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Cinema

Animação surrealista celebra a liberdade e oferece diversas viagens

'Mate-o e Deixe Esta Cidade' nos envolve em um mundo particular, o do diretor Mariusz Wilczynski

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Mate-o e Deixe Esta Cidade

  • Quando De quinta (22) às 20h até 4 de novembro
  • Onde Exibição na Mostra Play (plataforma online da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo)
  • Direção Mariusz Wilczynski

O crescimento da tensão política do mundo nos últimos anos teve seu efeito nas artes. Os artistas estão mais nervosos, inquietos. No cinema, não seria diferente, e o que temos visto nos últimos dois ou três anos é o aumento de filmes loucos, ousados, que respiram liberdade.

É o caso da animação roqueira e surrealista "Mate-o e Deixe Esta Cidade", que apresenta traços simples em ilustrações complexas e nos envolvem em um mundo particular, o do diretor Mariusz Wilczynski.

Não há um enredo propriamente dito. A lógica é de sonho, segundo o mandamento surrealista. Sonhos do autor, personagens de sua vida e heróis artísticos que se materializam a sua frente mesmo depois de mortos.

Sua maneira de encarar as coisas ao redor, o relacionamento com a mãe doente, o filme que está fazendo e os que já fez, tudo é desnudado para o espectador. Literalmente, pois o autor se desenha nu, e com um corpo que vai se tornando gigante com o tempo.

Cena da animação 'Mate-o e Deixe Esta Cidade'
Cena da animação 'Mate-o e Deixe Esta Cidade', que está na Mostra de São Paulo - Divulgação

Em dado momento, fica evidente a inversão. Nós, humanos, nos tornamos peixes, temos nossas cabeças cortadas e somos embalados para consumo. Nos transformamos em cães e cheiramos traseiros de outros cães enquanto as fábricas poluem o ar pelas chaminés. Só que essas fábricas podem virar navios.

O rock é constante. Na verdade, um blues-rock composto por Tadeusz Nalepa (1943-2007), líder da banda polonesa dos anos 1970 Breakout. Sua música é vital para o filme, que utiliza também trechos gravados de sua voz, como se ele ainda estivesse vivo e conversasse com o diretor.

E todo o mundo é uma gama de dimensões que se alternam: um navio pode estar dentro da banheira de um homem, essa banheira pode ter patas, um navio vira um cinzeiro, suas chaminés viram bitucas de cigarros; outros homens nadam num balde com peixes mortos. A loucura óptica tornada possível pela arte da animação.

Tanta liberdade narrativa e estrutural por vezes cansa. Sentimo-nos tragados pelas armadilhas visuais e com isso nos afastamos um pouco do filme. Mas não dá para negar que Mariusz consegue nos envolver, na maior parte do tempo, em um mundo paralelo que guarda apenas algumas semelhanças com o nosso.

Ele, já como um gigante que tudo observa, pode curtir passivamente o blues-rock tocado num navio, permitindo-se fotografar pelos turistas curiosos enquanto seu corpanzil está quase todo submerso no mar.

No mar ou na sua banheira? Uma vez que a liberdade total está no comando desde o início, podemos viajar de diversas formas, sem considerar qualquer interpretação como definitiva. Esse é o maior barato do filme.

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