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David Cronenberg vende NFT de suas pedras nos rins após negar cedê-las para laudo

Cálculos renais eram 'bonitos demais para serem destruídos', disse cineasta conhecido como mestre do horror corporal

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São Paulo | AFP

David Cronenberg apresenta este ano em Cannes um filme sobre órgãos vitais que são também obras de arte. E, para dar o exemplo, o cineasta canadense de 79 anos pôs à venda as pedras nos rins tiradas de seu corpo como NFT, sigla para tokens não-fungíveis.

O cineasta David Cronenberg durante entrevista sobre seu filme 'Mapas para as Estrelas' no festival de Cannes, na França, em 2019 - Eric Gaillard - 19.mai.2014/Reuters

Cronenberg sofreu de cólicas renais por anos. "Meu médico me disse: gostaria de ficar com os cálculos renais para fazer uma análise química e ver se há algum problema com a sua dieta", contou o diretor a seus fãs na plataforma de criptoarte SuperRare.

Ele então respondeu ao doutor que "de forma alguma". "Me parecem bonitos demais para serem destruídos. A arte sempre terá a última palavra", sentenciou. De modo que reuniu as 18 pedrinhas e as fotografou.

18 pedras nos rins de diferentes tamanhos fotografadas sobre fundo azul
'Inner Beauty', ou beleza interna, fotografia que o cineasta David Cronenberg tirou dos próprios cálculos renais e pôs à venda como NFT na plataforma de criptoarte SuperRare - David Cronenberg/SuperRare/Reprodução

"Inner Beauty", ou beleza interna, foi posta à venda na plataforma de criptoarte SuperRare há cerca de três semanas, e tem um preço de reserva de dez ethereum (cerca de US$ 30,3 mil dólares, ou R$ 140 mil, na cotação atual). Isso significa que o leilão do NFT começará automaticamente a partir do momento em que alguém dar o lance de dez ethereum, e durará 24 horas a partir de então.

Este é o primeiro NFT de Cronenberg, que vendeu no ano passado um curta-metragem de um minuto em que aparece junto a uma reprodução extremamente fiel e desconcertante de seu cadáver.

Prolífico diretor de filmes de terror, Cronenberg tem predileção pelo ser humano como cobaia de mutações físicas ou tecnológicas. Ele é autor de clássicos como "Scanners, Sua Mente Pode Destruir", de 1981, "A Mosca", um remake do clássico de 1958 feito em 1986, e "Crash", de 1996, cujos protagonistas têm poder sobre-humanos e estão dispostos a usar seu corpo como um lugar de experimentação.

A decisão de vender o NFT dos seus cálculos renais surgiu a partir do filme "Gêmeos – Mórbida Semelhança", de 1988, segundo disse Cronenberg a seus fãs. Na trama, Jeremy Irons se desdobra nos papéis de dois irmãos gêmeos que, médicos ginecologistas, compartilham tudo em suas vidas, inclusive as mulheres.

"Em dado momento, um dos gêmeos diz ao outro: 'não entendo porque não há concursos de beleza para o interior dos corpos'", relembrou Cronenberg, acrescentando que "Inner Beauties" também é uma referência à seu novo filme, "Crimes of the Future", com Viggo Mortensen. Nele, o ator interpreta um "artista perfomer cuja arte implica cirurgias feitas diretamente sobre o próprio corpo".

"Crimes do Futuro" está na disputa pela Palma de Ouro no festival de Cannes, marcado para 17 a 28 de maio.

Cronenberg não foi o primeiro cineasta a entrar no mundo dos NFTs. Outro autor de filmes inquietantes, o americano David Lynch, realizou um projeto no formato em conjunto com o grupo de rock Interpol em outubro do ano passado.

O movimentado mercado de NFTs e criptomoedas também é citado por Hollywood como uma fonte de financiamento para o cinema independente.

Os NFTs são uma espécie de certificado de propriedade em geral associados a obras de arte digitais. A obra em questão, seja ela uma pintura, uma fotografia ou um filme, continua podendo ser acessada para todo mundo na internet. Mas só o comprador do "token", registrado em uma "blockchain", tem propriedade sobre ela.

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