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Martha Nowill mergulha em manuscritos de Pagu para discutir o machismo de hoje

Atriz une suas histórias e impressões às da jornalista e ativista em solo dirigido por Elias Andreato, em cartaz em São Paulo

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São Paulo

Foi num manuscrito inédito, cru e até um pouco confuso deixado pela jornalista, ativista e multiartista Patrícia Galvão que a atriz Martha Nowill encontrou inspiração para mergulhar em sua própria história. Saiu, então, em busca das intersecções entre sua experiência como uma atriz feminista do século 21 e Pagu, ícone do movimento no início do século passado que batalhou por uma presença forte das mulheres na política e nas discussões sociais.

Pagú - Até Onde Chega a Sonda
Martha Nowill em cena em 'Pagú - Até Onde Chega a Sonda' - Rodrigo Chueri

Guardado no acervo do colecionador de arte Rafael Moraes, os escritos da artista levaram Nowill a um processo de pesquisa que durou quatro anos e que chega à cena nesta quinta (1º) no palco do Sesc Pompeia com o título de "Pagu - Até Onde Chega a Sonda".

"Não tinha como fazer um solo só sobre ela com este texto", diz a atriz. "Ele não foi escrito para o teatro e nem sei se foi trabalhado. Acho que ela escreveu para não enlouquecer."

Sob a orientação da também atriz e diretora Isabel Teixeira, Nowill mergulhou em suas próprias lembranças e impressões sobre o mundo para descobrir as similaridades com sua personagem, que, acredita, foi escanteada pela história graças ao teor libertário e contestador de seu pensamento num ambiente machista, daí o desejo de fundir suas histórias.

"No começo do processo, eu quis compor uma personagem, me aproximar fisicamente dela, e tentei criar algo em torno de uma expressão e uma voz que me pareciam ser a dela. Depois achei bobagem."

Impressão corroborada pelo diretor Elias Andreato, que assina a encenação. "Pagu - Até Onde Chega a Sonda" não narra uma história linear, mas mistura as opiniões que a centenária Patrícia Galvão tinha sobre arte, política, maternidade, machismo com as impressões que Nowill alimenta sobre os mesmos temas. A atriz joga ainda um olhar sarcástico para sua vida e a carreira que construiu no teatro e no audiovisual.

Carreira essa que ganhou mais exposição em 2021 com a exibição da série "Todas as Mulheres do Mundo", no Globoplay. Adaptada do filme homônimo lançado em 1966 e de crônicas de Domingos Oliveira, a série foi um sucesso na plataforma de streaming, mas colecionou críticas nas redes sociais pelo perfil de seu personagem principal, interpretado por Emílio Dantas, considerado um verdadeiro "esquerdomacho" pelo tipo de relações que estabelecia com as mulheres de sua vida.

"Adoro a série e acho que ela reflete nosso tempo", diz Nowill. "Mas ela foi criada a partir de alguns pontos de vista que obviamente não contemplam nem agradam a todos os olhares de espectadores de diferentes gerações. Não sei se as críticas procedem ou não. Asérie é uma obra de ficção com personagens que são complexos e contraditórios. Acho que não dá para querer pautar as coisas de forma rígida quando a gente vai para o campo da arte."

A princípio em cartaz até o dia 16, "Pagu - Até Onde Chega a Sonda" é, para Nowill, uma oportunidade não apenas de apresentar como de conectar as ideias de Patrícia Galvão a uma nova geração que, assim como ela, ainda busca uma forma de conciliar a luta contra o machismo e a paz de poder apenas existir.

"Ainda sofremos com o machismo, ponto. Desde a divisão de tarefas em casa, até o salário. E sobretudo no prazer. Mas a gente fala sobre ele em casa. É complicado porque são coisas arraigadas e eu também sou machista. Mas vou criar meus filhos falando e mostrando outros jeitos. Entendo que quanto maior a vulnerabilidade de uma situação social e econômica de uma mulher, mais o machismo é fatal. Por isso também que este é um tema tão urgente."

Pagu - Até Onde Chega a Sonda

  • Quando Ter. a sex. às 17h30 e 20h30; até 16/12
  • Onde Sesc Pompeia (R. Clélia, 93 - Pompeia)
  • Preço R$ 30,00
  • Elenco Martha Nowill
  • Direção Elias Andreato
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