Catedral de Niemeyer pode virar nova Sagrada Família, com obra interminável

Dez anos após morte do arquiteto, igreja em Belo Horizonte integrará ainda museu, escritórios, teatro e praça

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Belo Horizonte

No decorrer de sua celebrada carreira, Oscar Niemeyer imprimiu suas marcas em obras espalhadas por cidades brasileiras. Entre casas, memoriais, museus e igrejas, algumas ainda seguem em construção dez anos após a sua morte, completados nesta segunda-feira. É o caso da catedral Cristo Rei, última obra do arquiteto projetada para a cidade de Belo Horizonte.

No norte da capital de Minas Gerais, o projeto foi desenhado para uma demanda da Arquidiocese de Belo Horizonte. O pedido foi feito pessoalmente por dom Walmor Oliveira de Azevedo ainda em 2006. A construção deve durar entre cinco e oito anos, a depender da arrecadação de recursos.

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Projeção de como será a catedral Cristo Rei, em Belo Horizonte, última obra do arquiteto Oscar Niemeyer para a capital mineira - Divulgação/Arquidiocese de BH

A construção, iniciada em 2013 no bairro Juliana, atende um desejo da arquidiocese de estar mais próximo às demais cidades da região metropolitana, onde 27 outros municípios são atendidos.

"A catedral Cristo Rei está sendo edificada em uma região mais afastada do centro e dos bairros mais ricos. Está mais próxima dos simples e dos humildes, justamente para ser presença ainda mais marcante para aqueles que mais precisam de ajuda", diz dom Walmor.

Além da localização de fácil acesso, a catedral Cristo Rei também está relativamente perto do Conjunto Arquitetônico da Pampulha, reconhecido pela Unesco como patrimônio mundial da humanidade, fator que, para o engenheiro diretor da arquidiocese Rômulo Albertini, pode facilitar a criação de um circuito turístico.

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Obra da catedral Cristo Rei, último projeto de Oscar Niemeyer, em Belo Horizonte - Divulgação/Arquidiocese de BH

Apesar da proximidade com as outras obras, especialmente a igreja São Francisco de Assis da Pampulha, o professor Rodrigo Queiroz, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, considera fundamental distinguir as características que marcam momentos distintos da carreira de Niemeyer.

Enquanto a capela da Pampulha carrega a poesia do modernismo, a catedral Cristo Rei faz parte do último movimento de um arquiteto já idoso. "Por maior que seja a Cristo Rei e que ela possa ter uma capacidade de abrigar um público maior, ela jamais vai ocupar o lugar histórico da igreja de São Francisco", comenta Queiroz.

Segundo o professor, também faz parte do contraste entre as obras mais "jovens" e as finais de Niemeyer uma monumentalidade presente na catedral e em outros trabalhos como a própria Cidade Administrativa, sede do governo mineiro. "É como se fosse um coroamento do último ato de um artista que teve uma carreira muito longeva", diz o professor, ressaltando que é difícil comparar as construções de cada fase.

Sendo a catedral uma construção póstuma, Queiroz ressalta a importância de observar as diferenças entre o projeto original e a execução.

"São estruturas muito complexas que podem não ter condições de serem executadas. Do ponto de vista construtivo, dá para observar que a obra é diferente da maquete eletrônica", diz o professor, a partir de observações da cúpula do templo e das torres. "É uma arquitetura que fica muito mais no campo da escultura".

Além dos obstáculos arquitetônicos impostos pelas obras, como o design arrojado e curvilíneo, Albertini, o diretor da arquidiocese, também lembra a dificuldade de financiamento da obra.

"A construção caminha conforme os recursos são arrecadados. É uma obra feita com as doações dos fiéis, a obra vai evoluindo conforme vão arrecadando os recursos", diz o engenheiro, destacando que são as pequenas contribuições mensais que têm feito um grande volume ao longo dos anos.

Além do templo, a construção prevê a criação de museu, escritórios administrativos, teatro com capacidade para 800 pessoas, uma praça e um espaço para acolhida solidária, voltada ao atendimento à população carente.

Para o próximo ano é esperado que a infraestrutura do templo, ponto mais alto do conjunto, já esteja concluída e possa receber fiéis para a missa que celebra os 102 anos da arquidiocese de Belo Horizonte, em fevereiro do ano que vem.

Apesar dos anos de trabalho que ainda estão por vir —uma estimativa entre cinco e oito anos, a depender de fatores como a arrecadação—, as expectativas são que o templo se torne referência para a região metropolitana, e fiéis de todo país, tanto em termos religiosos quanto de atendimento à comunidade local.

"Oscar Niemeyer disse que a catedral Cristo Rei será o lugar mais visitado de Belo Horizonte, por sua beleza e por tudo o que vai significar no que se refere aos serviços dedicados à população. Compartilho dessa visão do arquiteto, pois considero a Cristo Rei um instrumento da Igreja para servir a sociedade e também uma verdadeira obra de arte", conclui o arcebispo.

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