Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Luciana Coelho
Descrição de chapéu Maratona

Episódio de reencontro de 'Friends' causou alvoroço, mas será que vale a pena?

Maior sucesso da virada do milênio pertence a outra era, e promessa de novo episódio assusta

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A notícia de que o elenco de "Friends" iria, finalmente, gravar um episódio de reencontro 17 anos após o encerramento da derradeira temporada provocou alvoroço.

Baixada a poeira, cabe uma pergunta: queremos mesmo uma retomada da série, ainda que resumida em um breve encontro do sexteto?

A história, até agora, ensina que não (OK, sempre é possível surpreender).

E quanto mais marcante uma série é de determinado período de tempo menor a probabilidade de ela voltar à tona com o mesmo vigor.

O último episódio de "Friends" foi ao ar nos Estados Unidos em 6 de maio de 2004.

De acordo com o site Hollywood Reporter, no último dia 2, o reencontro seria gravado nesta semana que passou —não havia, até a publicação desta coluna, confirmação de que a filmagem já havia sido concluída, mas circularam fotos do set.

Comentários dos atores, cujas idades atuais variam entre 51 e 57 anos, dão a entender que eles comentarão a série, fora de seus alter egos ficcionais, e talvez façam algumas cenas que avancem no tempo dos personagens para hoje.

Mas qual o sentido de ver Ross (David Schwimmer), Rachel (Jennifer Aniston), Chandler (Matthew Perry), Monica (Courtney Cox), Joey (Matt LeBlanc) e Phoebe (Lisa Kudrow) envelhecidos num mundo pandêmico, cheio de nacionalismos, à beira da recessão se o que encantou o público lá atrás foi justamente a jovialidade e despreocupação com o mundo —e com os meios de sustento— do sexteto?

Se eles mantiverem essa jovialidade e despreocupação, será possível não parecerem um bando de adultos infantilizados com os olhos vidrados nos próprios umbigos?

Faria algum sentido uma turminha 100% branca e hétero em uma paisagem ficcional que foi multiplicada pelas plataformas de streaming e na qual felizmente a representatividade étnica e de orientação sexual é relevante e não relevada?

Muito difícil responder "sim" a essas perguntas, e o risco de manchar as memórias afetivas de uma geração toda ao transportar algo tão virada do milênio ao lúgubre cenário atual é imenso.

Isso difere de rever as reprises de "Friends", um divertimento leve e justo, com seu timing cômico perfeito e seus diálogos que influenciaram até a prosódia da época.

"Gilmore Girls" voltou sem o mesmo frescor. "Três É Demais", sucesso dos anos 1980, virou um desastre em sua versão com as protagonistas mirins amadurecidas, de 2016. "Barrados no Baile", hit noventista, não decolou 20 anos depois. Somente "O Quinteto", atualizada em sua versão 2020 para contemplar o drama dos imigrantes nos Estados Unidos, mostrou propósito.

Mas a "Friends" caberia o que? Rachel virar ativista social? Joey se descobrir transexual? Ross, embora seja um paleontólogo, encontrar a cura para a Covid? Ou Monica e Chandler estarem desempregados e morando na rua com os filhos? E Phoebe? Aderiu ao QAnon, o grupo que cria teorias conspiratórias, invade o Congresso e mata policiais?

Há coisas que não viajam bem no tempo.

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