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Globo de Ouro 2022: quem quer ir a uma 'premiação podre'?

Uma das principais cerimônias do audiovisual, ela tem sofrido boicotes após casos de suborno e falta de representatividade

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Há eventos de trabalho aos quais vamos por um senso de obrigação, porque há coisas importantes envolvidas. E outros que provavelmente não vão agregar muita coisa, mas são animados e divertidos. No mundo das celebridades hollywoodianas, o Globo de Ouro caminhava cada vez mais para o segundo tipo.

Ao anunciar seus indicados nesta segunda, a premiação parece estar finalmente consolidada como uma cerimônia a não ser levada a sério. Isso porque 2021 foi um ano especialmente terrível para a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, que entrega as estatuetas, recheado de polêmicas que minaram a credibilidade da instituição.

Elas foram tão escandalosas que o Globo de Ouro perdeu até mesmo seu contrato de exibição com a emissora americana NBC, e ainda não está claro como a edição do ano que vem vai acontecer –se haverá, por exemplo, uma transmissão pela internet ou se uma lista com os vencedores será enviada às caixas de email de jornais e portais de notícia.

Fazia muito tempo que a Associação de Imprensa Estrangeira estava sob escrutínio público. Polêmicas envolvendo as escolhas para o prêmio e as relações escusas de seus membros com os estúdios de cinema e TV já eram comuns havia anos.

Nem mesmo as celebridades levavam o Globo de Ouro tão a sério. Muita gente acompanhava a cerimônia simplesmente para ver as estrelas em momentos de descontração ou perdendo a linha com o álcool.

Em 2014, Emma Thompson apresentou uma categoria com um martini numa mão e os sapatos em outra, por exemplo. Jack Nicholson admitiu estar meio lento por ter tomado um Valium antes de receber uma estatueta em 2003. E Renée Zellweger estava no banheiro quando anunciaram que ela havia vencido como melhor atriz em comédia ou musical em 2001 –"tinha batom no meu dente", disse ela ao finalmente subir ao palco.

Mas cenas como essas não devem se repetir no dia 9 de janeiro, quando os vencedores da 79ª edição serão conhecidos. É até possível que haja celebridades declinando seus troféus logo após serem premiadas, tudo para não ter sua imagem associada à de uma organização acusada de suborno, racismo e clubismo.

Às vésperas da cerimônia deste ano, o jornal americano Los Angeles Times soltou uma bomba sobre Hollywood, numa ampla investigação que mostrou como os votantes do Globo de Ouro podem estar decidindo seus indicados a partir de presentinhos e viagens que ganham dos estúdios.

O maior exemplo disso foi "Emily em Paris", indicada a melhor série de comédia e a melhor atriz no gênero, apesar das duras críticas que recebeu. De acordo com o Times californiano, a aparição na lista seria explicada por uma viagem que levou 30 votantes do Globo de Ouro à capital francesa, para se hospedar num hotel de luxo e comparecer a jantares caríssimos.

Na esteira vieram lembranças de acusações passadas, envolvendo de relógios de grife embrulhados para presente a um show de Cher em Las Vegas. A isso se somou a revelação de que entre os menos de 90 membros da Associação de Imprensa Estrangeira não havia um único negro.

Houve uma reação instantânea nas redes sociais, com gente como Ava DuVernay e Scarlett Johansson pedindo mudanças urgentes. Tom Cruise chegou a devolver os três Globos de Ouro que venceu no passado à instituição.

"Nós estamos completamente comprometidos a garantir que nossos membros sejam um reflexo das comunidades ao redor do mundo que amam cinema e televisão, e dos artistas que os inspiram. Nós entendemos que precisamos trazer membros negros, assim como de outros perfis sub-representados, e vamos trabalhar imediatamente para implementar um plano de ação", disse a associação em fevereiro.

Em abril, um membro e ex-presidente do grupo encaminhou um email a seus colegas de Globo de Ouro rotulando o Black Lives Matter como um "movimento racista de ódio". Ele foi expulso, mas o estrago já estava feito, e Netflix, Amazon e WarnerMedia anunciaram que boicotariam a premiação até que mudanças significativas fossem implementadas.

