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'Travessia' tem estreia que destaca ótima Drica Moraes e o Maranhão

Personagem que vive mãe do galã de Chay Suede é, ao lado de Marcos Caruso, o melhor do primeiro capítulo da novela

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São Paulo

A passagem de "Pantanal" para a nova novela das nove da Globo, "Travessia", aconteceu pelas areias do Maranhão, sem perder de vista a ideia de Brasil profundo e evitando assim um choque maior entre um enredo e outro. Saíram os boizinhos rodando em círculos, vistos por imagens de drones, e entraram crianças saltitantes na praia.

Antes que as câmeras chegassem a um cenário urbano high-tech, com direito a holografias e a recursos sublinhados por um exagero digital que cansa só de olhar, a edição apresentou ao público os melhores motivos, pelo menos até aqui, para se acompanhar a nova história de Glória Perez.

Estão nos personagens de Drica Moraes e, depois, de Marcos Caruso, as performances mais interessantes para atrair o público. Ele é Dante, um professor cioso da vocação de ensinar, entusiasmado com a inteligência do pequeno Ari, filho dela que ele leva para a capital, São Luís, para estudar. Antes que o capítulo terminasse, o menino se transformaria em Chay Suede.

Núbia (Drica Moraes) se despede do filho, Ari (João Bavo), que vai estudar em São Luís, levado pelo seu mentor e professor, Dante (Marcos Caruso) - Estevam Avellar/Globo

Apaixonado pela arquitetura e pela tradição da capital maranhense, Dante dá uma breve aulinha sobre a cidade, enquanto a mãe do galã tenta espantar dos olhares do filho as meninas que cercam sua vendinha. Na visão da matriarca, elas são inferiores ao patamar do herdeiro. Uma delas é Brisa, que assumirá a forma de Lucy Alves.

É acertadíssima a escolha que coloca a atriz na vez de protagonista. Lucy tem cara e energia de Brasil, diferentemente de Jade Picon, toda trabalhada na maquiagem e no figurino de quem nasceu em berço de ouro, escalada para formar com Lucy e Suede o triângulo central da história.

Mas bem antes que Chiara, personagem de Jade, viesse ao mundo de "Travessia", houve uma apresentação pouco convidativa do núcleo urbano que trouxe à cena o pai dela, Guerra, na pele de Humberto Martins.

A edição que precedeu o momento em que ele descobre ser traído pela namorada (Grazi Massafera) caprichou na trilha sonora de melodrama, algo que soou cafona após tantos meses habituando uma plateia à excelência das cordas de Guito, Almir e Gabriel Sater (dá para trazer "Cavalo Preto" de volta?).

E o som incidental que embalou o dramalhão do ricaço traído não tocou fora de contexto, longe disso. Os diálogos de macho ferido foram acentuados pelo momento em que ele flagra a moça com o seu sócio, papel de Rodrigo Lombardi, fazendo jus à trilha.

O.k., dores de amores são naturalmente cafonas para quem assiste a tudo como espectador, e nem por isso deixam de ser legítimas para quem as sente.

Sorte que outras canções vieram, especialmente entre Maranhão e Portugal, tornando o núcleo do Rio de Janeiro ainda mais enfadonho.

Ainda que a sequência urbana tenha se mostrado menos interessante do que a do Maranhão, enredo de traição na alta sociedade sempre tem apelo para fisgar audiência, mesmo porque Guerra não resistirá à chance de ficar com o bebê da ex-namorada, morta em um acidente.

A tragédia que deu a Grazi uma breve participação na novela se deu bem ali no bairro do Passeio, cidade cenográfica construída para "Amor de Mãe", novela de 2019, que já foi vista também em "Um Lugar ao Sol", de 2021, e agora ressurge em seu terceiro folhetim.

É compreensível que o espaço, uma réplica fiel de ruas com fachadas e até viaduto, seja reaproveitado em mais de uma produção, mas seria prudente evitar esse déjà-vu em capítulo de estreia.

Voltando a Brisa, houve generoso espaço para festa do boi-bumbá e narrativas de folclore embalando o romance com Ari, ainda adolescente —e mais sol e areia maranhense para arrefecer a selva de mármore do império de Guerra, dono de construtora bem-sucedida.

A edição do capítulo fez bem em intercalar Nordeste natural com Sudeste cenográfico, em boa parte aplicado pela frieza de Cidália, personagem de Cássia Kis que cuida da boa imagem de Guerra e sua firma.

Talvez como primeiro capítulo tenha sido um erro não concentrar a narrativa só nos personagens que guiarão a história, sem dispersar a atenção da plateia com quem poderia muito bem esperar para entrar em cena depois, como Estêvão e Helô. E justamente eles, personagens de Alexandre Nero e Giovanna Antonelli que já são conhecidos de "Salve Jorge", outra novela de Glória Perez, de dez anos atrás.

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