Descrição de chapéu
Cinema

Em 'Sempre em Frente', Joaquin Phoenix brilha ao lado de ator mirim

Woody Norman e seu olhar inocente dão leveza a drama sobre a responsabilidade de mostrar o mundo a uma criança

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Sempre em Frente

  • Quando Estreia nesta quinta (17)
  • Onde Nos cinemas
  • Elenco Joaquin Phoenix, Gaby Hoffmann, Scoot McNairy
  • Produção EUA, 2021
  • Direção Mike Mills

Poucas coisas são mais irritantes num filme do que aquelas crianças que parecem adultos em miniatura —atores mirins já tão conscientes do próprio ofício que, ao atuar, sonegam aos personagens seu caráter mais infantil (ou o fazem de maneira artificial, "técnica"), fazendo deles criaturas estranhamente robotizadas, pequenos autômatos.

Ainda bem que não é o caso de Woody Norman, o menino escolhido para interpretar um garoto de nove anos, mas com cabeça de alguém bem mais experiente, no filme "Sempre em Frente", que estreia nesta quinta-feira.

Seria insuportável ver uma criança metida a adulta sendo interpretada por outra com o mesmo perfil, mas felizmente Norman tem um olhar sempre puro, inocente, que dá um certeiro equilíbrio ao personagem —e há sempre algo de lúdico na presença dele em cena, mesmo quando o garoto diz frases que poderiam ter saído da boca de um psicanalista veterano.

A trama mostra a relação conturbada entre os irmãos Johnny, interpretado por Joaquin Phoenix, e Viv, papel de Gabrielle Hoffmann, que praticamente romperam após a morte da mãe deles. Um ano depois, quando Viv se vê impelida a passar alguns dias em outra cidade, para cuidar do ex-marido com distúrbios psiquiátricos, Johnny se oferece para cuidar do filho dela, Jesse, papel de Norman, nesse período.

Por conversas telefônicas —e tendo a preocupação com Jesse como ponte—, os irmãos vão, aos poucos, restabelecendo um elo que se esvaía. A criança é muito precoce em algumas questões —quando o tio pede a ele que seja um pouco mais "normal", o pequeno o desconcerta com uma réplica mordazmente singela. "Mas o que é normal?"

Jesse, no entanto, é ainda bastante infantil em vários outros aspectos e, ao precisar ter jogo de cintura para lidar com essas duas facetas do sobrinho, Johnny acaba se compreendendo melhor. O convívio o faz perceber capacidades e debilidades que, até então, ele desconhecia sobre a própria personalidade.

É sempre muito complicado educar uma criança, sobretudo na fase em que já não é mais tão pequena, mas também ainda não é pré-adolescente. Não se pode manter ninguém num mundo de ilusões, que em nada corresponde à realidade terrível da vida real. Mas também tratar uma criança em pé de igualdade, como um adulto, pode ser ainda pior; as verdades precisam ser ditas, é fato, o problema é achar a maneira adequada para fazer isso.

No filme, tanto Johnny quanto Viv em geral optam por dizer verdades ao garoto, tentando não perder a ternura. Mas, às vezes, um pouco mais de autoridade adulta não faria mal —Jesse sabe muito bem ser caprichoso e mimado, e por pena (ou seria medo?), o tio e a mãe cedem às birras do menino.

Mas o longa é bem-sucedido ao mostrar como é difícil estar o tempo todo precisando tomar decisões que podem ter uma influência enorme sobre alguém em fase de formação —uma mísera resposta apressada, ou impaciente, pode gerar um trauma que a criança levará para sempre.

O filme é, de certo modo, uma maneira de mostrar a um homem o peso e a responsabilidade a que muitas mulheres estão diariamente sujeitas, atuando como mães —mesmo que, no caso, não se trate do pai da criança, mas do seu tio. De qualquer modo, é importante que ele tenha esse contato, até para entender melhor a própria irmã.

Johnny trabalha num projeto que consiste em entrevistar crianças de diversas origens sociais e étnicas, perguntando a elas o que pensam sobre o mundo e o futuro. O filme traz trechos de depoimentos verídicos de vários pequenos, e as cenas até se integram relativamente bem ao todo do longa. Mas talvez esse material pudesse ser aproveitado de forma mais interessante em algum documentário à parte, sobre a visão de mundo das crianças modernas.

O maior problema do longa, no entanto, está no gesto estético do cineasta Mike Mills ao usar uma fotografia em preto e branco, assinada pelo sempre competente Robbie Ryan. As tomadas urbanas, mostrando o dia a dia em grandes metrópoles, têm uma beleza levemente melancólica e por vezes suntuosa, mas não há uma justificativa de fato convincente para todo esse "empetecamento" visual.

Ainda mais quando a música de fundo, impositiva, sobrecarrega desnecessariamente um filme que precisa de alguma leveza. Felizmente, porém, o trio de atores principal não soleniza demais as situações; Phoenix, Hoffmann e o pequeno Norman garantem frescor às cenas. Que, com atores inadequados, poderiam se tornar pesadas e exaustivas.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.