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Cinema teve dificuldades de transpor para a tela verve de Philip Roth

'Revelações', com Anthony Hopkins e Nicole Kidman, foi sua adaptação mais marcante

Cena de Revelações com Anthony Hopkins e Nicole Kidman
Cena de 'Revelações' (2003) com Anthony Hopkins e Nicole Kidman - Divulgação
Sérgio Alpendre

No cinema, as obras literárias de Philip Roth —que morreu neste 22 de maio de insuficiência cardíaca —não encontraram as melhores transposições. A começar por "Paixão de Primavera" (1969), de Larry Peerce, baseada em "Adeus Columbus" e com Ali MacGraw e Richard Benjamin no elenco.

Não há muito o que dizer sobre essa primeira adaptação de um livro de Roth, o que infelizmente seria um padrão para as seguintes.

A que isso se deve? Provavelmente à dificuldade de transpor para outra linguagem a verve crítica e pessoal do escritor. Por vezes, isso acontece. Ítalo Calvino, por exemplo, é outro escritor quase impossível de ser adaptado. Don DeLillo também. Ou ainda, J.D. Salinger.

O desafio, contudo, tem atraído cada vez mais diretores. Das sete adaptações de Roth para o cinema, cinco são deste século. Três desta década. Duas delas, lançadas em 2016. Vamos a elas.

A memória conta como simpático "O Complexo de Portnoy" (1972), único filme dirigido por Ernest Lehman, escritor e roteirista de "Sabrina" (1954) e "O Rei e Eu" (1956). Tem Richard Benjamin, de novo, e Karen Black no elenco. Mas ressalte-se que as críticas na época foram terríveis, e o filme estava esquecido.

Somente após 31 anos o cinema tenta novamente traduzir a obra de Roth (nesse período, apenas um filme para a TV: "The Ghost Writer", de 1984 —não confundir com "O Escritor Fantasma", de Roman Polanski, inspirado em obra de Robert Harris.

É em 2003 que surge aquele que pode ser considerado o mais impactante dos filmes baseados em sua obra: "Revelações", de Robert Benton, com Anthony Hopkins e Nicole Kidman.

Benton tinha experiência como roteirista importante para a chamada nova Hollywood ("Bonnie e Clyde", "Essa Pequena É uma Parada") e dirigiu alguns filmes admiráveis ("Má Companhia", "Kramer vs Kramer"). Mas se "Revelações" for mesmo a melhor adaptação de Roth para o cinema, como muitos defendem, está provada a dificuldade de entrar no imaginário do autor.

"Fatal" (2008), não está entre os melhores trabalhos da irregular diretora catalã Isabel Coixet. "O Último Ato" (2014) flagra um diretor, Barry Levinson, engessado, e o mesmo acontece com seu principal ator, Al Pacino.

"Indignação" (2016) é um filme plenamente esquecível de James Schamus, e "Pastoral Americana", adaptação que marca a estreia em longas do ator Ewan McGregor como diretor, é correta, mas longe de ser especial.

O problema talvez seja esse. Dos sete filmes, nenhum pode ser verdadeiramente chamado de bom ou ruim. Estão todos dentro das sutis graduações entre o mediano e o razoável. Não deve haver injustiça maior para um autor do porte de Philip Roth.

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