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Dan Ferreira e Danilo Mesquita

O milagre Milton Nascimento

Cantor chega aos 80 anos celebrado com uma trajetória que é também a história do Brasil

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Dan Ferreira Danilo Mesquita
Rio de Janeiro

Há 80 anos, em um 26 de outubro, às seis horas da tarde, acontecia um milagre brasileiro. Nascia Milton Nascimento. Muito já foi dito —e ainda há de ser— sobre a beleza da existência e da obra desse artista, mas neste texto, que já nasce inusitado por ser escrito a quatro mãos, dois corações, dois admiradores e amigos de Bituca, celebra-se a beleza dos encontros que só alguém como ele é capaz de provocar.

Milton Nascimento em retrato da turnê "Clube da Esquina" em 2019
Milton Nascimento em retrato da turnê "Clube da Esquina" em 2019 - Marcelo Justo/Folhapress

Tudo começa em 2017, ano em que o conhecemos. Mesquita foi apresentado primeiro a Milton por Dennis Carvalho durante as gravações de uma novela. Alguns meses depois, numa conversa, Milton e seu filho, Augusto, comentaram que viriam de Juiz de Fora, onde moravam, para passar alguns dias no Rio de Janeiro. Mesquita, por educação, ofereceu nossa casa —nesse período dividíamos apartamento no Humaitá com Jessica Ellen— e, para nossa surpresa, eles aceitaram. Era o começo da nossa amizade.

Arrumamos a casa, fizemos compras e esperamos felizes e ansiosos a chegada dos dois. Bituca e Augusto ficaram apenas dois ou três dias em casa, mas neste tempo aprendemos tudo o que se pode aprender só de estar na presença de uma alma desse tamanho.

Nos momentos em que escutávamos Ticoãs, Moacir Santos e os discos de Bituca, olhando a Pedra da Gávea em silêncio, apenas éramos e estávamos. Quando rompia o silencio ao final dos discos, Bituca apenas dizia: vamos escutar mais uma vez. Ou simplesmente levantava, agradecia a companhia e ia descansar.

Estar na presença dele é como estender nosso tempo na terra, algo espiritual e realmente transformador.

Além de uma linda travessia, Milton faz pontes, olhando profundo no que é realmente valioso em cada um de nós. Faz todo mundo se sentir especial ao seu lado. É impossível não ser atravessado por sua existência. Ele mudou nossas vidas. Conectou corações. Nos apresentou a Augusto, Primo, Japa, Aurélio, França e tantos outros amigos que, junto com nosso irmão Ravel Andrade, podemos materializar a nossa amizade com o grupo musical Beraderos. Nos juntou com o Mestre Robertinho Silva, que gravou a faixa "Caminhar" ao seu lado no disco do Beraderos e também uma faixa no disco de Dan Ferreira, um dos autores deste texto, que virá em breve.

Bituca nos deu o caminho e nos fez sonhar. Depois desse episódio, muitos shows, alguns encontros, festas de aniversário, e chegamos aos 80 anos de Bituca e à alegria da celebração de um artista gigante, cuja historia se torna parte da história deste país. Celebrar Bituca é celebrar a força da amizade e dos encontros. Cultuamos sua voz! Somos filhos do seu criar! Que todos os dias da nossa existência, celebremos a obra e a vida desse ancestral na terra.

Um dia, 26 de outubro vai ser feriado nacional. Se não no país inteiro, pelo menos no estado das Minas Gerais. Para que nunca esqueçam a data de nascimento da onça verdadeira, do milagre das artes, do Iauretê, a semente da terra e todos os outros adjetivos altivos endereçados a Milton Nascimento. Mas enquanto este feriado não é decretado, que todas as homenagens sejam feitas ao nosso herói.

O milagre! E milagre não se explica. Hoje tudo é mais bonito porque é dia de Bituca. Obatalá! Deus! Que olha os seus, nasce da terra, e grita Amor. Viva Milton Bituca Nascimento!

Dan Ferreira é ator. Danilo Mesquita é ator e membro do grupo musical Beraderos.

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