Descrição de chapéu
Jairo Malta

Quando me perguntam por que odeio 'Friends', respondo 'sou negro'

Série é uma cópia bem descarada de 'Living Single', lançada no ano anterior, mas com elenco formado por negros

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Uma sitcom sobre seis amigos morando juntos em um apartamento em Nova York. Obviamente estamos falando de "Living Single", lançada em 1993, um ano antes do lançamento de "Friends" —série supostamente boa que, por ter fãs bem chatos, aparece com frequência em memes como “'Chaves' é melhor que 'Friends'” e também “'Carrossel' é melhor que 'Friends'”.

Na verdade, qualquer coisa é melhor que "Friends".

Se ainda não entendeu, vamos aos problemas. Partimos do ponto que “Friends” é uma cópia bem descarada de "Living Single", não só pelo enredo como também pelos personagens. Com uma leve diferença –se "Friends" traz como protagonistas três homens e três mulheres, em "Living Single" eles são quatro mulheres e dois homens.

Em "Friends", são eles Rachel Green, a patricinha, Joey Tribbiani, o mulherengo bobo, Chandler Bing, o sério cheio de ironia, Monica Geller, a mãe do grupo, Ross Geller, o bonitão inteligente, e Phoebe Buffay, a amiga ingênua.

Já em "Living Single", Khadijah James —vivida por Queen Latifah— é idêntica a Monica, Kyle Barker, a Chandler, Maxine Shaw a Ross, Synclaire James a Phoebe, Regine Hunter a Rachel, Overton Wakefield Jones a Joey. Além de atuações e trejeitos muito parecidos, suas histórias são praticamente as mesmas.

seis pessoas negras
Elenco de 'Living Single' em imagem promocional da série - IMDb/Divulgação

Talvez você ainda não acredite que seja uma cópia. Mas, ao ser questionado sobre que produção gostaria de ver na NBC, canal que exibiu "Friends", Warren Littlefield, vice-presidente da emissora, respondeu “'Living Single', da FOX”.

É com se o Littlefield tivesse dito a seus roteiristas “copia, mas não faz igual”. Por isso vemos em "Friends" seis amigos brancos, muitas vezes encenando atitudes misóginas, como nos episódios em que Ross não deixa o filho brincar com boneca, transfóbicas, como quando descobrem que o pai de Chandler é uma mulher transexual e fazem disso uma grande chacota, e homofóbicas, como no momento em que os personagens de Carol —ex-mulher de Ross— e a namorada, Susan, decidem se casar e o roteiro retrata a ocasião como algo pejorativo. Além das diversas reproduções racistas.

Um ano antes de tudo isso, "Living Single" já discutia o racismo, o machismo e a gordofobia, além de ser uma série feita por seis negros com problemas normais, do cotidiano, sem estereótipos.

Por isso, quando um amigo me pergunta “como assim você não gosta de 'Friends'?”, eu só respondo “amigo, eu sou negro!”.

Elenco de 'Friends' em imagem promocional da série - Reprodução

A conclusão é que o que "Friends" tem de legal é ser uma cópia descarada de "Living Single", e o que a torna diferente de sua antecessora é o que a deixa ruim.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.