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Renato Terra

Cristiano Ronaldo ganha paródia surrealista no longa 'Diamantino'

Filme, que está no Telecine Play, tem olhar narrativo pitoresco e protagonista que é um Michelangelo dos campos

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Num estádio lotado, Portugal vai empatando com o Chile. Estamos no último minuto do jogo. O jogador Diamantino desliza pelo campo com gestos largos e traços apolíneos. A bola chega a seus pés.

Em off, Diamantino narra: “Acho que algo maravilhoso acontecia quando eu jogava. Algo assim, tipo transcendental. Tudo se fundia. O gramado, os fãs. E era só eu. Eu e os cachorrinhos felupudos”.

Nesse momento, como num transe, uma névoa rosa invade o gramado e Diamantino passa driblar cachorrinhos... e faz o golaço da vitória.

Quem entrar no clima dessa cena inicial vai desfrutar de “Diamantino”. Dirigido por Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt —e coproduzido por Portugal, França e Brasil—, o filme carrega nas tintas surrealistas para fazer uma divertida paródia contemporânea. Mistura sonhos, cores, ficção científica, crítica social, ironia e o resultado é muito engraçado. Abrantes define “Diamantino” como “uma versão barata de um James Bond português”.

Eis a sinopse: “Diamantino é considerado o melhor jogador de futebol do mundo. Mas, após perder um importante gol, fica traumatizado e todo seu talento em campo desaparece. Nesse momento, ele decide adotar uma criança refugiada, enquanto é submetido por suas irmãs a uma série de testes genéticos. Premiado em duas categorias do Festival de Cannes [Grande Prêmio da Semana da Crítica e o Palme Dog, uma láurea paralela que premia a melhor atuação canina].”

A graça é acompanhar tudo isso pelo olhar pitoresco de Diamantino. O filme é narrado por ele. É ele quem dá liga à colagem de assuntos proposta pelos diretores. Interpretado por Carloto Cotta, Diamantino é o Michelangelo dos gramados.

Fora de campo, é uma criança ingênua que se deixa manipular pelas irmãs, pela criança adotiva e pelo governo português. Seu olhar perdido, seu acentuado sotaque micaelenese e sua beleza atlética compõem uma caricatura divertida de Cristiano Ronaldo.

Trata-se de uma crônica, claro, que carrega nas tintas ficcionais para fazer uma crítica sobre a roda-viva que cerca o mundo das super celebridades do século 21. Sobram comentários inteligentes sobre o Brexit, sobre as crises migratórias e sobre os dilemas portugueses entre a modernidade e a tradição.

Em entrevista para o site Adoro Cinema, Daniel Schmidt explicou: “O filme que fizemos, que se passa em Portugal, é como um conto de fadas do século 21, sobre um super-herói cujo poder é sua ingenuidade, e essa ingenuidade e inocência o ajudam a lidar de maneira linda e surpreendente com a realidade assustadora de hoje, que inclui lavagem de dinheiro, modificações genéticas, crise dos refugiados, Brexit e ascensão do fascismo”.

O diretor Gabriel Abrantes, que também é artista plástico, disse à revista GQ: “A maior influência foi o South Park, que consegue ter uma crítica social muito ácida e muito aguda, ao mesmo tempo que é parvo e cómico, e fala de imensa coisa. Num episódio de 20 minutos fala-se do Trump, do Michael Jackson, de sete mil coisas diferentes, e a ligação entre tudo é ter piada”.

O resultado, portanto, não é nada complexo. “Diamantino” é uma comédia que surpreende pelo tom, mas corre em uma linha que não exige malabarismos do espectador para ser compreendida.

Faixas extras

  • Os Talentos de Diamantino: Um Olhar Sobre o Filme
  • Entrevista com os Diretores em Cannes
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