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Cinema

'Alva' tem linguagem próxima do documental e trama minimalista

Filme português traz história de um homem que comete um crime e se refugia na floresta

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Alva

  • Quando Estreia nesta quinta (12)
  • Classificação 10 anos
  • Elenco Henrique Bonacho, Pedro Figueiredo, Ana Mota
  • Produção Portugal/Argentina/França, 2019
  • Direção Ico Costa

"Alva" é um dos quatro filmes portugueses que estreiam este ano no circuito paulistano. É também um dos mais pesados, pois envolve assassinato, fuga, reclusão, numa linguagem muito próxima do documental.

É o primeiro longa de ficção do jovem lisboeta Ico Costa, após um documentário curioso chamado "Barulho, Eclipse" (2017) e dois curtas. Um desses curtas, "Antero", é uma espécie de ensaio para a procura de estilo demonstrada em "Alva".

O problema é que esse estilo já se tornou um tanto batido, quase acadêmico: câmera na mão, descuidada, imprecisa na perseguição aos corpos e gestos, enquadramentos soltos.

Na trama minimalista, Henrique (vivido pelo ator amador Henrique Bonacho) é um homem de meia idade que comete um crime e se refugia na floresta. Lá ele foge de amigos e se alimenta de frutos silvestres.

Cena do filme 'Alva', de Ico Costa
Cena do filme 'Alva', de Ico Costa - Reprodução

No tom adotado pelo filme, não é possível entender os sentimentos de Henrique, nem saber se há arrependimento pelo crime que cometeu ou pelas outras pessoas que magoou.

Vemos na maior parte do tempo apenas suas ações cotidianas, o modo como enfrenta o inverno português, mais intenso no campo, as dúvidas de quem não encontra perspectivas para sua vida.

Talvez o aspecto mais fraco do filme, o que o torna um tanto cansativo nos seus mais de 90 minutos, é justamente essa impossibilidade de entendermos o que se passa na cabeça do assassino. É um monstro que nunca chegamos a conhecer de fato, o que elimina qualquer ambiguidade. Ele é só um monstro.

Isso, claro, além de um trabalho de câmera que raramente rende bons filmes. A indecisão da câmera, na verdade, reflete a indecisão do protagonista. Mas em vez de haver adequação com o aspecto formal, há apenas afastamento, desinteresse.

O cinema português não tem conseguido trabalhar nesse registro que vai totalmente contra o que se entende pela estética portuguesa, tal como nos acostumamos a ver em filmes de Manoel de Oliveira, João César Monteiro ou Pedro Costa.

"São Jorge" (2016), de Marco Martins, e "Verão Danado" (2017), de Pedro Cabeleira, são dois exemplos recentes de longas elogiados pela crítica, mas afetados por esse estilo que prima pelo desleixo do enquadramento e pela fragilidade conceitual.

"Alva" não é conceitualmente frágil como esses dois filmes, mas também é afetado pela opção estética desleixada que tanto mal faz ao cinema contemporâneo. Esquecem-se de que a câmera na mão pode ser muito bem usada, quando há algum critério no que se filma, e em como se filma.

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