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Moda Itália

Looks sóbrios guiaram as semanas de moda de uma Europa em crise

Desfiles masculinos em Milão e Paris prezaram por sobriedade com pouco brilho, e Gucci estreou sem Alessandro Michele

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São Paulo

Com uma possível recessão à vista na Europa e a Guerra da Ucrânia fazendo aniversário, o cenário é duro e parece não haver muito espaço para brincadeiras.

A aspereza do momento pede roupas mais sérias, segundo boa parte dos desfiles apresentados nas semanas de moda masculina de Milão e Paris, que se estenderam pelos últimos 15 dias.

"É um momento complicado no mundo —e nós reagimos a ele", disse Miuccia Prada, definindo a coleção que desenhou com Raf Simons para a grife que leva seu sobrenome mas também o clima geral das passarelas de luxo.

Modelo desfila para a Louis Vuitton na Semana de Moda de Paris - Emmanuel Dunand -19,jan.23/AFP

Nesta temporada de outono e inverno 2023, estas ideias se traduzem em guarda-roupas repletos de peças sóbrias e que podem ser utilizadas em várias ocasiões, numa paleta com azuis, cinzas, brancos e pretos, e silhuetas amplas, dando bastante movimento ao corpo.

Ao mesmo tempo, os longos casacos acinturados apresentados por várias marcas e também os homens de saia no desfile da Dior querem confundir o masculino e feminino, trazendo para a costura de luxo a pauta da fluidez de gêneros.

A Gucci abriu a temporada em Milão com um desfile bastante esperado, no qual mostrou sua primeira coleção desde a saída de seu emblemático diretor criativo Alessandro Michele, no final de novembro. A apresentação, desenhada conjuntamente pelo estúdio criativo da marca de Florença, buscou inspiração no guarda-roupa masculino clássico, adicionando um toque de subversão.

Os modelos usavam casacos largos com ombreiras e saias longas, além de gorros de lã e bolsas tiracolo retangulares. Jeans desbotados e blusas de lantejoulas vieram combinadas com botas de salto verde, vermelho ou rosa. Apesar de algum brilho, era no geral uma seleção mais discreta, em contraste à era Michele, que fez as vendas da marca explodirem com seu desenho estampado e lúdico.

Discrição marcou também o desfile da Prada, com os modelos vestindo calças de alfaiataria mais curtas no tornozelo, sobretudos longos e tote bags retangulares com garrafas de água aparecendo. Preto, azul, verde, cinza e branco —nenhuma cor grita no outono da marca, marcado por modelagem geométrica de linhas retas. O inesperado ficou ficou por conta das jaquetas acolchoadas, de formas arredondadas.

No desfile de Giorgio Armani, sutilmente inspirado pela arquitetura de Milão, o que se viu foi o corte preciso que define a moda italiana. Calças cargo de alfaiataria, casacos, bolsas e sapatos na cor preta, lãs e veludos cinzas texturizados apareceram na passarela do Palazzo Orsini, a sede da marca. As peças de ski em vermelho e um longo sobretudo em animal print lembrando um tigre deram um toque de espontaneidade.

Em Paris, a maratona fashionista teve como auge o desfile da Louis Vuitton, dada a expectativa em torno da direção criativa da marca desde a morte de Virgil Abloh. Ainda sem anunciar oficialmente o sucessor do designer, a etiqueta chamou o jovem nova-iorquino Colm Dillane, da marca KidSuper, para desenvolver a coleção de outono-inverno.

A escolha pode ser lida como um indicativo de que a etiqueta segue ousando, ou seja, caminhando na trilha iniciada por Abloh, o fundador da Off-White que morreu de câncer em 2021 depois de tornar a Louis Vuitton, uma marca tradicionalmente associada à tradição e à riqueza, desejável para quem curte street wear.

Os modelos desfilaram ao som da diva pop Rosalía, trazendo à passarela a estética infantil da KidSuper. Isso apareceu, por exemplo, num conjunto de blazer e calça de alfaiataria estampado com maçãs multicoloridas, numa jaqueta estofada cinza com manchas verdes, num blazer acinturado e que chegava até os joelhos com gola verde e amarela, e nos rostos gigantes estampados em casacos. Foi uma explosão de cores e formas diferente da sobriedade reinante.

Quem também trouxe estamparia foi o belga Dries Van Noten, levando para uma passarela de ares industriais suas peças com motivos florais e botânicos em modelagens amplas, como camisas e camisetas com mangas que, de tão longas, cobrem as mãos, blazers que parecem dois números acima das medidas do modelo e casacões de inverno que se estendem quase até o joelho.

Segundo o designer, um dos principais estilistas belgas ao lado de Raf Simons, a coleção traduz "a liberdade da autoexpressão da cultura das raves dos anos 1990 combinada com a beleza surreal da natureza". Van Noten é conhecido pelo uso de estampas botânicas, e nesta temporada ele manteve a temática valendo-se de uma paleta mais apagada, sem cores cintilantes ou exageradas.

Modelo desfila look da Dior em Paris - Geoffroy Van Der Hasselt -20.jan.23/AFP

Não que Paris tenha sido o oposto de Milão. No desfile da Saint Laurent, por exemplo, predominou o preto, em looks elegantes e monocromáticos de silhuetas longas e fluidas e cinturas estreitas, criando um diálogo da moda masculina com a feminina. Boa parte das peças envolvia o corpo, o pescoço e até o rosto, com golas e capuzes avantajados, empréstimos da última coleção feminina da marca.

"Eu realmente quero que eles sejam quase uma pessoa", disse o designer da Saint Laurent, Anthony Vaccarello. "Assim, as mulheres podem ser os homens e os homens podem ser as mulheres. Nenhuma diferença. Quero cada vez mais colocá-los no mesmo nível. Sem distinção."

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