Com WC no Beat, funk vira ritmo obrigatório no palco eletrônico do Lollapalooza

DJ Marky também apareceu no segundo dia de shows como relíquia de geração de brasileiros que fizeram sucesso na Europa

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São Paulo

Quem chega desavisado ao palco eletrônico do Lollapalooza depara com um ambiente bem diferente das outras áreas do festival —público mais velho, muita poeira por conta das pisadas no chão provocadas pelas dancinhas no estilo rave e muito "puts, puts, puts".

O fato de o palco ser geograficamente distante dos outros ajuda no choque da primeira vista. Os LEDs, os telões na diagonal e o fogo que acompanhou os graves da música fazem o palco Doritos ser um mundo a parte no festival —talvez o mais brasileiro deles.

O diferencial deste ano são as batidas de funk que têm se tornado obrigatórias durante as apresentações. Victor Lou, por exemplo, DJ goiano apelidado de Shark que se apresentou no início da tarde de sábado, é conhecido por incluir em suas musicas beats mais nostálgicos do eletrônico —mas o ápice do seu setlist foram as batidas do funk rave paulistano.

Outra atração que trouxe o funk no sangue foi WC no Beat. O DJ capixaba surgiu no palco eletrônico com funk carioca, misturando as batidas com rap, trap e grime. Com fogos e pirotecnia de show gigante, ele iniciou a apresentação com "Meu Mundo", hit de 2018 com MC Hariel, Cabelinho e Orochi. Já de início, o público mostrou que conhece bem o trabalho do DJ de cor.

homem dentro de carro com braço para fora
O músico WC no Beat, que se apresentou no Lollapalooza neste sábado - Instagram/wcnobeat

Seu show, um dos mais cheios do palco, contou com participações do MC carioca Kevin O Chris, que dividiu com WC as músicas "Se Concentra", de 2021 e "Repara", parceria que inclui MC Rebeca; Felp22, MC de trap catarinense, que divide a assinatura com WC da canção "Brabão de Pegar", de 2021; e MC TH, dono do hit de TikTok "Calma Bb, Tá nos Melhores Amigos", deste ano.

"Reconhecer que o funk é musica eletrônica é apenas o primeiro passo", comenta Luís Fernando, produtor música que acompanhava o show do DJ Marky durante a entrevista. "Falta também apoio da velha guarda [se referindo a Marky] nessa nova narrativa", afirma.

Bem mais experiente que WC e Alok, DJ Marky aparece no palco eletrônico do Lollapalooza como relíquia de uma geração de brasileiros que fizeram sucesso na Europa, mas que não foram tão populares na terra natal.

Indo no caminho oposto ao funk, Marky tocou seu habitual drum & bass, ritmo derivado do eletrônico que fez o DJ ganhar palcos gringos e ser reconhecido nos anos 1990. Vale lembrar que suas músicas hoje aparecem como referências nos beats de produtores de grime, popular ritmo derivado do rap.

Além do grime, o estilo poperô dos beats do DJ aparecem nas músicas do DJ GBR —um dos criadores do funk rave. E dá para afirmar que Marky é o início da música eletrônica brasileira, passando pelos DJs de rap e funk até Alok.

A apresentação de Marky não foi envolvente, o público, que era pequeno em relação ao seu tamanho, não estava empolgado, com exceção de uma minoria fã do músico —um demonstrativo de que não basta ser reconhecido como um DJ brasileiro fora do país para seus conterrâneos curtirem seu show.

Por outro lado, WC fez os tiozões do eletrônico se renderem ao funk que misturou várias regionalidades da vertente —como os beats mais agudos do funk mineiro ao poperô cheio de graves e médios dos bailes de São Paulo.

Desconsiderar o funk como a atual música eletrônica brasileira no setlist pode ser um um risco para apresentação —mesmo sendo um DJ de referência mundial.

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