Descrição de chapéu Financial Times Filmes Festival de Veneza

Saiba como Timothée Chalamet ousou transgredir a moda em busca pelo sexy

David Bowie e Mick Jagger já haviam rompido barreiras, mas ainda se espera que as mulheres sejam mais decorativas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Robert Armstrong
Financial Times

Quando Timothée Chalamet chegou a uma première no Festival de Cinema de Veneza usando uma frente-única brilhante e vermelha, com calças combinando e botas pretas de salto elevado, as reações da mídia, social e outras, foram de espanto e admiração. Com razão.

O ator Timothée Chalamet no carpete vermelho do Festival de Veneza - Reuters

Um estilo abertamente feminino usado por um sex symbol global; um homem deixando as costas nuas. Mas vale destacar que o look de Chalamet não foi nem de longe original. Houve outro artista hétero conhecido do grande público que, décadas atrás, arrasou com visuais precisamente como esses –e o fez de maneira natural, não para se mostrar ao mundo.

Esse artista foi Prince, é claro. Não só é fácil imaginar o músico já morto trajando precisamente a roupa que Chalamet usou em Veneza, como é fácil imaginar o astro usando esse look para andar na rua, não para percorrer o tapete vermelho.

O mundo da música e o mundo do cinema têm expectativas diferentes. Um pouco de ambiguidade sexual sempre foi esperada de um roqueiro, de David Bowie e Mick Jagger a Lou Reed. Um ator de primeira linha, que pode a qualquer momento ser chamado para fazer o papel de galã romântico de um filme comercial, tem motivos financeiros para ser cauteloso.

Portanto, temos de dar um pouco de crédito a Chalamet. Ele está fazendo um favor aos homens. A distância entre o que um homem veste para ficar elegante, realmente elegante, e o que ele usa em sua vida pública cotidiana não tem sido muito grande, tradicionalmente. O traje social formal, por exemplo, é simplesmente um terno preto com pedaços de seda ou cetim aqui ou ali.

A distância entre o formal e o cotidiano vem aumentando na medida em que as roupas de trabalho cotidianas são simplificadas na direção de uma informalidade do tipo jeans e camiseta. Mesmo assim, a transformação das mulheres quando se arrumam para uma festa normalmente deixa léguas para trás a produção mais modesta empreendida pelos homens.

Isso é tão evidente quanto é lamentável. Seja em que etapa estivermos da derrubada do patriarcado, ainda se espera que as mulheres sejam mais explicitamente decorativas que os homens, tanto numa noite de gala quanto no dia a dia. Chalamet está se aventurando nessa bobagem toda. Ótimo. Mas ainda há uma barreira maior a ser superada.

Quando a atriz Tessa Thompson, de "Don’t Worry Darling", usa um vestido verde-limão, como fez semana passada em Veneza, ela não está dizendo a que veio —está sendo bela. Chalamet é um homem belo, mas ele não usa uma frente-única brilhante tanto quanto a ostenta. Ele está marcando posição, criando um buzz intencionalmente.

Não devemos desprezar o que ele está fazendo, mas tampouco devemos confundir isso com igualdade. O look do ator foi visto como transgressivo, político ou outras coisas. Devemos esperar por um mundo em que não fosse nada mais que sexy e elegante.

O estado calcificado da decoração masculina ficou evidente na cobertura midiática do Festival de Veneza. Brad Pitt usou tênis com seu smoking, um look que teria sido levemente interessante 20 anos atrás.

Harry Styles é admirado por suas roupas, com razão, e eu invejei os ombros fortes de seu terno Gucci azul trespassado. As pontas enormes das golas de sua camisa foram ótimas. Mas o efeito total pecou por um excesso de ironia retrô. Lembre aqueles mocassins brancos! O objetivo deveria ser usar roupa masculina seriamente linda, não tanto sugestiva.

Do mesmo modo, Chris Pine estava ótimo de calça branca, blazer marrom-chocolate e gravata borboleta combinando. Viva o marrom! Mas eu teria gostado se a coisa toda não tivesse tido ar muito posado, intencionalmente retrô. Mesmo assim, o ator foi mil vezes melhor do que diversos homens que tentaram o velho truque do traje social formal só que numa cor que não fosse o preto.

Não estou querendo dizer que os homens terão conquistado a liberdade de traje em algum sentido histórico importante quando todos estivermos nos vestindo com a extravagância e a ambiguidade de gênero de Prince. Eu mesmo sou alguém que usa moda masculina clássica. Aprovo profundamente a qualidade, simplicidade, elegância discreta e assim por diante.

O que quero transmitir aqui é que declarações de posição são uma coisa; liberdade e igualdade são outra. Roupas realmente deslumbrantes são performáticas em apenas um sentido. Elas aspiram abertamente a nos deixar belos. Essa é uma verdade que a grande maioria dos homens ainda reluta em aceitar.

Eu me senti animado com uma foto de Veneza, a do designer de calçados Christian Louboutin usando terno molinho cor de rosa, mostrando tudo que uma ótima alfaiataria pode fazer pelo corpo de meia-idade, ao mesmo tempo transmitindo energia.

Louboutin parecia à vontade nas roupas que estava usando, e não exibindo. Parece que o velho conselho continua valendo —não vestir roupas de grife, mas se vestir como os estilistas se vestem. Louboutin parecia um homem livre.

Tradução de Clara Allain

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.