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'O Enfermeiro da Noite': A colega que ajudou a prender serial killer e inspirou filme

Longa da Netflix é inspirado na história real de funcionário que mudava de hospitais para matar pacientes

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Emma Saunders
BBC News Brasil

Disponível na Netflix, o filme "O Enfermeiro da Noite" conta a história de um dos serial killers com mais crimes dos Estados Unidos e tem dois atores ganhadores do Oscar como protagonistas, Jessica Chastain e Eddie Redmayne.

Dirigido por Tobias Lindholm, o filme tem bastante tensão psicológica, mas não é o típico suspense sensacionalista sobre assassinatos.

"O Enfermeiro da Noite", da Netflix.
Eddie Redmayne e Jessica Chastain em "O Enfermeiro da Noite", da Netflix - Divulgação

Baseada no livro de mesmo nome do jornalista Charles Graeber, a narrativa do filme se concentra na história real não do assassino, mas de como a enfermeira Amy Loughren ajudou a acabar com as ações hediondas do colega enfermeiro Charles Cullen.

Cullen matou dezenas de pacientes sob seus cuidados ao longo de mais de uma década trabalhando em vários hospitais dos Estados Unidos.

Enquanto Redmayne oferece uma interpretação ameaçadora e sutil como o assassino, a estrela do filme é o heroísmo exibido pela personagem de Chastain, uma mãe solteira que sofre de um problema cardíaco enquanto trabalha em uma profissão física e mentalmente exigente.

Chastain diz que esse ângulo foi o que a atraiu para o filme.

"Normalmente, fetichizamos violência e assassinato e [temos] uma necessidade de realmente explorar o indivíduo que foi responsável por isso. Mas e se explorarmos o indivíduo que impede isso?", afirma a atriz.

"Perdi alguém muito próximo de mim. E quando você perde alguém... Como fazer uma história sobre a morte somente para entreter?"

A personagem de Chastain, Amy Loughren, formou um vínculo estreito com Cullen enquanto trabalhavam no turno da noite juntos no Somerset Medical Center, no estado americano de Nova Jersey, no início dos anos 2000.

Ele a ajudou a cuidar das filhas e a substituiu quando ela sofreu uma grave falta de ar devido a seu problema cardíaco. Ele era seu confidente.

Depois que várias mortes suspeitas no hospital levaram a uma investigação, a polícia pediu a Loughren para ajudá-los.

Ela forneceu-lhes provas e acabou desempenhando um papel crucial na extração da confissão de Cullen. No entanto, aceitar que um amigo próximo poderia ter cometido crimes tão terríveis teve seu preço.

Loughren, que agora está bem de saúde, diz que sentiu muita culpa.

"Lutei com a culpa de sentir falta dele [Cullen]. Lutei com a culpa de não ver que esse amigo também tinha um lado sombrio e monstruoso", diz ela. "E eu não queria ver. Eu queria acreditar que ele matava por misericórdia para que eu ainda pudesse me importar com ele. Mas ele não era um assassino que matava por pena. Ele era um assassino a sangue frio. E eu realmente me culpei por não ter visto isso."

Hoje ela é mais gentil consigo mesma.

"Eu literalmente arrisquei tudo para ter certeza de que seria preso. E me esforcei todos os dias, não importa o quão doente eu estivesse. Ao vê-la [Jéssica Chastain, no filme], pude me orgulhar dessa personagem. Abriu espaço para eu dizer: 'Eu fiz a coisa certa'."

Críticas positivas

As críticas ao filme foram amplamente positivas. O crítico Kevin Maher, do jornal britânico The Times, deu quatro estrelas ao filme.

"Eddie Redmayne brilha neste suspense", escreveu. "O filme descreve os crimes de um predador e psicopata, mas é realmente sobre as desigualdades do sistema de saúde dos Estados Unidos."

John DeFore, do The Hollywood Reporter, descreveu-o como "uma tragédia emocionante sobre um crime real, mas não manipuladora".

Houve algumas críticas negativas, no entanto. Mae Abdulbaki, do site Screen Rant, descreveu-o como um "drama policial comum que não se destaca".

