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Televisão

Entenda por que Faustão fracassou na Band ao usar fórmula repetida

Com custos elevados e baixa audiência, aposta em programa de auditório diário foi um passo bem maior do que as pernas

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A saída de Fausto Silva da TV Globo, no ano passado, causou um abalo sísmico na televisão brasileira. Depois de 32 anos na emissora líder no país, o apresentador foi convidado a deixar as tardes de domingo e a comandar uma nova atração noturna. Recusou e preferiu ir embora. Para substituir o astro no comando do Domingão, a Globo escalou Luciano Huck; para assumir o Caldeirão, que Huck apresentava, contratou Marcos Mion.

Essa dança das cadeiras se completou com uma reviravolta surpreendente. Em vez de se aposentar, Faustão assinou com a Band, o canal em que trabalhava antes de se bandear para a Globo em 1989. E ainda anunciou que apresentaria um programa noturno, de segunda a sexta, batendo de frente com o Jornal Nacional.

O apresentador Fausto Silva no palco de seu programa Faustão na Band - Rodrigo Moraes/Band

Faustão na Band entrou no ar em janeiro deste ano. As novidades eram poucas –o apresentador passou a ter Anne Lotterman, ex-moça do tempo da Globo, como coadjuvante ao lado de um de seus filhos, João Guilherme, que quer seguir a carreira do pai. De resto, a atração manteve muitos ingredientes do antigo Domingão, inclusive o anacrônico balé formado apenas por mulheres esculturais.

A estreia foi retumbante, atingindo 8,3 pontos de audiência na Grande São Paulo e chegando a um respeitável segundo lugar no placar da Kantar-Ibope. Entretanto, já no dia seguinte, os números começaram a cair. Hoje a atração mantém uma média de 3,5 pontos. Um resultado razoável, não fossem os altos custos de produção.

A conta chegou. Uma reportagem do F5 desta quarta-feira informa que entre 40 e 50 pessoas da equipe do Faustão na Band serão demitidas. As que ficarem entrarão em férias coletivas de 11 a 22 de julho. Neste período, serão exibidas só reprises do programa –ou, eufemisticamente, "melhores momentos", como ressalta a reportagem.

Atualmente com uma duração de uma hora e meia, a atração ainda será encurtada, perdendo 35 minutos a partir de 23 de agosto. A justificativa oficial é a entrada no ar do horário eleitoral, mas a mudança deve ser mantida mesmo depois das eleições. Para completar, no ano que vem o programa deixa de ser diário, indo ao ar só duas ou três vezes por semana.

Não dá para dizer que esse desmonte, seis meses depois da estreia, seja uma grande surpresa. Já no ano passado o mercado publicitário expressou dúvidas sobre a viabilidade de um programa de auditório exibido de segunda a sexta, algo raro na TV brasileira. O espectador simplesmente não tem o hábito.

Além do mais, falta assunto, e isso ficou claro já nas primeiras semanas do Faustão na Band. Sem dizer que, tematicamente, o programa parecia ter encalhado em meados da década de 1990, o apogeu de Fausto Silva na Globo.

Tampouco faltaram atribulações. Diversos integrantes da equipe tiveram de ser afastados em algum momento, infectados pela Covid-19, inclusive o próprio Faustão. Ainda houve um princípio de incêndio no estúdio em abril, rapidamente controlado.

Fausto Silva é uma lenda viva da nossa televisão. Seu estilo irreverente e debochado quebrou o molde do bom-mocismo que vigorava até então entre quase todos os animadores de auditório —a exceção que confirma a regra é Chacrinha.

Também é um ímã de anunciantes. No entanto, os patrocinadores não apareceram em número suficiente nesta nova fase de sua carreira. A Band superestimou o apelo de sua nova estrela. Não há demanda do mercado e nem interesse do público por ver Faustão quase todo dia.

A crise do Faustão na Band levanta outras questões interessantes. Será que o programa de auditório, um formato surgido no rádio, está com os dias contados? Talvez não, haja vista o bom desempenho do Caldeirão com Mion, na Globo. Ali temos um apresentador relativamente jovem —Marcos Mion está com 43 anos—, preocupado em criar novos quadros para segurar os jovens em frente à TV.

Fausto Silva tem 72 anos e não parece muito interessado em sair de sua zona de conforto. Pudera, a esta altura da vida, não precisa provar mais nada para ninguém. Mas seu programa na Band foi um passo maior do que as pernas. Resta saber se a reformulação garantirá uma sobrevida à atração.

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