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'Sorria' empilha bons momentos de suspense, mas falta imaginação

Filme tem premissa semelhante à do clássico 'O Chamado' para contar história de pessoas perseguidas por entidade maligna

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Sorria

  • Onde Nos cinemas
  • Classificação 16 anos
  • Autoria Sosie Bacon, Kyle Gallner e Rob Morgan
  • Produção EUA, 2022
  • Direção Parker Finn

No panteão de monstros do cinema, uma menina com cabelos pretos que cobrem o rosto figura entre criaturas como Frankenstein e Jason Voorhees. Sadako —ou Samara, na versão americana— assombra desde o sucesso de "Ringu - O Chamado", propulsor do terror japonês nos anos 2000, e da ótima refilmagem de Gore Verbinski, 20 anos atrás.

Caitlin Stasey em cena do filme "Sorria", da Paramount
Caitlin Stasey em cena do filme "Sorria", da Paramount - Divulgação


Em "O Chamado", logo após assistir a uma fita VHS com imagens bizarras, o telefone tocava e uma voz sinistra decretava "sete dias". Caso a maldição não fosse passada adiante nesse período, Samara aparecia e fazia mais uma vítima. Em "Sorria", do estreante Parker Finn, o mecanismo é praticamente o mesmo, mas sem envolver tecnologias obsoletas.

Sosie Bacon vive Rose Cotter, médica de um hospital de emergências psiquiátricas. Um dia, ela recebe uma jovem que, num aparente surto psicótico, diz que está sendo perseguida por uma entidade maligna. Diferentemente de Samara, a entidade não tem aparência física definida —ela toma a forma de pessoas sorridentes.

Durante a consulta, a moça se descontrola e se suicida de maneira brutal, sorrindo enquanto corta o próprio pescoço com um caco afiado. Rose logo descobre que a sua paciente não estava alucinando.
Perturbada pelas mesmas aparições, a protagonista começa a investigar o caso com o auxílio de um ex-namorado, o policial Joel, vivido por Kyle Gallner.


A Paramount planejava lançar "Sorria" direto no streaming, mas mudou de ideia depois que o público respondeu bem ao filme durante os testes da produtora. Fazer terror é relativamente barato e, quase sempre, gera um bom retorno.

"Sorria" tem bons momentos de tensão, sobretudo no começo. O diretor não faz escolhas genéricas, a trilha sonora é interessante e, às vezes, a câmera parece atravessar cenários e personagens. Com quase duas horas, no entanto, Finn não cria a mesma sensação de perigo iminente de "O Chamado".

Em "Sorria", o verdadeiro monstro é o trauma. Desde "O Babadook" e "Hereditário" que a maioria dos filmes de terror se sentem obrigados a falar do assunto. De repente, até "Halloween" virou um filme sobre trauma, com a atriz Jamie Lee Curtis repetindo a palavra em todas as entrevistas que deu durante a divulgação da trilogia que, graças a Deus, já está para acabar.



Para o gênero ser levado a sério, parece que o terror tem de tratar de distúrbios mentais como depressão pós-parto ou transtorno do estresse pós-traumático. Não basta criar um bom monstro, um mal encarnado —que não se dissipa nem mesmo quando a protagonista busca corrigir os erros do passado—, é preciso ancorar o sobrenatural em fenômenos reais.

"Sorria" é só mais um exemplo da nossa profunda escassez de imaginação.

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