Shows online de strip-tease fazem sucesso durante pandemia do coronavírus

Em isolamento social, dançarinas de casas noturnas ganham dinheiro com lives no Instagram

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Taylor Lorenz
The New York Times

Nas últimas semanas, Justin LaBoy, de 29 anos, ex-jogador de basquete que se tornou famoso nas redes sociais, e o empreendedor Justin Dior Combs, 26, filho do rapper P. Diddy, vêm usando o Instagram para oferecer apresentações ao vivo de strip-tease improvisadas.

“Se não fosse por Justin e as lives que ele organiza, eu não sei o que teria feito, como teria mantido as contas em dia ou colocado comida em casa”, disse Sasha, uma dançarina que participa dos shows virtuais.

Em boa parte do planeta, muitos bares e casas de strip-tease foram forçados a fechar praticamente de um dia para o outro. Milhares de bartenders, garçonetes e dançarinos ficaram sem renda. E como muitas outras organizações, de escolas de ensino básico a programas de sobriedade, as casas de strip também buscaram recriar por via digital as experiências que oferecem aos frequentadores.

O Magic City, um clube de strip em Atlanta, nos Estados Unidos, começou a oferecer “’lap dances’ virtuais” por meio do Instagram Stories. O rapper Tory Lanez também começou a comandar noitadas de dança virtuais para seus 7,5 milhões de seguidores, sob o título “Quarantine Radio”.

Mas os eventos de LaBoy têm atraído um grande número de fãs fervorosos.

Dançarina se apresenta na casa noturna Bliss Bistro, em Nova York, em 2014
Dançarina se apresenta na casa noturna Bliss Bistro, em Nova York, em 2014 - The New York Times

Músicos como The Weeknd e Diplo e muitos jogadores famosos de futebol americano e basquete, assim como influenciadores de redes sociais, são espectadores constantes. Shaquille O’Neal, Meek Mill, YG, Casanova e Lil Yachty participaram dos programas como convidados especiais.

“A ideia cresceu muito”, disse Combs. “Começou com uma transmissão conjunta em lives e se transformou nessa loucura. As pessoas me perguntam toda noite se vamos ter uma live. Justin tem seguidores devotados, quase como se liderasse um culto, e a coisa está só começando."

LaBoy disse que a ideia de recriar a atmosfera de uma casa noturna no Instagram surgiu à 1h de certa madrugada, quando ele se sentiu entediado com o streaming ao vivo que estava fazendo para seus mais de 60 mil seguidores. “Eu pensei que precisava convocar um demônio qualquer”, disse LaBoy. “Onde encontrar alguns demônios?”

Algumas mulheres pediram imediatamente para participar como convidadas de seu stream. Seus seguidores adoraram. “Ninguém acreditava que estivéssemos fazendo aquilo de graça”, disse LaBoy. “As meninas estavam dançando, ‘twerking’, tirando a roupa toda.”

Ele começou a pôr o nome de usuário das participantes de contas em aplicativos como o Cash App, na tela do feed, para que os espectadores pudessem lhes enviar dinheiro. LaBoy percebeu que tinha descoberto um filão. E assim nasceu o “Respectfully Justin Show”.

Cada noite um clube novo

Horas antes do show, LaBoy começa a divulgar o evento no Instagram, com o hashtag #respectfully. Como a rede proíbe conteúdo explícito, ele cria um novo nome de usuário para cada evento. Anuncia o nome da página no Twitter, mosrtrando o horário e a data da apresentação.

”Nunca tinha visto uma página conseguir 30 mil seguidores em uma hora”, disse Combs. “Ele está fazendo coisas que eu nunca tinha visto.”

LaBoy apresenta Combs e depois relaxa começando seu stream, com uma taça de vinho, o que já se tornou meme.

Zack Bia DJing em uma tela verde exibindo o copo de vinho tinto que aparece nas lives do Respectfully Justin Show
Zack Bia DJing em uma tela verde exibindo o copo de vinho tinto que aparece nas lives do Respectfully Justin Show - Reprodução

“As pessoas postam fotos de taças de vinho e escrevem coisas como ‘se sua garota sabe o que isso quer dizer, ela não é sua garota’’, disse Alexis, 24, dançarina em um clube de Atlanta que se apresentou em diversos dos streams de LaBoy. “Tornou-se um símbolo do show.”

Quando LaBoy aceita a proposta de uma mulher que quer dançar, ele põe seu nome de usuária no Cash App no topo da tela e diz aos seus seguidores que, se eles gostam do que estão vendo, melhor pagar. “O pessoal 'traço azul' precisa pagar”, disse ele, em referência às pessoas que têm contas verificadas no Instagram.

