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Incêndio na Cinemateca é tema de manifestos globais que criticam Bolsonaro

Entidades internacionais publicam notas de repúdio ao governo federal e o acusam de descaso com a instituição

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São Paulo

Desde o incêndio ocorrido num depósito da Cinemateca Brasileira na semana passada, uma série de entidades internacionais do setor de cinema têm publicado notas de apoio aos profissionais da instituição e com críticas ao governo federal brasileiro.

Nesta terça (3), a Associação de Cinematecas Europeias publicou um texto comentando a demissão em massa dos funcionários da Cinemateca Brasileira, ocorrida no ano passado, e responsabilizando o governo Bolsonaro pelo fogo que danificou os materiais da unidade da Vila Leopoldina.

"Desde junho de 2020, representantes de várias instituições do patrimônio cinematográfico europeu e munidial expressam preocupação em relação ao futuro desta respeitada instituição. A administração e os funcionários da Cinemateca são os últimos a serem considerados responsáveis ​​por este desastre", afirma a nota.

"O governo federal tem tratado a Cinemateca com tanto desprezo que em 2020 a instituição morreu de fome, com fundos congelados, funcionários não pagos e demitidos, atividades paralisadas."

O Comitê Regional da América Latina e do Caribe do programa Memória do Mundo da UNESCO (MoWLAC) também se manifestou nesta terça lamentando a tragédia, sobre cujo risco a entidade já havia emitido um alerta em outubro de 2020.

"A MoWLAC deseja que este incidente constitua um ponto de inflexão para reverter riscos, conforme expresso na Recomendação da UNESCO sobre o patrimônio documental (2015) : 'Os Estados membros devem adotar todas as medidas necessárias para salvaguardar seu patrimônio documental de qualquer perigo humano e natural para qual está exposto'”, aponta o texto.

Na sexta (30), a Fiaf (Federação Internacional de Arquivos de Filmes, na sigla em inglês) definiu o incêndio como uma catástrofe para o cinema mundial.

"Enquanto nós não sabemos a extensão total dos danos, é provável que a catástrofe tenha causado a perda de quantidades significativas de filmes e outros artefatos culturais importantes da Cinemateca Brasileira, um dos mais antigos e respeitados membros da nossa rede global e um guardião essencial do rico patrimônio cinematográfico do Brasil", diz a nota da Fiaf.

Ainda na sexta, o Instituto Lumière, que reúne acervo de filmes de diversas partes do mundo, disse que o acontecimento representa um símbolo "da terrível gestão cultural" existente no país.

"É mais um desastre sofrido pela Cinemateca em vários anos, após quatro incêndios e uma enchente", diz a nota. "A maior dificuldade, no entanto, são as condições impostas pelo atual governo brasileiro."

A publicação do Lumière destacou ainda o fato de que desde julho do ano passado o Ministério Público Federal fez vários alertas sobre o risco de incêndio na instituição.

Os 950 membros do Conselho da Associação de Arquivistas de Imagens em Movimento também se manifestaram sobre o ocorrido.

Segundo eles, os ex-profissionais da Cinemateca, demitidos em meio à crescente crise institucional, "defendem incansavelmente o patrimônio cultural" do país e deveriam voltar aos seus cargos.

Além de entidades, algumas organizações de eventos internacionais de cinema também se pronunciaram, como o Festival de Locarno, da Suíça. "O patrimônio audiovisual brasileiro não pode mais esperar. Exigimos uma resolução imediata", diz um post no Twitter.

O incêndio teria começado durante a manutenção, por parte de uma empresa terceirizada, no ar-condicionado de uma sala no primeiro andar do imóvel. Ela e outra sala adjacente, que abrigam o acervo histórico de filmes da entidade, foram atingidas, bem como um terceiro ambiente dedicado a arquivos impressos.

O prédio em questão não é a sede principal da Cinemateca, que fica na Vila Clementino, na zona sul da capital paulista. Mas o depósito atingido pelas chamas também abriga parte importante de seu acervo, como filmes de 35 mm e 16 mm, feitos de material altamente inflamável. Eles seriam cópias para exibição, não os rolos originais, que ficam em outro local.

Além deles, também ficam guardados ali o acervo da Programadora Brasil —iniciativa do antigo Ministério da Cultura para exibição de conteúdo em circuitos não comerciais—, equipamentos museológicos, como projetores antigos, e documentos, incluindo quatro toneladas de arquivos sobre políticas públicas para o audiovisual, recentemente transferidas do Rio de Janeiro.

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