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'Mr. Corman', de Joseph Gordon-Levitt, ousa mais com a sua honestidade

Série do Apple TV+ mistura estilos para refletir as angústias da vida adulta

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Mr. Corman

  • Onde Disponível no Apple TV+
  • Elenco Joseph Gordon-Levitt, Arturo Castro e Juno Temple
  • Produção EUA, 2021
  • Criação Joseph Gordon-Levitt

“Mr. Corman” tem alguns assuntos centrais. São eles, não necessariamente nesta ordem, sonhos perdidos, desilusão amorosa, angústia existencial e o constante perigo que corremos de afundar em uma depressão. Mas, ao contrário do que essa lista pode fazer parecer, essa é uma série ágil e criativa, que, se não vai fazer o telespectador gargalhar, certamente vai fazer sorrir.

Joseph Gordon-Levitt é o criador de “Mr. Corman”. Também escreveu e dirigiu quase todos os episódios, interpreta o personagem principal e ainda assina como produtor-executivo. Essa é a série dele, que representa tudo que o ator aprendeu e teve vontade de mostrar até agora, aos 40 anos. Não é pouca coisa.

Gordon-Levitt estreou como ator no cinema aos 11 anos, no filme “Nada É para Sempre”, de 1992, dirigido por Robert Redford. Mas ficou conhecido aos 15, na série cômica “3rd Rock from the Sun”, levada ao ar de 1996 a 2001. Desde então, fez vários outros longas, como “500 Dias Com Ela”, de 2009, “A Origem”, de 2010, “Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, de 2012, e “Snowden - Herói ou Traidor?”, de 2016.

Agora, ele parece ter parado na frente do espelho e pensado como seria se nada disso tivesse acontecido. O resultado poderia ser esse personagem, Josh Corman, um professor de quinta série de uma escola pública, que passou a adolescência e a juventude apostando que seria músico, mas descobriu que não era tão bom quanto precisaria ser para viver disso.

Quando desiste do sonho, perde também a namorada, Megan, papel de Juno Temple, que nos quatro primeiros episódios só aparece em uma lembrança. Agora, Josh divide um apartamento quase vazio com um amigo recém-divorciado de origem latina, Victor, interpretado por Arturo Castro —ator e roteirista de “Broad City”—, motorista de uma empresa de entrega de pacotes. Os dois passam a maioria das noites jogando videogames na TV da sala, quase sem conversar.

Uma noite, Josh decide que a vida não pode ser só aquilo e vai a um bar tentar conhecer alguém e, quem sabe, se apaixonar, ou pelo menos ir com a cara. O encontro acontece, mas começa e termina das piores maneiras possíveis. A sorte não parece estar do lado dele, que além de tudo passa a sofrer ataques de ansiedade, retratados de uma maneira tão realista, e com uma sonorização tão infernal que quase provoca a mesma reação em quem está do lado de cá da tela da TV.

Mas a insolência está do lado de Gordon-Levitt, que corta a narrativa de seu personagem com cenas de realismo fantástico, números musicais e até um episódio inteiro dedicado ao seu companheiro de apartamento, Victor. Esse, aliás, é um dos pontos altos da série até aqui. A história de Victor é tão cheia de nuances e momentos tocantes que dá vontade de ver um spin-off só com ele, sua filha adolescente e sua ex-mulher.

A relação entre Josh e sua mãe, papel de Debra Winger, é outro acerto. Os dois têm uma relação ultra próxima em alguns aspectos e estranhamente distante em outros. Por exemplo, o desfecho trágico da noite de Josh com a menina do bar é contado a sua mãe com todos os detalhes anatômicos. Por outro lado, ele descobre por acaso que sua mãe tem um namorado há um ano, que ele não tinha ideia.

As coisas são meio assim mesmo com Josh Corman —as pessoas, as ideias, os lugares vêm e vão na vida dele, nada é estável. Só a convivência com Victor, que apesar de ser um ótimo personagem e um grande amigo, não parece ser a pessoa com quem o protagonista gostaria de passar todas as noites.

Josh simplesmente não é quem planejou ser. Parece um problema comum?

E é. Mas o roteiro dessa série que mistura drama e comédia é tão salpicado de momentos inesperados e brilhantes que faz a história toda ficar muito interessante. A vida do protagonista, pelo menos até o quarto episódio, parece ser uma grande decepção. Mas também é divertida e encantadora, estranha e atraente. Apesar de toda a pirotecnia do roteiro, no fundo, no fundo, a maior ousadia de “Mr. Corman” é ser honesta.

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