Descrição de chapéu Filmes Festival de Veneza

Timothée Chalamet vive canibal amoroso que remete a Armie Hammer em Veneza

Festival teve ainda primeiro longa de ficção de Frederick Wiseman e filme em que Cate Blanchett vive uma regente

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Veneza (Itália)

Talvez a real disputa seja entre Tilda Swinton e Adam Driver, mas entre as celebridades que mais têm aparecido em tapetes vermelhos dos festivais nos últimos anos, Timothée Chalamet não fica muito atrás. Ele está no Festival de Veneza para promover "Bones and All", sua nova colaboração com o italiano Luca Guadagnino, que o dirigiu no filme que o tornou o maior astro de Hollywood de sua geração, "Me Chame pelo Seu Nome", de 2017.

Na verdade, o ator interpreta um personagem importante, mas a protagonista do longa é outra, vivida pela atriz Taylor Russell. Ainda assim, Chalamet foi, até o momento, a estrela mais festejada no Lido neste festival —basta perguntar às centenas de adolescentes que por horas aguardaram tenazmente a passagem do rapaz pelo tapete vermelho, debaixo do severo sol veneziano de setembro.

Timothée Chalamet em cena de Bones and All, filme em que ele interpreta um canibal apaixonado
Timothée Chalamet em cena de 'Bones and All', filme em que ele interpreta um canibal apaixonado - Divulgação

No longa, Russell interpreta a jovem Maren, que desde criança apresenta um comportamento peculiar. Ela gosta de comer carne humana. O desejo incontrolável, é claro, a faz sofrer. Não apenas isso a torna uma pária social —ela é até abandonada pelo pai, que não aguenta mais o estorvo que seu comportamento canibal tem trazido— como também uma predadora. E, caso não se policie, até uma assassina.

Sem o pai por perto, ela vai atrás da mãe, que não vê desde a infância, e no caminho encontra um rapaz com as mesmas tendências canibalescas, o rebelde Lee, papel de Chalamet. Entre eles logo surgirá uma relação de cumplicidade, cuidado mútuo e, também, amor.

O canibalismo, é claro, surge de maneira metafórica, embora nunca seja possível determinar exatamente a que a prática alude. Ainda assim, fica claro que se trata de um longa sobre falta de pertencimento, sobre se sentir socialmente deslocado.

"Fazer parte deste filme foi uma forma de me sentir junto da minha tribo", disse Chalamet em conversa com a imprensa, se referindo ao período de isolamento social na pandemia, quando as filmagens foram realizadas. No set, segundo o ator, foi mais fácil se sentir menos só durante o ápice da Covid-19.

"Eu estava louco para trabalhar com Luca [Guadagnino] mais uma vez e contar uma história com bases semelhantes à que contamos em nosso primeiro trabalho juntos. Só que, desta vez, passada no centro-oeste americano", disse.

Taylor Russell é uma jovem de olhar vivo e carismático, e o filme até explora essa característica da atriz com algum empenho nas primeiras cenas. Mas, depois que Chalamet entra no filme, é como se Guadagnino se esquecesse do resto e devotasse o longa ao seu esquálido muso.

Timothee Chalamet no tapete vermelho de 'Bones and All', no Festival de Veneza - Guglielmo Mangiapane/Reuters

É estranho como o ator parece muitas vezes completamente insípido, inodoro e incolor quando filmado por outros cineastas; sob a lente de Guadagnino, no entanto, consegue ter seu potencial fotogênico explorado de forma surpreendente.

O filme foi moderadamente bem recebido, mas uma coincidência desagradável deixou a equipe em uma saia justa —o ator Armie Hammer, a outra estrela de "Me Chame pelo Seu Nome", teve recentemente sua carreira arruinada quando algumas de suas ex revelaram em público que ele tinha comportamentos sexuais violentos a partir de fantasias eróticas envolvendo canibalismo. A equipe de "Bones and All" tem, compreensivelmente, preferido evitar o assunto.

Ainda na disputa pelo Leão de Ouro, o veterano Frederick Wiseman se mostrou a maior surpresa do festival até o momento. Renomado documentarista, de filmes como "Titicut Follies", de 1967, e "Ex-Libris", de 2017, o americano de 92 anos desta vez resolveu apostar em um longa de ficção —o primeiro de sua vasta carreira.

"Un Couple" é um monólogo em que a francesa Nathalie Boutefeu encena trechos de cartas e diários escritos por Sophia, mulher do escritor russo Liev Tolstói, em finais do século 19. No texto, ela basicamente lamenta o quanto sua vida é restrita devido ao machismo do marido, tentando entender as razões pelas quais o autor, antes apaixonado e presente, com o tempo se tornou distante, quando não agressivo.

Ela cogita que seria por ciúme, insegurança, mas talvez a resposta esteja em outro trecho do diário. "A maioria dos homens passa a vida como se estivesse diante do espelho".

O longa teria menos força se feito há dez anos, mas, surgindo em pleno mundo pós-MeToo, há todo um novo interesse no aspecto feminista dos escritos de Sophia. Ainda assim, e mesmo que o filme tenha só uma hora de duração, muitos espectadores não puderam evitar bocejadas.

Cate Blanchett em cena do filme "Tár", de Todd Field
Cate Blanchett em cena do filme 'Tár', de Todd Field - Divulgação

Boutefeu poderia até ter chance ao prêmio de melhor atriz, mas Cate Blanchett parece imbatível, pela performance em "Tár", um eficaz drama sobre a regente de uma importante orquestra que utiliza seu poder para dar lugar de destaque no grupo a suas preferidas sexuais.

É um filme por vezes prolixo, mas Blanchett toca sua personagem adiante com tamanha eficiência que o filme ganha uma inesperada fluidez. É o primeiro longa de Todd Field desde "Pecados Íntimos", lançado em 2006, mostrando que o americano se mantém em plena forma cinematográfica.

Ainda nesta sexta, o Lido apresentou "Athena", de Romain Gavras, longa francês sobre o embate social entre policiais e moradores de periferias na França. É um filme tecnicamente impressionante, mas o excessivo interesse do cineasta pela adrenalina esvazia o conteúdo social do longa —que, ainda assim, foi recebido efusivamente por parte da imprensa.

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