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'Aldeotas', peça de Gero Camilo, vira filme e mantém o lirismo

Festejada nos anos 2000, obra ganha adaptação para o cinema com os mesmos atores da montagem de estreia

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São Paulo

Aldeotas

  • Onde Em cartaz nos cinemas
  • Elenco Gero Camilo e Marat Descartes
  • Produção Brasil 2022
  • Direção Gero Camilo

"Aldeotas" foi um dos espetáculos mais aplaudidos do teatro paulista nos anos 2000. Além de ter sido bem recebida pela crítica, a peça fez diversas temporadas em São Paulo e passou pelos principais festivais do país.

Um público mais abrangente pôde, enfim, conhecer o cearense Gero Camilo, autor do texto e um dos dois nomes do elenco. No papel do poeta Levi, Gero dividia o palco com Marat Descartes, que interpretava Elias, seu grande amigo de infância —em temporadas posteriores, Elias ficou a cargo de Caco Ciocler e Victor Mendes.

Gero Camilo e Marat Descarte em cena do filme 'Aldeotas', inspirado na peça de mesmo nome
Gero Camilo em cena do filme 'Aldeotas', inspirado na peça de mesmo nome - Divulgação

"A diretora Cristiane Paoli Quito, cúmplice de primeira hora, monta uma partitura de movimentos tão precisa que chega a ser invisível, e nesse aparente improviso Gero Camilo mostra o imenso ator que é", escreveu o então crítico da Folha Sergio Salvia Coelho em 2004, ano de estreia do espetáculo.

Quase 20 anos depois, "Aldeotas" vira filme. Os atores são os mesmos da montagem de estreia, mas desta vez o próprio Gero assume a direção. O roteiro para o cinema tem adaptações mínimas em relação à versão para os palcos.

Aos 50 anos, Levi volta à pequena Coti das Fuças para o velório de Elias, com quem viveu momentos decisivos na infância e na adolescência. O retorno à fictícia cidade natal depois de décadas distante leva o poeta a rememorar as brincadeiras de quintal, relidas pela imaginação como viagens ao centro da Terra.

Elias pergunta ao amigo sobre a "fome de conhecer o mundo". "Eu já conheço, só tô querendo é confirmar", responde Levi, entre o atrevimento e a irreverência. Juntos, lembram ainda o jornal rodado em mimeógrafo; as primeiras experiências amorosas; a opressão da família de Elias.

À frente de um filme de baixo orçamento, Gero recorre a soluções simples, que se revelam eficientes num registro apartado do realismo. É o caso do baile, em que os amigos adolescentes fazem graça ao conversar e dançar com grandes bonecas.

O texto de um lirismo raro, jamais piegas, se mantém na transposição do palco para a tela do cinema. O que, na verdade, se perde nessa transição é a força dos movimentos corporais, que fascinavam o espectador do teatro. Essa diferença não se deve a deficiências da direção ou do elenco do filme, é apenas uma adequação ao que funciona ou não na linguagem do cinema.

Nesse sentido, é preciso reconhecer que o filme não alcança o grau de arrebatamento do teatro. Ainda assim, algo daquela epifania de "Aldeotas" se preserva, em grande parte devido às atuações de Gero e Marat. Eles demonstram domínio sobre cada palavra em diálogos que reverberam tanto o encantamento quanto a carga dramática presentes na vida de dois garotos sensíveis em um lugar que não os compreende.

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