Saiba como Berthe Morisot recriou o cotidiano com pinceladas desordenadas

Pintora criava suas telas a partir de sua realidade imediata, retratando seus familiares com estilo leve e fluido

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São Paulo

"A singularidade de Berthe Morisot era viver a sua pintura e pintar a sua vida", escreveu o poeta e filósofo Paul Valéry em 1941 sobre a artista que esteve entre os fundadores do impressionismo, mas cuja obra acabou menos conhecida do que a de seus pares.

O processo de criação de Morisot, no qual os modelos eram aqueles que estavam a seu redor —o marido, a irmã, a filha, as sobrinhas— é tema do 26o volume da Coleção Folha Grandes Pintores, intitulado "A delicadeza da intimidade".

criança usando roupa preta segurando boneca
Berthe Morisot, 'Young Girl With Doll', 1884 - wikiart.com

Não à toa, sua obra mais famosa, "O Berço", de 1872, retrata sua irmã Edna contemplando a segunda filha. A pintura, que foi elogiada pelos críticos na Primeira Exposição Impressionista por seu estilo leve e fluído, só conseguiu um comprador em 1930 quando o Louvre resolveu incluí-la em seu acervo.

No ano em que a artista participou da mostra de estreia do grupo impressionista, seu ex-professor Joseph Guichard escreveu uma carta pedindo que ela rompesse com a escola na qual estavam "todos mais ou menos ruins da cabeça".

Contrariando a vontade do mestre, Morisot se tornou uma das mais fieis integrantes das exposições. Diferentemente dos amigos impressionistas, no entanto, cujas pinceladas eram pequenas e regulares, a pintora passou a aplicar, a partir do final dos anos 1870, pinceladas longas e largas.

Ao analisar as obras "Criança em Meio às Malvas", de 1881, e "Mulher com Criança em Um Prado em Bougival", de 1882, a coleção mostra como as duas telas, caracterizadas por uma profusão de pinceladas desordenadas, fazem de Morisot uma precursora – essas formas, que pareciam quase se desmanchar, apareceriam depois nas Ninfeias de Monet.

À época em que foram exibidos, porém, os trabalhos decepcionaram até mesmo os admiradores da artista, que consideraram o resultado muito imaginário.

Por todas essas adversidades, a pintora duvidou do seu talento até o fim da vida. "Faz muito tempo que não espero nada, tanto que o desejo de glorificação após a morte me parece uma ambição excessiva", ela escreveu em 1890, cinco anos antes de sua morte.

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