O Globo de Ouro agora tenta provar sua relevância num mundo que já não tolera situações como as que foram expostas. Tenta mostrar também que está reformulando suas diretrizes e seu colegiado –mas as manchas mais recentes dificilmente serão apagadas tão cedo.
Estatueta gigante do Globo de Ouro, parte da decoração da cerimônia de 2019 do prêmio - Robyn Beck/AFP

À revista especializada Entertainment Weekly, diversos relações-públicas e executivos de estúdios disseram em anonimato que "qualquer indicação ao Globo de Ouro hoje é vista como algo podre" e que a premiação no ano que vem é "absolutamente irrelevante".

Prevendo tal aversão, o prêmio até mudou suas regras e, para não correr o risco de os estúdios e celebridades não mandarem seus trabalhos para consideração, disse que na próxima edição qualquer filme e série poderá ganhar uma indicação –independentemente de querer ou não.

Enquanto tenta desesperadamente se reerguer, criou um novo climão em Hollywood –marcou sua cerimônia, e o anúncio de indicados de hoje, para os mesmos dias reservados pelo Critics Choice Awards.

Também decidido por uma associação de jornalistas –essa menos corruptível, com seus 500 membros– e responsável por ocupar uma das primeiras datas do calendário de premiações hollywoodiano, o prêmio é visto hoje como um forte concorrente a ocupar o vácuo deixado pelo Globo de Ouro, se tornando um dos principais termômetros da estatueta que mais importa em Los Angeles –o Oscar.

Veja os indicados

Cinema

Melhor filme (drama)

  • "Belfast", de Kenneth Branagh
  • "No Ritmo do Coração", de Sian Heder
  • "Duna", de Denis Villeneuve
  • "King Richard: Criando Campeãs", de Reinaldo Marcus Green
  • "Ataque dos Cães", de Jane Campion

Melhor filme (comédia ou musical)

  • "Cyrano", de Joe Wright
  • "Não Olhe para Cima", de Adam McKay
  • "Licorice Pizza", de Paul Thomas Anderson
  • "Tick, Tick… Boom!", de Lin-Manuel Miranda
  • "Amor, Sublime Amor", de Steven Spielberg

Melhor animação

  • "Encanto"
  • "Flee"
  • "Luca"
  • "My Sunny Maad"
  • "Raya e o Último Dragão"

Melhor roteiro

  • "Licorice Pizza"
  • "Belfast"
  • "Ataque dos Cães"
  • "Não Olhe para Cima"
  • "Being the Ricardos"

Melhor diretor

  • Kenneth Branagh, por "Belfast"
  • Jane Campion, por "Ataque dos Cães"
  • Maggie Gyllenhaal, por "The Lost Daughter"
  • Steven Spielberg, por "Amor, Sublime Amor"
  • Denis Villeneuve, por "Duna"

Melhor trilha sonora

  • "A Crônica Francesa"
  • "Encanto"
  • "Ataque dos Cães"
  • "Madres Paralelas"
  • "Duna" ​

Melhor canção original

  • "Be Alive", de "King Richard: Criando Campeãs"
  • "Dos Oruguitas", de "Encanto
  • "Down to Joy", de "Belfast"
  • "Here I Am (Singing My Way Home)", de "Respect: A História de Aretha Franklin"
  • "No Time to Die", de "Sem Tempo para Morrer"

Melhor ator (drama)

  • Mahershala Ali, por "Swan Song"
  • Javier Bardem, por "Being the Ricardos"
  • Benedict Cumberbatch, por "Ataque dos Cães"
  • Will Smith, por "King Richard: Criando Campeãs"
  • Denzel Washington, por "The Tragedy of Macbeth"

Melhor atriz (drama)

  • Jessica Chastain, por "Os Olhos de Tammy Faye"
  • Olivia Colman, por "The Lost Daughter"
  • Nicole Kidman, por "Being the Ricardos"
  • Lady Gaga, por "Casa Gucci"
  • Kristen Stewart, por "Spencer"

Melhor ator (musical ou comédia)

  • Leonardo DiCaprio, por "Não Olhe para Cima"
  • Peter Dinklage, por "Cyrano"
  • Andrew Garfield, por "Tick, Tick… Boom!"
  • Cooper Hoffman, por "Licorice Pizza"
  • Anthony Ramos, por "In the Heights"

