Bienal de São Paulo adia mostra principal e se repensa em meio ao coronavírus

Evento também suspendeu exposições individuais que apresentaria em abril e em julho

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A Bienal de São Paulo anunciou, na manhã desta quarta (25), que a sua 34ª edição sofrerá uma série de mudanças em razão da pandemia do coronavírus.

A primeira delas é a data da abertura da mostra coletiva principal que, prevista para o dia 5 de setembro, foi adiada para 3 de outubro. Segundo o presidente da Fundação Bienal, José Olympio da Veiga Pereira, o atraso é necessário por causa do tempo de montagem da exposição –para a mostra ser inaugurada em setembro, ela precisaria começar a ser montada em junho.

É o mote por trás desta edição da Bienal, no entanto, que mais deve sofrer com as alterações. Afinal, a mostra organizada pelo italiano Jacopo Crivelli Visconti tinha como proposta central se expandir pelo calendário e pela cidade.

O evento começou, assim, em fevereiro, sete meses antes do habitual, com uma exposição solo da peruana Ximena Garrido-Lecca no Pavilhão da Bienal, no parque Ibirapuera –a brasileira Clara Ianni e a americana Deana Lawson a sucederiam ali em abril e em junho, nesta ordem.

Depois, na época da mostra principal, a ideia era que a Bienal se espalhasse pela cidade, com mostras individuais dos participantes ocupando 25 museus e centros culturais paulistanos. Na lista de instituições parceiras, estavam desde o Masp e a Pinacoteca até unidades do Sesc.

Numa entrevista à Folha no ano passado, Crivelli Visconti explicou que, com isso, ele e o time de curadores à frente da mostra buscavam explorar o conceito de "relações" que inspira esta edição, uma reflexão sobre a recusa do debate entre visões diferentes que marca a sociedade hoje.

“O público vai poder entrar em contato com a poética individual dos artistas e, em outro lugar e contexto, ver como essa produção se articula com uma mostra mais temática”, disse ele na ocasião.

Agora, com a pandemia do novo coronavírus, as mostras de Ianni e Lawson serão incorporadas à mostra coletiva. Crivelli Visconti conta que as instalações de Ianni serão espalhadas pelo Pavilhão, em diálogo com obras de outros participantes. Já as fotografias de Lawson serão agrupadas em núcleos densos que pontuarão a mostra.

Também as parcerias da Bienal com outros espaços de cultura estão em xeque. Afinal, praticamente todos os museus e centros culturais paulistanos também tiveram suas programações adiadas por causa do coronavírus.

Segundo Olympio, como cada um desses acordos foi negociado individualmente, agora também eles estão entrando em contato com as instituições uma uma. "Por isso, precisamos de algum tempo para chegar ao novo calendário", diz.

Crivelli Visconti, afirma, no entanto, que tudo indica que a rede será mantida. "Portanto, o exercício de ver as obras no âmbito de uma individual e inseridas numa coletiva ainda vai ser possível."

prédio com muitas persianas
O Pavilhão da Bienal, no parque Ibirapuera, onde acontece a Bienal de São Paulo - Karime Xavier/Folhapress

Questionado se acha que as obras apresentadas na exposição refletirão sobre a pandemia, Crivelli Visconti afirma que ainda é cedo para prever isso. Mas diz que o título da Bienal, "Faz Escuro Mas Eu Canto", faz ainda mais sentido nesse momento.

"Não prevíamos que essa escuridão ficaria mais impenetrável ainda, e que a ameaça à qual nos referíamos de uma maneira simbólica e metafórica, de um momento para outro se tornaria também física, apesar de invisível", afirma o curador.

Olympio afirma que ainda não há previsão do impacto financeiro do adiamento. A exposição deste ano tem orçamento de R$ 30 milhões. A Fundação Bienal não informa qual porcentagem do valor vem de leis de incentivo, embora neste ano tenham sido captados cerca de R$ 13 milhões para o funcionamento geral da instituição, segundo o portal do Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura.

O presidente da Fundação Bienal acredita, porém, que o conceito da exposição está mais vivo do que nunca. "No momento em que esta crise passar, as pessoas vão querer ainda mais estar em contato com a cidade, com a arte. Estaremos prontos para isso", diz.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.