Diplomata Antonio Patriota lança disco e comenta diferenças entre carreiras

Segundo álbum do ex-chanceler, que usa o pseudônimo Tonio de Aguiar, tem produção de Leo Gandelman e mistura samba e jazz

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São Paulo

Lançado nas plataformas de streaming, no mês passado, "Estuário", com 11 faixas autorais, é o segundo álbum do pianista e compositor carioca Tonio de Aguiar, pseudômino do diplomata Antonio de Aguiar Patriota, ex-ministro das Relações Exteriores do governo Dilma Rousseff e atualmente embaixador do Brasil no Egito e na Eritreia.

O compositor Tonio de Aguiar lançou em 2019 o álbum "Geografia do Sentimento", ano em que o diplomata Patriota também foi nomeado embaixador dos países africanos, pelo presidente Jair Bolsonaro, do Partido Liberal.

O diplomata e ex-ministro de Relações Exteriores Antonio de Aguiar Patriota, que tem carreira na música como Tonio de Aguiar
O diplomata e ex-ministro de Relações Exteriores Antonio de Aguiar Patriota, que tem carreira na música como Tonio de Aguiar - Ayman Lotfy/Divulgação

Perguntado sobre como concilia as duas funções, a de músico e a de embaixador, Patriota disse serem atividades facilmente conciliáveis. "A música me faz companhia à noite, depois das obrigações profissionais. O ‘compositor’ é um personagem que só apareceu recentemente na minha biografia. Ainda estou explorando esse terreno."

Em qual das funções o diplomata músico se sente mais realizado? "As funções são de natureza diferente e as realizações também. A diplomacia é uma profissão em que encontrei enorme realização e à qual me dedico com entusiasmo há 40 anos. A música foi durante muito tempo um passatempo. Ter encontrado músicos como Leo Gandelman [saxofonista e produtor musical] que se dispuseram a tocar um repertório de minha autoria comigo foi uma realização inesperada, aos 68 anos."

Sabemos que, entre outras qualidades, conhecimento, astúcia, gentileza, educação, ponderação, sensatez e habilidade política são essenciais no desempenho da função de diplomata. E, para ser músico, quais seriam as exigências mais importantes?

Segundo Patriota, "há uma palavra que talvez encapsule o mais importante que é ‘sensibilidade’". "Mas isso não significa que a disciplina ou o desenvolvimento de uma cultura musical sejam menos importantes."

Ao definir música e diplomacia, Patriota faz uma reflexão sobre a possibilidade de relacionar os dois campos em que atua.

"Música é uma forma de expressão não verbal que associa sentimento, emoção, pensamento a um universo sonoro de infinitas possibilidades estéticas. Diplomacia é diálogo entre nações soberanas, defesa de interesses nacionais pela negociação, representação de uma identidade específica, promoção da cooperação. A relação com a música não é óbvia. Digamos que em ambos os campos a sensibilidade faz diferença. Mas nenhum dos dois campos pode prescindir do estudo."

Aos oito anos de idade, Patriota iniciou seus estudos no piano, no Conservatório de Música da rua Graça Aranha, no Rio de Janeiro. Lá, foi aluno da professora Helena Gallo. Já adolescente teve aulas particulares, em Genebra, com Arié Dzierlatka. "Um pianista e compositor, de origem polonesa, responsável por várias trilhas sonoras para filmes, em particular do diretor Alain Resnais."

A maior lição que Patriota, ou melhor, Tonio Aguiar aprendeu com seus mestres foi saber que nunca seria um pianista clássico, já que era um aluno "razoavelmente" indisciplinado.

"Aprendia de cor as partituras e não desenvolvi a capacidade de ler música com fluência. Dzierlatka me apresentou aos impressionistas Ravel e Debussy. Foi uma revelação! As harmonias jazzísticas me fascinavam. Ele era um homem de vasta cultura musical, artística, literária. Me fez escutar compositores como Schoenberg e Webern. Lia trechos de Samuel Beckett, comentava os filmes da época."

Sobre "Estuário", gravado no Brasil com produção e direção do saxofonista Leo Gandelman e participação especial de Paula Morelenbaum, cantando "Portami con Te", e de João Cavalcanti, mandando muito bem no samba "Carnaval do Ano que Vem", Patriota disse que mora "há três anos no Cairo, à margem do rio mais longo do mundo [Nilo] e não distante de seu delta, no Mediterrâneo".

"Quando escolhi um repertório de músicas compostas predominantemente no Egito, pensei no processo criativo individual como um percurso que se assemelha ao de um rio. O encontro com o mar é o momento da partilha com outros ouvintes. 'Estuário' representa a transformação de um diário musical íntimo em um produto de consumo mais amplo."

E o que as pessoas devem ter em mente ao ouvirem "Estuário", álbum que apresenta uma diversidade de gêneros musicais, na qual se nota a presença de balada, samba, jazz e bossa nova? "Nenhuma expectativa específica. Como quem toma um avião sem saber para onde vai."

Estuário

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