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JK Rowling escreve conto de Natal cativante com final pouco comovente

Novo livro da autora de 'Harry Potter', que lembra 'Toy Story', impressiona pela criatividade, mas é extenso demais

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Ribeirão Preto

Jack e o Porquinho de Natal

  • Quando Lançamento mundial em 12 de outubro
  • Preço R$ 59,90 (320 págs.)
  • Autoria J.K. Rowling
  • Editora Rocco
  • Tradução Ryta Vinagre

Para onde vai tudo que perdemos e nunca encontramos? Este é o questionamento que guia a criação de “Jack e o Porquinho de Natal”, o novo livro infantil de J.K. Rowling, lançado neste Dia das Crianças.

O romance acompanha Jack, um garoto de sete anos que perde O Poto, seu porquinho de pelúcia, durante uma briga com a meia-irmã, que atira o brinquedo na estrada pelo vidro do carro.

Jack ganha de Natal outro porquinho, mas não o aceita. É então que, como num passe de mágica, o substituto, cansado de ser rejeitado, ganha vida e decide levar o garoto à Terra das Coisas Perdidas, de onde poderá resgatar O Poto.

Na obra, Rowling constrói uma galeria de personagens e situações que lembram uma mistura de “Toy Story" com “Divertida Mente”, da Pixar, mas sem deixar de ser original. A autora, afinal, já mostrou em “Harry Potter” que o que não falta a ela é criatividade.

Impressiona a maneira como Rowling consegue transformar uma vasta quantidade de objetos inanimados em personagens com múltiplas camadas, construídos a partir de histórias de vida, motivações e linguajares próprios.

É cativante para uma criança, e engraçado para os seus pais, ler sobre Poema, uma folha de papel que só conversa por meio de versos e rimas, ou ver Genda, uma agenda telefônica que fez excursões pelo reino para se sentir mais importante do que é só porque tem muitos contatos.

É nessa mesma riqueza criativa, porém, que Rowling se perde. Cada detalhe é descrito à exaustão, de modo que não há lacunas para que o leitor possa preencher e criar interpretações visuais próprias.

O excesso de descrição tem caracterizado seus últimos romances, cada vez mais longos. Em “Branco Letal”, o penúltimo da série "Cormoran Strike", escrito sob pseudônimo de Robert Galbraith, uma mesma parede do Parlamento britânico é descrita três vezes de maneiras diferentes.

Embora não chegue a esse ponto em “Jack e o Porquinho de Natal”, o exagero descritivo prejudica este mais do que outros de seus livros, devido à extensão maior até do que os dois primeiros volumes de “Harry Potter”.

A extensão, em si, não deveria ser um critério para dizer o que serve ou não como leitura infantil. Basta lembrar que tamanho foi a principal justificativa usada pelos dez editores que recusaram “Harry Potter”.

Mas “Jack e o Porquinho de Natal” não é “Harry Potter”. É um livro indicado para crianças a partir de oito anos, que, preferencialmente, diz Rowling, deve ser lido em voz alta pelos pais à beira da cama.

Se os pais lerem, digamos, dois capítulos por noite, atravessar o livro levará cerca de um mês, o que, numa obra de capítulos curtos, que terminam com ganchos, pode tirar força da narrativa.

A estrutura do livro segue a convenção do conto moral natalino, gênero consagrado por Charles Dickens, de quem Rowling é fã, em “Um Conto de Natal”.

Nos contos morais —sejam natalinos, fábulas ou apólogos—, os personagens aprendem uma lição ao fim da história e, em alguns casos, como no de Dickens, passam por uma transformação.

Jack até aprende sua lição —sem revelar o enredo, dá para dizer que ela gira em torno da importância do amor, algo comum à obra de Rowling. Mas ela não é tão forte quanto poderia, deixando a impressão de que, se houvesse uma edição mais cuidadosa, o livro poderia se sair bem melhor —a ideia, afinal, é boa.

Ainda assim, “Jack e o Porquinho de Natal” não deixa de ser divertido e espirituoso, além de perpassar discussões sobre valores e princípios que os pais certamente gostarão de ter com seus filhos enquanto acompanham a leitura.

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