Descrição de chapéu

'Morte e Vida' tem João Cabral demais e Chico Buarque de menos

Interpretações femininas, de atrizes-cantoras como Badú Morais, são o melhor da nova versão do musical

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Morte e Vida Severina

  • Quando 16/4 a 26/6 (Sex. e sáb., às 21h, e dom., às 19h)
  • Onde Tuca - R. Monte Alegre, 1.024, Perdizes
  • Preço R$ 80 a R$ 100
  • Direção Elias Andreato

Não é novidade que o poema de João Cabral de Melo Neto, um auto de Natal feito por encomenda, seja "seco" e bem pouco teatral. O próprio autor não gostava e, sobretudo, não acreditava que funcionaria no palco.

O que tornou "Morte e Vida Severina" uma obra tão memorável desde que estreou em 1965, para a surpresa do poeta, foram as melodias de Chico Buarque, então iniciante mas que, chamado a musicá-los, descortinou nos versos um apelo popular que eles não mostravam.

A encenação de Elias Andreato, um diretor de espetáculos de câmara, singelos retratos de grandes escritores, resgata ou privilegia João Cabral sobre Chico. Busca a secura, não o gosto popular, até pelo contrário.

Encenação do musical 'Morte e Vida Severina', com direção de Elias Andreato, no teatro Tuca, em São Paulo
Encenação do musical 'Morte e Vida Severina', com direção de Elias Andreato, no teatro Tuca, em São Paulo - Divulgação

Acentua a essência formal "severina", em lugar da fluidez musical. Resulta seco e áspero, não parecendo visar grande público.

Por outro lado, não se trata hoje do mesmo contexto, os maiores conflitos da região e do país não se dão em torno da seca, e a montagem não busca uma atualização, o que a distancia mais do público.

É bastante reverente e explora a fundo o texto, em muitas passagens. Percebe-se força no espetáculo: não à toa, a explosão de aplausos, quando acontece, é para o coro de mulheres e as protagonistas que saem dele, de tempos em tempos.

Para além da consistência formal, sobressai então uma grandeza na Mulher da Janela de Badú Morais, com um bem-vindo alívio cômico, e nas ciganas de Patricia Gasppar e Andrea Bassitt, cantando como não se conhecia até então.

De maneira geral, a dignidade e a paixão femininas percorrem a apresentação.

Nem tanto, porém, no quadro com a canção mais conhecida, "Funeral de um Lavrador", protagonizado por Jana Figarella. Irrompe em cena uma rebelião fotográfica, semblantes cerrados, um espasmo revolucionário que até constrange, em produção tão intimista.

O despojamento cênico, com bancos no palco para os atores que estão fora da ação, acentua o que parece ser antes de mais nada uma resistência ao próprio gênero musical, ao espetáculo. Perde-se a trama, o engajamento da plateia com a história.

Mas um grande sol, esturricado, marca belamente a última criação de Elifas Andreato para o palco, ele que morreu dias antes da estreia.

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