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'Alex Kidd', game que era atração de Gugu no SBT, volta e decepciona

Mascote do Master System que marcou a história do videogame no Brasil retorna com visual recauchutado

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Alex Kidd

  • Preço De R$ 64,99 a R$ 101,95
  • Estúdio Jankenteam
  • Plataformas PC, Xbox One, Xbox Series S|X, PlayStation 5, PlayStation 4, Switch

O menino-macaco-lutador Alex Kidd voltou em um novo jogo, o que despertará lembranças nos millennials brasileiros.

Alex Kidd era o garoto-propaganda da fase áurea do Master System, console popular no país entre o final dos anos 1980 e começo dos 1990. Ele chegou a ser uma atração das tardes de domingo do SBT em 1993. Em um misto de sonho com tecnologia arrojada, o apresentador Gugu Liberato teletransportava crianças para dentro do game.

O truque era feito por meio de chroma key, pano de fundo verde no qual é possível inserir imagens nas filmagens. Os participantes do programa Play Game tinham como tarefa final entrar no game “Alex Kidd in Miracle World”, tomando o lugar do protagonista.

O jogo vinha na memória do Master System II. Se hoje qualquer celular meia-boca conta com softwares instalados, para a época o fato de um game não precisar de cartucho parecia bruxaria.

A empresa brasileira representava a japonesa Sega, que tentava no plano mundial destronar aquele encanador bigodudo comedor de cogumelos da Nintendo. A Sega só conseguiria incomodar a concorrente com seu mascote seguinte, Sonic, lançado em 1991.

À sombra do ouriço azul, Alex Kidd e a meia dúzia de jogos que protagonizara foram esquecidos. Em 2001, a Sega lançou “Segagaga”, cheio de autorreferências e indiretas para a indústria do videogame. Alex Kidd faz uma participação em que revela sua mágoa e falta de perspectiva.

Projeto iniciado por fãs do estúdio Jankenteam, “Alex Kidd in Miracle World DX” ganhou a bênção oficial da Sega. O novo título oferece uma escandalosa recauchutada estética de alta definição no game que apresentou Alex Kidd ao mundo. As animações fluem, destacam as peculiaridades do personagem.

Trata-se de um garoto com traços simiescos que manda às favas as proporções do Homem Vitruviano. O punho fechado tem mais ou menos o mesmo tamanho de sua cabeça. É capaz de esmigalhar pedras com um soco, tal qual Bruce Lee.

Alguns inimigos, porém, preferem resolver as disputas de maneira civilizada. Ao invés da pancadaria, disputam uma melhor de três de “jokenpô”, conhecido por aqui como “pedra, papel ou tesoura”.
A dieta de Alex se baseia no prato japonês oniguiri, que consiste em um montinho de arroz envolto de uma folha de nori, a mesma alga utilizada nos sushis. Nos Estados Unidos, Kidd trocava o cardápio, preferia suculentos hambúrgueres.

“Alex Kidd in Miracle World DX” dá ao jogador o poder de decidir a comida da vez. Se isso soa sem graça ou irrelevante, é porque… bem, é isso mesmo.

A nova versão sacrifica o potencial popular de Alex Kidd em favor da fidelidade nostálgica. O remake ignora as evoluções de jogabilidade, escancarando que por trás da bela maquiagem está um jogo de 1986. Um Matusalém para os padrões do videogame.

Portanto, esqueça “Ori and the Blind Forest”, “The Messenger”, “Celeste” e outras inovações dentro do gênero de plataforma.

De forma atabalhoada, esse anacronismo autêntico do novo “Alex Kidd” acaba por trazer originalidade ao ritmo do jogo. Os elementos na tela são lentos e o socão tem curto alcance. A física estranha e o controle exigente fazem uma mistura estranha, um oniguiri dentro do hamburguer.

Se já parece indigesto, a inconsistência de algumas regras testam a paciência. Tocar em espinhos mata, exceto se encostarem o herói de cima para baixo na água. Pois é, essa especificidade esquisita é importante em um momento, apesar de o jogo jamais deixar isso claro.

Alex Kidd foi concebido em uma era em que as revistas de videogame ensinavam truques e macetes. Assim, as publicações vendiam mais exemplares ao mesmo tempo em que divulgavam o jogo. Hoje são os youtubers que agradecerão pela audiência legada pelos desenvolvedores da Jankenteam.

Nem tudo é áspero. Há algumas facilidades, como um modo de vidas infinitas e a possibilidade de salvar a partida -- básico, porém inimaginável há 35 anos.

Os desenvolvedores decidiram priorizar os fãs antigos. Ao toque de um botão, o game volta a ter a cara de Master System. As atualizações de “Halo: Combat Evolved” trouxeram esse efeito, mas o salto temporal de três décadas e meia é ainda mais impactante.

Ou seja, o novo “Alex Kidd” mostra que tinha capacidade e possibilidade para uma atualização mais profunda. Faltou ambição.

Enquanto isso, o SBT renova sua participação no mundo dos games com programas na Twitch e YouTube. Olhe e aprenda com o dono do baú, Alex.

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