Volta dos shows: com Djonga, Baile da Ceia reúne rappers badalados

Festival de rap comemorou os cinco anos da gravadora independente que dá nome à festa com presença de Marina Sena

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Baile da Ceia no Audio, casa de shows na Barra Funda, em São Paulo

Baile da Ceia no Audio, casa de shows na Barra Funda, em São Paulo Rubens Cavallari/Folhapress

São Paulo

Fila grande e cheia de jovens, ambulantes vendendo pirulito de coração, cigarros, cervejas e drinques coloridos —este é o cenário antes da entrada do Baile da Ceia. O festival de rap que comemorou os cinco anos da gravadora independente que dá nome à festa ocorreu no início de dezembro, na Audio, casa na zona oeste de São Paulo. Cenas como esta não eram vistas no local havia quase dois anos.

Palco do festival Baile da Ceia. Evento aconteceu na Audio
O rapper Febem no palco do festival Baile da Ceia. Evento aconteceu na Audio - Folhapress

"Agora é só festa!", diz Carlos Antônio, que vende bebidas na fila, acompanhado de uma caixinha de som. "Quase passei fome, agora estou achando que sou rico", o ambulante brinca enquanto toca a música "Tá Rocheda", dos Barões da Pisadinha.

Já entre os que aguardavam a liberação para entrar na casa, o ritmo era outro. O ambiente, equalizado por músicas reproduzidas em celulares, aumentava a empolgação dos que estavam ansiosos e dos aparentemente já embriagados.

A produtora Mariane Vilas Boas confessa que não seguiu o confinamento à risca, mas que este era o primeiro grande evento a que ia desde março de 2020, quando a pandemia teve início. "É uma delícia voltar a ser parte da multidão".

Antes de entrar, comprovante de vacina, RG e ingresso na mão. Nesse momento, pessoas que ficaram horas para chegar até a entrada acabam sendo barrados. Foi o caso de Julho Filho, estudante que diz achar errado pedir a comprovação de vacinação na porta dos eventos. "Não sou negacionista, mas não sou obrigado a me vacinar". Ele acabou sendo liberado depois que recebeu da mãe, via WhatsApp, uma foto da carteirinha de vacinação.

Cláudio Moraes, responsável por checar os documentos, diz que não é incomum ter que barrar clientes pela falta do comprovante. "Já tive que sair na mão com um moleque que queria entrar sem carteirinha. A galera tem que entender que é lei, gostando ou não."

Na decida da rampa que dá acesso ao hall de entrada, o clima é de reencontro entre amigos que há muito não se viam —e também ao ambiente de aglomeração.

Antes de ir à pista, um cartaz com o logo do festival se torna o principal ponto de fotos. Ao lado, uma fila começa a se formar em uma mesa com camisetas do evento. "Parece aquelas camisetas 'eu fui' do Rock in Rio", diz uma garota.

Na pista, ainda vazia, o ambiente é escuro e o cheiro doce vem da fumaça branca produzida pelos
cigarros eletrônicos com essências, os já muito famosos "vapes".

Nova febre entre os jovens que escutam trap —o estilo derivado do rap que é um dos mais ouvidos no Brasil atualmente—, esses cigarros até existiam, mas não estavam na moda antes do período pandêmico.

No palco, a DJ Djulia dá início aos trabalhos às 22h, ao som do funk "Senta no Bugalu", com batida no estilo rave e voz do MC Lil. E o público que aos poucos enche o ambiente vai entrando no clima da festa.

Penteados como tranças, black power e estilo degradê são comuns. A grife Lacoste, atualmente comum na periferia, se mistura às camisetas da Fundão e Um da Sul, marcas da moda originária do Capão Redondo, bairro periférico na região sul da capital paulista.

O copo com uísque, gelo de coco e energético —clássico drinque dos bailes funk de São Paulo— é a principal bebida servida na casa. "Se é pagode, é mais cerveja. Em rolê eletrônico, a galera pede mais gin com tônica. Já música de quebrada, sai mais drinques de baile mesmo", diz João Pedro, barman há três anos.

Quando a casa fica mais cheia, é o rapper DonCesão, fundador da Ceia ao lado da empresária Nicole Balestro, quem sobe ao palco, chorando, para dizer que o evento é a celebração dos cinco anos do selo. Djonga, um dos grandes do rap contemporâneo, Kyan, revelação do trap paulistano, Febem, que despontou na batida do grime, e a dupla Tasha & Tracie são alguns dos nomes lançados pela gravadora, e também as grandes atrações do festival.

O camarim é uma festa à parte. Amigos, familiares, assessores e stylists se dividem em três salas pequenas enquanto ouvem músicas em caixinhas de som e bebem seus drinques. A grande quantidade de pessoas faz com que em alguns momentos os artistas precisem trocar de roupa em espaços improvisados antes de subir ao palco.

Já era 2h da madrugada quando chega o grande nome da noite, Djonga. Junto dele e de sua equipe, estão a cantora Marina Sena, mineira que é uma das revelações do ano, e Malu Tamietti, produtora e mulher do rapper.

Djonga, artista experiente que é, faz questão de cumprimentar e ser simpático com todos no camarim. Nisso, gasta um tempo considerável, já que é grande o número de pessoas no local.

"Djonga, falei pro Lula colar aí, ele disse que está chegando", brinca Igão que além de rapper da Ceia, comanda o podcast Podpah. O comentário do apresentador é referente ao episódio em que o ex-presidente foi ao programa —um dos podcasts mais ouvidos do Brasil atualmente—, que bateu recorde de audiência no YouTube com 292 mil espectadores simultâneos.

Enquanto isso, na outra aglomeração em frente ao palco, o público assistia ao show do rapper Febem, rapper que já era badalado antes da pandemia de Covid-19. "Essa pausa ensinou a gente a guardar dinheiro. É ruim demais ficar sem trabalhar", ele diz, assim que desce do palco.

Ainda do lado de fora do evento, pessoas comprando de ambulantes drinques comuns em bailes funk - Rubens Cavallari/Folhapress

Depois do show das gêmeas rappers Tasha & Tracie, surge no palco o rapper Kyan, artista que turbinou seus números nos meses mais críticos da pandemia em 2020, e que hoje é a maior aposta do selo. Ele usa óculos modelo Juliet da marca Oakley e veste Cyclone —as roupas que têm a intenção de fazer o público se identificar com o rapper, são pensadas por um casal de estilistas da periferia.

O show, um dos mais aguardados da noite, foi interrompido por outros três artistas. Igão, Massaru e Danzo cantaram "Malandro Chique", música que o trio divide. Após o interlúdio, Kyan muda de roupa e volta fazendo o público vibrar.

Quando Djonga subiu ao palco para o grande show da noite, o relógio já passava das 4h. Principal artista do selo e nome de maior relevância no rap atualmente, ele faz as quase 3 mil pessoas cantarem tão alto quanto as caixas de som.

Depois de questionar uma pessoa que estava brigando no meio do público, Djonga puxa "Olho de Tigre" —famosa música que tem o verso "fogo nos racistas". No ápice, o artista pula no meio dos espectadores, que faziam rodas de bate-cabeça, e praticamente finaliza o show no meio deles.

Antes de abaixar as cortinas, ele dá um recado. "Tudo isso que estamos vivendo é especial. Aproveitem o fim da noite com moderação. Bebam, deem risada e lembrem-se que muita gente legal que queria estar aqui morreu nesta pandemia."

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