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Cinema

'Querido Evan Hansen' no cinema perde toda a magia da Broadway

Adaptação de musical de sucesso merecia um filme melhor, que repercutisse a ousadia da montagem teatral

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Querido Evan Hansen

  • Quando Estreia nesta quinta (11)
  • Onde Nos cinemas
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Ben Platt, Julianne Moore, Kaitlyn Dever
  • Produção EUA, 2021
  • Direção Stephen Chbosky

Se você leu uma linha sobre "Querido Evan Hansen", o filme, já sabe que a internet caiu matando porque o ator principal, Ben Platt —protagonista de "The Politician", a série de Ryan Murphy na Netflix—, o mesmo que fazia a versão na Broadway e era venerado, foi execrado por ser muito velho quando protagonizou a versão filmada. Tinha 27 anos, tem 28 agora.

E seu personagem, o Evan Hansen do título, é um adolescente de 15 ou 16 anos que cursa o ensino médio, a temida "high school", experiência de vida que parece deixar marcas psicológicas profundas nos americanos.

cena de filme
Ben Platt e Kaitlyn Dever em cena do filme 'Querido Evan Hansen', dirigido por Stephen Chbosky - Divulgação

Vi a peça na Broadway em 2017 e agora o filme. E, como a maioria dos críticos que também assistiram às duas versões, concordo que o filme merece lugar na longa lista de adaptações cinematográficas de peças de sucesso que não tiveram o mesmo êxito.

Mas não acredito que Ben Platt seja o culpado. O ator reprisa a força da atuação que apresentava nos palcos e ainda tem a mesma voz única, de alcance enorme, que tinha quando encarnava ao vivo os tormentos de Evan Hansen. E não parece um "velho" ridículo de 27 anos imitando um adolescente. É um bom ator, convence.

É que no teatro, a trama, de alguma maneira, parecia mais verossímil. Chego a ela em segundos. E a trilha não soava tão desconjuntada da história contada. Na versão para as telas, algo se perdeu.

A peça era um prodígio de tecnologia. Como uma parte da história se passa em redes sociais, a chuva de likes que uma postagem recebia quando viralizava parecia acontecer ali, em luzes e sons que surgiam de repente e transportavam a plateia para um universo digital imaginário. Era tudo muito moderno.

O filme não. Essa ousadia da montagem teatral não foi levada para a versão longa-metragem e o resultado é que "Querido Evan Hansen" foi tanto engolido quanto exposto pela tela de cinema. Os cenários são banais, os figurinos, normais, as cenas zero impactantes, na grande maioria das vezes. Não tem nada inovador em termos de cinema.

Talvez por isso fique evidente que a quantidade de músicas cantadas pelo elenco é exagerada, e, além de tudo, elas parecem pop demais para uma história de um garoto depressivo que tira vantagem do suicídio de um colega da escola.

Evan Hansen é um garoto ultra-ansioso que recebe uma missão de seu psicanalista para lidar melhor com esse monstro americano que é a experiência do ensino médio. Todos os dias, ele deve escrever uma carta para si mesmo que começa com "querido Evan Hansen", e depois listar os motivos pelos quais aquele vai ser um dia bom.

Mas, uma tarde, na biblioteca da escola, num dia especialmente ruim, ele escreve uma carta em que lista por que aquele não está sendo um dia bom, nem um ano bom, assim como nenhum outro dia ou ano jamais serão. Mais adiante, escreve que se pelo menos a Zoe, uma garota da escola por quem ele é secretamente apaixonado, prestasse alguma atenção nele, a vida poderia fazer algum sentido. E assina "atenciosamente, eu".

Sem querer, aperta o botão para imprimir e, quando a carta aparece na impressora da biblioteca, é pega por Connor, um aluno esquisitão, que também não tem amigos e se veste como um skatista punk dos anos 1980, com as unhas pintadas de preto.

Connor é irmão de Zoe, a menina mencionada, e quando lê o nome dela fica ainda mais irritado do que já estava e sai correndo com a carta na mão, para desespero de Evan, que teme que o valentão poste em uma rede social e ele seja ridicularizado —ou mesmo notado— pelo resto dos alunos.

No dia seguinte, Evan é chamado pelo diretor da escola. A mãe e o padrasto de Connor estão lá e querem falar com ele. Em pânico, Evan vai ao encontro de um casal em desespero. Contam que Connor se suicidou na noite anterior sem dar nenhuma explicação, e a única pista para descobrir o que o filho estava passando era a carta que encontraram junto com o corpo, escrita para o "querido Evan Hansen".

O único ator a reprisar seu papel na versão filmada é o protagonista. Sua mãe, desta vez, é interpretada por Julianne Moore, que canta em um longa pela primeira vez. É só uma música, e é o ponto alto de uma interpretação sem brilho. Já a mãe do menino morto é papel de Amy Adams, com bastante experiência em musicais, mas que não tem muito o que fazer nessa história, além de parecer uma bondosa mulher rica sem muito assunto.

O musical da Broadway, que entrou em cartaz no final de 2016, foi um fenômeno de público, especialmente entre adolescentes, que não são vistos com muita frequência nas plateias dos teatros americanos. Para começar, os ingressos caros afastam os muito jovens. E, tradicionalmente, ir a musicais da Broadway é um programa de pessoas mais velhas.

Isso está mudando nas últimas décadas, e fenômenos como "The Book of Mormom", "Hamilton", "Em um Bairro de Nova York", entre outros, têm atraído gente mais jovem. Mas nenhum desses foi como "Querido Evan Hansen", que formava filas gigantes de adolescentes alvoroçados na calçada do Music Box Theatre, em Nova York. Foi esse público o responsável por botar o álbum da peça, gravado em 2017, entre os top dez da lista da Billboard.

Esse pessoal merecia um filme melhor que este. Assim como esse grande ator.

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