Mark Hanson, do site The Slant, deu apenas duas estrelas. "[No final] Redmayne está furioso com tal talento histriônico que o filme de repente parece completamente desprovido de qualquer semelhança com a realidade."

O cineasta dinamarquês Tobias Lindholm diz que quase não acreditou na história de Amy Loughren quando leu pela primeira vez o roteiro de Krysty Wilson-Cairns, alguns anos atrás. Decidiu que teria de se encontrar pessoalmente com a enfermeira para verificar se era realmente verdade.

"Eu a conheci em Nova York... E tudo foi confirmado. Além disso, ela era mais brilhante do que eu pensava, mais humana. Sua doença [do coração] tinha sido muito pior [do que eu pensava]", afirma.

Lindholm estava acostumado a "fazer filmes com meus nove melhores amigos" em Copenhague. Ele nunca havia feito um filme de um estúdio de Hollywood antes e achava que nunca faria. Ele também nunca havia feito um filme em inglês. Mas conhecer Loughren o fez mudar de ideia.

"Ali, decidi que faria um filme americano e tentaria fazer isso funcionar... Fazer uma história sobre a humanidade, sobre a força de um indivíduo em todo esse sistema que não funciona."

O sistema ao qual ele se refere é o que permitiu que Cullen mudasse de hospital a hospital, dando-lhe a oportunidade de cometer mais assassinatos.

Ele foi demitido de cinco empregos e pediu demissão de outros dois por causa de preocupações com suas práticas.

Mas, ao longo de uma carreira de 16 anos, ele sempre encontrou um novo emprego. Acredita-se que isso ocorreu em parte porque os hospitais não compartilharam suas suspeitas sobre ele por medo de serem processados.

No filme, a equipe jurídica do Somerset Medical Center e a diretora de gerenciamento de risco do hospital (interpretada por Kim Dickens) tentam manter a polícia à distância, insistindo que eles estão realizando uma investigação interna aparentemente interminável sobre qualquer possível irregularidade.

"Como consequência do caso de Charles Cullen, sempre que alguém é denunciado, seus registros agora têm que ser mantidos por sete anos. O fato de que isso já não estava acontecendo é surpreendente", diz Redmayne. "O fato de ele ter tido acesso a essas pessoas vulneráveis é muito chocante."

O sistema de saúde dos Estados Unidos é questionado novamente no filme quando destaca claramente a luta de algumas pessoas no país para ter acesso a cuidados de saúde.

Loughren estava doente demais para trabalhar, mas não conseguiu cobertura do seguro de saúde até ter trabalhado no hospital por um ano. Então ela teve de continuar trabalhando contra o conselho médico.

Em uma cena, ela é vista procurando dinheiro para pagar quase US$ 1.000 (R$ 5.000) por um exame cardíaco, e acaba pagando com dois cartões de crédito.

Atualmente, o sistema de saúde público do Reino Unido, o NHS, está sob pressão por causa de longas listas de espera para consultas de rotina e por escassez de pessoal. Mas Redmayne sugere que os britânicos devem valorizar o que ele ainda oferece.

"O filme me deixou incrivelmente grato [pelo NHS]", diz Redmayne. "Este filme deve ser visto pelos espectadores britânicos como um aviso. É muito importante porque nós achamos que nosso sistema é algo garantido. Mas no momento em que você vê Amy pondo [os gastos] em dois cartões de crédito... Espero que ajude a abrir os olhos do público britânico."

A palavra final sobre a mensagem que o filme passa talvez deva ser a de Amy Loughren, que hoje trabalha em saúde complementar.

"Esta plataforma que eu tenho neste momento é realmente sobre dar voz às vítimas... Porque todo mundo estava dizendo que [Cullen] era um assassino misericordioso e que elas iriam morrer de qualquer maneira. Mas não iam. Muitas de suas vítimas eram muito jovens. Muitas de suas vítimas estavam prestes a deixar o hospital e ele roubou suas vidas."

Este texto foi originalmente publicado aqui

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