Histórias de uma irmandade demoníaca

Algumas dançarinas dizem ter recebido milhares de dólares em doações via Cash App. Alexis afirmou que faturou um total de US$ 18 mil (aproximadamente R$ 95 mil) dançando em lives do Instagram durante um período em que ela não teve outro trabalho. “Justin garante que as meninas ganhem um dinheiro substancial”, disse ela. LaBoy também divulga seu nome de usuário no Cash App e distribui o dinheiro que recebe por essa via como bonificação para as dançarinas.

O dinheiro que Alexis conseguiu ganhar dançando na internet supera em muito o que ela faturava previamente dançando numa casa de strip e com esforço muito menor. “No clube, trabalho por oito horas direto”, ela disse. “No Instagram, são cinco minutos. Cinco minutos comparados a oito horas de trabalho.”

As mulheres que se apresentam como convidadas também conquistaram maior número de seguidores para suas contas no Instagram. Alexis criou uma conta secundária de Instagram para suas lives pessoais no Instagram depois que usuários lhe enviaram mensagens com propostas.

“Pessoas me oferecem US$ 500 [cerca de R$ 2.600] para dizer o nome delas em uma mensagem de voz”, disse ela. “Entram na minha página e me mandam o emoji dos olhos ou o do coração e me perguntam de onde sou, onde vivo. Todo mundo está muito ativo nessa temporada de quarentena."

Diversas mulheres que foram destaque nas noites de LaBoy se tornaram amigas. “Agora temos uma comunidade de demônios”, disse Sasha, 32, que normalmente trabalha como hostess em um restaurante fino de Los Angeles. “Entramos juntas nas lives. Somos uma pequena irmandade de demônios.”

As mulheres que se apresentam não mostram seus rostos e mantêm o anonimato, revelando apenas seus nomes de usuário no Instagram (o site The New York Times concordou em identificá-las só pelo primeiro nome). Algumas, como Sasha, usam uma máscara de esqui enquanto dançam, e outras simplesmente só se filmam da cintura para baixo.

Sasha disse que prefere manter sua identidade offline separada do trabalho que ela começou a fazer na internet por acaso.

“Das outras mulheres, uma tem filhos, e todas tínhamos empregos que nos foram tirados”, disse Sasha. “Todas temos problemas, e é por isso que estamos fazendo o que estamos fazendo. Estamos todas tentando manter o sigilo sobre nossas identidades e, ao mesmo tempo, conquistar fãs e ganhar algum dinheiro."

Sasha afirmou também que faturou cerca de US$ 4.000, cerca de R$ 21,1 mil, com suas apresentações online, o que a inspirou a criar uma conta no OnlyFans, um serviço que lhe permite conquistar assinantes diretos.

“Meu número de seguidores não para de crescer”, disse ela. “Isso me mostrou que tenho de fazer outras coisas para faturar. Tenho de pagar minhas contas e preciso de dinheiro para as compras.”

Mais exclusividade

O sucesso do “Respectfully Justin Show” inspirou uma série de cópias, e muitos dos envolvidos buscam tirar vantagem de mulheres que estão enfrentando dificuldades. Outros usuários se fazem passar por LaBoy e Combs e pedem dinheiro às mulheres e fotos que as mostrem nuas.

“Há um milhão de páginas falsas que não são fechadas e tentam trapacear as garotas e tirar dinheiro delas”, disse Sasha.

No início de abril, LaBoy decidiu que pararia de tuitar na opção aberta do Twitter o nome da conta de Instagram da festa de cada noite, tanto por motivos de privacidade quanto para evitar bloqueios. “É só para convidados, agora”, escreveu ele. “Deus me livre, os farsantes e os ‘haters’ arruinaram a coisa para todo mundo."

As dançarinas dizem que não se incomodam pelos shows atraírem menos espectadores, desde que "os caras endinheirados" continuem a aparecer. Não é sempre que uma delas tem a oportunidade de dançar para alguém como Meek Mill ou Kevin Durant sem nem sair de casa.

Até agora, o número de espectadores não caiu muito. “Os homens compram mesas e seções do clube, isso fica mais em conta”, disse LaBoy. “Você pode ficar em casa, ver todo mundo que quer e gastar só US$ 5 ou US$ 10 [R$ 21 ou R$ 52]."

Diversas marcas já contataram LaBoy para patrocinar seus eventos, mas ele disse que não aceitou as ofertas até o momento e ainda está tentando decidir o que fazer. “Estou tentando descobrir. Quando a vida lá fora voltar ao normal, como é que algo assim vai gerar dinheiro?”, questionou.

Sasha também disse que recebeu muitas mensagens de outras mulheres que estão sem trabalho e encontraram sua conta no Instagram. Segundo ela, as mulheres costumam perguntar o que precisam fazer para ganhar dinheiro dançando online.

“As meninas perguntam como tomei coragem para fazer isso”, disse Sasha. “E eu respondo que basta usar a máscara de esqui e pronto.”

Tradução de Paulo Migliacci

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.