Ator de 'Round 6' hesita ao escolher entre Brasil e Coreia do Sul na Copa do Mundo

Em passagem pela CCXP em São Paulo, Park Hae-soo exaltou a cultura coreana e comentou sobre a nova 'La Casa de Papel'

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São Paulo

A pergunta pegou Park Hae-soo mais desarmado que a defesa da seleção brasileira nesta Copa do Qatar. "Para quem você vai torcer no jogo desta segunda?" Ganhando tempo para pensar, ele responde que já estava esperando ouvir isso, mas era obviamente um disfarce. Ele é um bom ator.

Hae-soon —em coreano, o primeiro nome vem depois do sobrenome— estava bem mais confortável respondendo a perguntas sobre "Round 6", o enorme sucesso da Netflix. Seu personagem nele, Cho Sang-woo, resistiu bravamente até o duelo final nos jogos mortais que estão no centro da história cativante.

Homem olha seriamente no centro da imagem
O ator Park Hae-soo em cena da série sul-coreana 'Round 6' - Reprodução

Se você não sabe quem vence a última prova, o "sexto round", não vai ser este texto que dará o spoiler, mas seja bem-vindo de volta à Terra. Não há ninguém apaixonado por séries que não tenha pelo menos esbarrado nessa produção sul-coreana e o apelo internacional de "Round 6" ainda é um mistério para Hae-soo.

"Sabíamos que estávamos fazendo um trabalho bom, que tinha chances sim de falar com um público maior que o da Coreia do Sul, mas o que aconteceu foi um fenômeno e pegou todo mundo de surpresa", conta o ator.

Inclusive a Netflix, que com "Squid Game", o nome original da história, ou o jogo da lula, em português, conseguiu mais de 1,5 bilhão de horas vistas nessa que é até agora seu produto de maior sucesso.

Sang-woo abriu infinitas possiblidades para Hae-soo. "Eu acho que tenho grandes chances de participar de produções internacionais, mas por enquanto tenho muitos trabalhos na indústria de entretenimento do meu país", conta ele. O principal deles atualmente é a versão coreana de "La Casa de Papel", outro sucesso internacional do serviço de streaming.

Originalmente produzida na Espanha, "La Casa" pôs no imaginário pop personagens incrivelmente violentos com nomes de cidades —Tóquio, Lisboa, Berlim, Nairóbi, Estocolmo e até Rio. Além de, claro, o Professor. O objetivo maligno —um grande assalto à Casa da Moeda em Madri. Mas eles alcançaram muito mais que isso.

Nas suas cinco temporadas, a série virou um fenômeno cult, dando origem a todas as ramificações que a cultura pop proporciona, de teorias conspiratórias a máscaras de Carnaval. E, com a versão sul-coreana, esse status só tente a crescer. "Adaptamos alguns personagens da versão espanhola, para os inserir mais na cultura coreana, mas os aspectos principais da história estão lá", diz Hae-soo, que é um dos personagens principais da adaptação.

A segunda temporada estreia nesta sexta-feira e, pelo breve trecho que foi apresentado na CCXP22, a grande exposição pop que aconteceu no último fim de semana em São Paulo, motivo da visita de Hae-soo ao Brasil, os fãs podem esperar mais ação e violência do que em "La Casa" de Madri. Como se isso fosse possível.

E provavelmente será um sucesso. Mais um na agressiva e não tão discreta assim estratégia de inserir a Coreia do Sul no mercado mundial do entretenimento. Pode chamar de Hallyu se quiser.

É com essa expressão, de preferência acompanhada por um gesto que faz um pequeno coração com seus dedos indicador e polegar (sim, já existe um emoji para isso), que os artistas coreanos definem seu avanço pelo planeta. Você se lembra de onde é "Parasita", o único filme em língua estrangeira a ganhar o prêmio maior do Oscar? Então, tem a ver com isso.

O investimento em produtos culturais de qualidade não se resume a filmes e séries. O Hallyu tem um tentáculo poderoso também na música com o k-popBTS é só a ponta do iceberg. Esteja preparado para ver garotas e garotos histéricos diante de nomes talvez ainda desconhecidos por aqui como Blackpink, Super Junior, T-ara, ONF, New Jeans, ENHYPEN... A lista de talentos emergentes é enorme.

"Acho que o mundo está descobrindo que a Coreia tem coisas interessantes para oferecer", afirma Hae-soo. "E o mundo está descobrindo que temos coisas em comum." Parece mesmo um caso feliz de "match", para usar uma expressão forte da geração que está pronta para consumir artistas e bandas sul-coreanas. Mas nada acontece por acaso.

Uma exposição em cartaz até junho do ano que vem no museu Victoria & Albert de Londres mostra claramente como essa "invasão" tem sido cuidadosamente planejada por anos, talvez décadas. "Hallyu - The Korean Wave" é não só reveladora nesse sentido, como também divertida.

Pelas suas salas coloridas, é possível ver de perto uma reprodução do banheiro da casa da família pobre de "Parasita", conferir os modelos mais ousados criados por estilistas sul-coreanos, fazer selfies com os guardas de "Round 6", se sentir dentro de uma cena de "Oldboy", um clássico contemporâneo do diretor Park Chan-wook, ou se imaginar dentro do clipe de "Gangnam Style", de Psy.

Como afirma o primeiro texto do catálogo da mostra, essa pequena revolução é resultado de uma mistura da capacidade sul-coreana de assumir riscos e inovações com uma atitude "ppalli-ppalli", ou "rapidinho", onde tudo deve ser feito às pressas. E que vem dando muito certo.

Na exposição, é possível ver que a Coreia do Sul nunca foi escassa de talentos, com exemplos musicais e visuais que vêm desde os anos 1960. Mas dos anos 1990 para cá, Hallyu se tornou um movimento sério, que hoje faz com que BTS e "Round 6" estejam nas rodas de conversa de jovens do mundo todo.

Impossível não pensar na mesma estratégia que os Estados Unidos usaram para levar sua cultura pelo mundo no século 20 com a máquina de Hollywood e um punhado de bons músicos, para dar apenas os exemplos mais óbvios. Mas no pop cabe tudo e, se as pessoas estão se divertindo, tanto faz de onde vem o que elas consomem.

"Eu acho que essa interação da Coreia do Sul com outras culturas só deve aumentar", palpita Hae-soo, que não tem pudor em encarnar um embaixador informal da cultura de seu país. Concentrado e sempre correto, como na imagem que temos do comportamento sul-coreano, ele espera continuar fazendo um bom trabalho. Que começou, aliás, em novelas sul-coreanas.

No fim da conversa, a insistência para Hae-soo apontar um vencedor do jogo entre Brasil e Coreia do Sul que ocorre nesta segunda-feira faz ele responder com mais sorrisos. "Espero que a gente veja uma grande partida", diz suavemente. Mas se o jogo em campo ainda não está decidido, nas telas a gente já sabe que os sul-coreanos estão ganhando de lavada.

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