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'O Pior Vizinho do Mundo' não tem vida, mas tem o Tom Hanks

Filme sobre vizinho emburrado que amolece é burocrático e tem final água-com-açúcar, mas acerta no elenco

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O Pior Vizinho do Mundo

  • Onde Nos cinemas
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Tom Hanks, Mariana Treviño, Rachel Keller
  • Direção Marc Forster

A vantagem de ter Tom Hanks no elenco é que ele resolve todas. Ele pode ser náufrago, professor, advogado, um tonto de corre e conta histórias, o que for: nunca se pode dizer que está mal. Desta vez, em "O Pior Vizinho do Mundo", ele é o emburrado e obsessivo Otto, uma espécie de prefeito da idílica vila em que mora, e onde vive atormentando a vizinhança com sua implicância pelas pequenas coisas.

Não é preciso ser adivinho para saber que, sob a aparências sombria vive um dos melhores vizinhos do mundo. Sua trajetória de um extremo a outro é o que pode ou não ser interessante, cômico ou comovente.

Tom Hanks em cena do filme 'O Pior Vizinho do Mundo'
Tom Hanks em cena do filme 'O Pior Vizinho do Mundo' - Dennis Mong/Divulgação

O fato é que por trás de Otto existe uma história, a de sua mulher. Conhecemos um pouquinho mais da trama a cada tentativa frustrada de suicídio perpetrada pelo homem, para quem a vida não faz sentido desde que sua inesquecível Sonya deixou este mundo.

Talvez o que o tenha salvo de novos atentados à própria vida seja a mudança para uma casa em frente à sua da intrépida Marisol, uma mexicana. Marisol é o que se pode chamar de desinibida. Não hesita em bater à porta de Otto, oferecer-lhe comida —fazer boa vizinhança, enfim, quase sem se dar conta de que lida com um viúvo hidrófobo, ou quase isso.

Pode-se aceitar a premissa, por velha que seja: por trás da máscara é que está o verdadeiro ser humano. Nossa história tratará de resgatá-lo, mas para isso Marisol terá de suar muito.

Enquanto ela se esforça, o filme se desenvolve num andar irritantemente burocrático: nada parece capaz de lhe dar vida, exceto alguns achados de casting —Marisol e, claro, Otto— e personagens, como Malcolm, o trans. Marc Foster deixa escapar quase tudo sob o seu nariz. Por exemplo, mal se percebe de que o assunto do filme não são bem os efeitos da morte de Sonya sobre Otto, mas sim o fim de um mundo.

Otto lamenta o fim do mundo em que viveu com Sonya, em que a especulação imobiliária não atormentava os donos das casas, em que os americanos compravam carros feitos nos EUA (sim, estamos num vasto merchandising de Ford e Chevrolet), em que quando falávamos com uma companhia telefônica do outro lado da linha havia algum ser humano. É à humanidade que respeita regras inúteis e desrespeita aquelas que podem ser úteis que Otto nomeia como um banco de idiotas.

Pode até ser, mas seu mau humor é conveniente para desenvolver um tipo de hawksianismo de algibeira. Com exceção dos momentos em que leva flores ao túmulo de sua amada imortal, Otto não se comove com nada e com ninguém. Faça um gesto simpático e ele responderá com indiferença. Assim prepara-se o final água-com-açúcar da trama (desses que, cá entre nós, faria Howard Hawks se revirar de ódio na tumba; Clint Eastwood, de cujo "Gran Torino" este filme não deixa de ser um decalque pálido, também não há de sorrir demais).

Quer dizer que "O Pior Vizinho do Mundo" é um mau filme? Não, porque tem Tom Hanks, e a ele pode-se entregar o pior ou o melhor papel, ele sempre terá versatilidade bastante para honrá-lo e buscar algo encantador ali. No mais, a mexicana Mariana Treviño, como Marisol, irradia uma simpatia capaz de contagiar mesmo o sorumbático Otto.

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