Melhor atriz (musical ou comédia)

  • Marion Cotillard, por "Annette"
  • Alana Haim, por "Licorice Pizza"
  • Jennifer Lawrence, por "Não Olhe para Cima"
  • Emma Stone, por "Cruella"
  • Rachel Zegler, por "Amor, Sublime Amor" ​

Melhor ator coadjuvante

  • Ben Affleck, por "The Tender Bar"
  • Jamie Dornan, por "Belfast"
  • Ciarán Hinds, por "Belfast"
  • Troy Kotsur, por "No Ritmo do Coração"
  • Kodi Smit-McPhee, por "Ataque dos Cães"

Melhor atriz coadjuvante

  • Caitríona Balfe, por "Belfast"
  • Ariana DeBose, por "Amor, Sublime Amor"
  • Kirsten Dunst, por "Ataque dos Cães"
  • Aunjanue Ellis, por "King Richard: Criando Campeãs"
  • Ruth Negga, por "Identidade"

Melhor filme em língua estrangeira

  • "Compartment No. 6", de Juho Kuosmanen (Finlândia)
  • "Drive My Car", de Ryusuke Hamaguchi (Japão)
  • "A Mão de Deus", de Paolo Sorrentino (Itália)
  • "Madres Paralelas", de Pedro Almodóvar (Espanha)
  • "A Hero", de Asghar Farhadi (Irã)

Televisão

Melhor série de drama

  • "Succession"
  • "Round 6"
  • "Pose"
  • "The Morning Show"
  • "Lupin"

Melhor série de comédia

  • "The Great"
  • "Only Murders in the Building"
  • "Ted Lasso"
  • "Hacks"
  • "Reservation Dogs"

Melhor minissérie ou filme para TV

  • "Dopesick"
  • "Impeachment: American Crime Story"
  • "Maid"
  • "Mare of Easttown"
  • "The Underground Railroad"

Melhor ator (drama)

  • Brian Cox, por "Succession"
  • Lee Jung-jae, por "Round 6"
  • Billy Porter, por "Pose"
  • Jeremy Strong, por "Succession"
  • Omar Sy, por "Lupin"

Melhor atriz (drama)

  • Uzo Aduba, por "In Treatment"
  • Jennifer Aniston, por "The Morning Show"
  • Christine Baranski, por "The Good Fight"
  • Elisabeth Moss, por "The Handmaid's Tale"
  • Mj Rodriguez, por "Pose" ​

Melhor ator (comédia)

  • Anthony Anderson, por "Black-ish"
  • Nicholas Hoult, por "The Great"
  • Steve Martin, por "Only Murders in the Building"
  • Martin Short, por "Only Murders in the Building"
  • Jason Sudeikis, por "Ted Lasso"

Melhor atriz (comédia)

  • Hannah Einbender, por "Hacks"
  • Elle Fanning, por "The Great"
  • Issa Rae, por "Insecure"
  • Tracee Ellis Ross, por "Black-ish"
  • Jean Smart, por "Hacks"

Melhor ator (minissérie ou filme para a TV)

  • Paul Bettany, por "WandaVision"
  • Oscar Isaac, por "Cenas de um Casamento"
  • Michael Keaton, por "Dopesick"
  • Ewan McGregor, por "Halston"
  • Tahar Raheem, por "O Paraíso e a Serpente"

Melhor atriz (minissérie ou filme para a TV)

  • Jessica Chastain, por "Cenas de um Casamento"
  • Elizabeth Olsen, por "WandaVision"
  • Kate Winslet, por "Mare of Easttown"
  • Cynthia Erivo, por "Genius: Aretha"
  • Margaret Qualley, por "Maid"

Melhor ator coadjuvante

  • Billy Crudup, por "The Morning Show"
  • Kieran Culkin, por "Succession"
  • Mark Duplass, por "The Morning Show"
  • Brett Goldstein, por "Ted Lasso"
  • Oh Yeong-su, por "Round 6"

Melhor atriz coadjuvante

  • Jennifer Coolidge, por "The White Lotus"
  • Kaitlyn Dever, por "Dopesick"
  • Andie MacDowell, por "Maid"
  • Sarah Snook, por "Succession"
  • Hannah Waddingham, por "Ted Lasso"
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