Descrição de chapéu
Renato Terra

'A Espera', com Juliette Binoche, retrata luto de forma sóbria e delicada

Filme, dirigido por Piero Messina, se desenvolve em torno da ausência sem perder a elegância

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Em “A Espera”, a sugestão tem mais força do que as palavras. Tudo o que não é dito tem mais potência. Desde a primeira cena, a atmosfera do luto toma conta das cenas e das personagens. Anna, interpretada por Juliette Binoche, recebe a visita de Jeanne —papel de Lou de Laâge—, noiva de seu filho Giuseppe. Uma nova relação é construída entre silêncios delicados, pausas cerimoniosas e hesitações.

É delicada a maneira como o diretor Piero Messina constrói o velório que acontece no início do filme. Em silêncio, uma idosa vestida de preto se aproxima de uma imagem de Jesus Cristo e beija seus pés.

Em seguida, uma fila de pessoas com o olhar baixo se forma diante de Anna. O caixão só é mostrado de longe, num plano que revela a imponência da igreja onde o velório acontece. A câmera desce suavemente para revelar um fio de urina que escorre pelas pernas de Anna.

A primeira palavra é dita quase aos oito minutos, quando o telefone toca. “Alô. Não, ele não está”, diz Anna. E depois consente com vinda de Jeanne. “Pode vir, estou esperando.”

Logo que chega, Jeanne pergunta diversas vezes por Giuseppe e recebe olhares vazios como resposta. Mais adiante, Anna diz que o velório foi de seu irmão e que Giuseppe chegará na Páscoa. A relação entre Anna e Jeanne vai construindo em cima da ausência de Giuseppe. Aos poucos, a solenidade do luto vai se dissipando.

Duas mulheres brancas sentadas frente a frente conversam numa mesa
Cena de 'A Espera', filme dirigido por Piero Messina, - Divulgação

“Elas precisam uma da outra para compreender o ser que se foi, para negar sua morte ou, talvez, para completar seu luto. É como um triângulo amoroso com um vértice desaparecido”, escreveu Ricardo Calil em sua crítica, publicada neste jornal, em 2017.

Ou, como A. O. Scott escreveu no New York Times, “‘A Espera’ é um elegante melodrama de luto materno com tons de terror, uma pegada mais psicológica do que sobrenatural". "Passado na Sicília por volta da Páscoa, o filme compartilha livremente imagens religiosas para adicionar gravidade e mistério à sua história doméstica de perda, desejo e engano. A paisagem —rocha vulcânica e florestas tranquilas ao redor de um lago cintilante— é capturada em tomadas longas e amplas, uma beleza superada apenas por closes das duas atrizes principais, Juliette Binoche e Lou de Laâge.”

Numa das entrevistas de divulgação do filme, Juliette Binoche disse que “o inconsciente está deslocado do tempo". "As palavras às vezes saem inconscientes e você não sabe por que está fazendo determinada coisa. Quando Anna pega o telefone e consente com a vinda de Jeanne, ela está relacionando a chegada dela com a necessidade de ver seu filho.”

A relação que se estabelece é frágil e precisa ser alimentada por esse mistério. E o filme constrói muitas ambiguidades a partir daí. Quem embarcar na atmosfera sóbria e delicada proposta pelo diretor Piero Messina vai se comover com as mudanças de tom.

“A Espera” está disponível para assinantes do Globoplay e para compra na Apple TV, no Now e no Google Play.

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