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Feira de Frankfurt destaca a Guerra da Ucrânia e dá espaço aos livros do TikTok

Maior evento do mundo editorial começa de olho no conflito e mobilizando casas brasileiras de todos os tamanhos

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São Paulo

A Feira de Frankfurt, o maior evento mundial do mercado de livros, está de volta ao formato 100% presencial depois de dois anos entre formatos remoto e híbrido. Desta quarta até domingo, 4.000 representantes de 95 países se encontram em estandes e dezenas de reuniões diárias para discutir as novidades dos catálogos e tendências de mercado.

Segundo Flavio Moura, editor e um dos fundadores da Todavia, o retorno presencial criou um clima de alegria geral. Ele adianta que um editor de Berlim chegou a criar um novo prêmio, cujos detalhes serão anunciados na quinta, com apoio das feiras de Frankfurt e de Turim, para celebrar a importância dos encontros.

Obra da artista plástica Marilá Dardot - Divulgação

Mesmo com a festa literária, o cenário na cidade de Frankfurt é de crise. Moura relata que casas e hotéis fazem esforços de conservação de energia elétrica, cujos preços aumentaram por causa da Guerra da Ucrânia. O país, inclusive, é tema central da feira e a guerra e outros conflitos são tema de várias mesas de discussão.

Segundo Juergen Boos, presidente do evento, "encontros presenciais são mais importantes do que nunca, porque ajudam a reduzir a polarização". Ele evocou o tema da edição de 2022, que discute a importância da tradução, para reiterar o papel da indústria dos livros em promover compreensão, "seja por meio da tradução de uma língua para a outra, seja pela demonstração de solidariedade global com os profissionais exilados".

Todo ano um país diferente é homenageado. Apesar de a bola da vez ser a Espanha, os holofotes estão sobre a Ucrânia. O presidente do país Volodimir Zelenski e sua mulher Olena Zelenska farão participações por vídeo em diferentes dias ao longo do evento.

Antes do início efetivo da feira, porém, é difícil cravar se o esforço do comitê de organização em jogar luz sobre a nação invadida será traduzido em livros sobre o assunto. "Do ponto de vista editorial, vemos muitos livros sobre o tema, mas é difícil precisar se existe algum relevante", afirma Moura, da Todavia.

Apesar de o evento só começar oficialmente nesta quarta, as reuniões estão a todo vapor desde segunda-feira. Paula Drummond, da divisão de infantojuvenis da editora Globo, estima que frequente cerca de 40 encontros diários. Moura estima os dele em 15 e conta que as reuniões são marcadas com antecedência, desde julho e agosto, geralmente no hotel Frankfurter Hof, no centro da capital financeira alemã.

"Aqui é um momento de estar todo mundo em contato e em conversa", diz. "Trocamos impressões, vemos o que estão comprando, o que querem publicar. É um momento de descobrir novos títulos, mas sobretudo de troca de informação, de reforço de contatos".

Drummond avalia que, além de a feira presencial concentrar as reuniões num período mais curto de tempo, o contato humano facilita as conversas entre os agentes sobre novos títulos. "É muito diferente ver um livro no catálogo e conversar sobre uma história, ver alguém falando, empolgado", diz. "Um livro que passou batido por você no catálogo pode ganhar outra cara com alguém falando sobre ele."

É nesse momento que tendências de mercado ganham mais corpo, mas elas só se traduzem em compras de títulos se aquilo puder interessar ao público brasileiro. Drummond afirma que, além de ser muito menor do que o mercado americano, por exemplo, nem tudo que faz sucesso lá tem a mesma adesão aqui.

O mercado infantojuvenil é um dos impulsionados pelas redes sociais, principalmente a rede chinesa TikTok, que marca presença na feira com palestras e workshops voltados para o seu #BookTok, segmento de livros do aplicativo.

"Os leitores brasileiros estão ligados no que acontece lá fora, eles pedem títulos que foram publicados fora. Mas não temos a obrigação de trazer o que é tendência, temos que apostar no que acreditamos", afirma Drummond.

Uma novidade deste ano é a presença de dez pequenas editoras de São Paulo, impulsionadas pelo programa CreativeSP, parceria entre a InvestSP e as secretarias de Cultura e Economia Criativa e Relações Internacionais do Governo de São Paulo. O objetivo, segundo o subsecretário Luiz Alvaro Menezes, é criar redes internacionais para esses pequenos empreendedores e profissionalizar a economia criativa também na literatura.

"Frankfurt não é como a Bienal do Livro que você vende livros, você vende os direitos", ele afirma. "O objetivo é a geração de negócios." O programa acompanha as editoras depois da feira alemã. "Existe a expectativa que eles voltem com negócios iniciados, não fechados", diz Menezes.

Fatores como o dólar e a inflação em alta não têm impacto tão grande nos negócios, avalia Moura, editor da Todavia. A preocupação dele vem de uma impressão de que o boom pandêmico de compra de livros esteja diminuindo.

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