Descrição de chapéu
Pedro Martins

Anitta escancara seu oportunismo com Lula ao criticar pesquisas eleitorais

Cantora prometeu apoio ao petista, sumiu do mapa e voltou pondo brasa na eleição mais perigosa da história do país

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Pedro Martins

Editor-assistente da Ilustrada, é responsável pela pauta de cultura do jornal

Antes mesmo de a campanha eleitoral começar, Anitta dava sinais de que seria o maior cabo eleitoral que Lula teria entre a classe artística nestas eleições. Do outro lado, Gusttavo Lima, o maior dos sertanejos, que sempre esteve ao lado de Bolsonaro, estava surpreendentemente calado.

Anitta e Lula
Anitta e Lula - AFP/Instagram

À época, Lima estava no centro da "CPI do sertanejo", como ficou conhecida uma série de inquéritos do Ministério Público que investigavam o pagamento de cachês milionários e cuja origem ainda é desconhecida a cantores por prefeituras de cidades com menos de 5.000 habitantes.

Anitta, por outro lado, vivia o ápice de sua carreira. Subindo ao palco ao lado de astros como Miley Cyrus e se dividindo entre o Brasil e os Estados Unidos, ela enfim tinha conseguido emplacar uma música sua, "Envolver", como a mais tocada do mundo no Spotifyainda que 60% dos plays viessem do Brasil e que boa parte dos 40% restantes viessem da América Latina, provando que seu sucesso não era lá tão global.

Anitta fez quase tantas promessas quanto os políticos que concorriam à eleição. Disse que, apesar de não ser petista, faria tudo o que estivesse a seu alcance e não ferisse a legislação eleitoral para eleger Lula. "Quem quiser minha ajuda para fazer ele bombar aqui na internet, TikTok, Twitter, Instagram, é só me pedir", postou em julho.

Entre um show e outro, passando a liderar um movimento de resgate do verde e amarelo da bandeira do Brasil sequestrados por Bolsonaro, a cantora voltava ao Twitter para brincar com política. Numa dessas vezes, disse que ficaria em cima de Lula para que ele gravasse vídeos para o TikTok sem perder a constância, assim como seus fãs cobram que ela faça.

Noutra, comparou Lula a Dumbledore e Bolsonaro a Voldemort —um dos heróis e o principal vilão da saga "Harry Potter", respectivamente—, sempre mencionando a arroba do usuário de Lula.

Do outro lado, Gusttavo Lima abandonava uma sociedade multimilionária e deixava de ser o garoto propaganda do frigorífico que estampava o rosto de Bolsonaro e vendia a chamada "Picanha Mito", em homenagem ao presidente, com o quilo vendido a R$ 1.800.

O sertanejo continuou calado até as vésperas do primeiro turno, quando, para a surpresa de ninguém, declarou voto em Bolsonaro. A esta altura, Anitta já tinha sumido. Sua última publicação no Twitter que cita diretamente o nome de Lula foi em 18 de julho, isto é, dois meses e meio antes do primeiro turno.

A cantora até voltou para dizer que votaria em Lula na noite de apuração que anunciou o segundo turno, mas só. Sumiu, sem cumprir a promessa de ajudar o petista a viralizar, sem exigir do candidato aparições no TikTok nem nada mais. Enquanto isso, Lima fez live com Bolsonaro e protagonizou inserções do presidente no rádio e na TV.

Anitta ficou calada até a manhã em que o Brasil se preparava para a votação mais acirrada —e arriscada— desde a redemocratização do país. Voltou com tudo, pondo em xeque as pesquisas eleitorais que tanto foram atacadas e desacreditadas pelo adversário de seu candidato e dizendo para seus seguidores votarem pensando em qual candidato gostariam de ter como pai, mas sem escrever o nome de ninguém.

As razões para uma mudança de comportamento tão drástica só a cantora pode dizer quais são. A única certeza é que, enquanto Lima parece ser fiel a Bolsonaro, o engajamento político de Anitta, tendo ajudado seu candidato ou não, veio com uma boa dose de oportunismo.

A cada tuíte mencionando Lula, afinal, a cantora via os números subirem. Nos dez dias seguintes à sua declaração de voto no petista, foram mais de 300 mil seguidores a mais em seu Twitter e Instagram, um movimento do qual ela parecia ter domínio absoluto. "O que vocês petistas precisam entender é sobre estratégia. Até quando falo mal do PT eu trago mídia para o PT", escreveu no Twitter a professora Anitta.

Hoje, ao questionar as pesquisas eleitorais, ela escancarou seu oportunismo diante de Lula. Mas, verdade seja dita, ele já estava claro há tempos. Ela, afinal, pôde publicar, sem autorização, uma montagem que colava a estrela do PT e o número 13 a um collant vermelho seu, conquistando aplausos, curtidas e seguidores, mas os candidatos do partido que não ousassem usar seu nome ou sua imagem em suas campanhas. Venha a nós, mas, ao vosso reino, nada.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.