parceiros importantes no repertório. Tem até Fernando Pessoa, cujo poema “Às Vezes entre a Tormenta” foi musicado.

Também musicou “Soneto para Anecy”, feito pelo guru tropicalista Rogério Duarte para a atriz Anecy Rocha, irmã de Glauber.

São criações mais antigas que convivem com canções que tocam no presente. 

“O Monstro”, com letra de Chico César, foi composta pensando em Jair Bolsonaro. Mas ainda em 2016.

“O monstro chegou/ No mundo pleno de ódio e amor/ [...] Bandido bom é bandido morto/ Jesus moído até
o osso/ O monstro habita o esgoto” são alguns dos versos.

Outra com senso de urgência é “Melô do Aquecimento Global”: “Tudo vai virar mingau/ Que deixamos pros bebês/ O culpado é o animal/ Que ajoelha, reza e crê”.

Coisas como essas são ditas, nos fonogramas e na entrevista, sem alterações na voz nem perda de humor. Algo que combina com o acompanhamento apenas do violão (de cordas de aço, como o usado por Dorival Caymmi em gravações clássicas).

Além dos motivos estéticos, também há os econômicos na opção. “Não tenho dinheiro para contratar banda. E quero mostrar minhas músicas. Tenho muitas inéditas, uma gaveta abarrotada”, diz ele, que planeja apresentações em São Paulo e Rio.

Xará

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  • Autor Paquito
  • Gravadora Dubas
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