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Wilson Gomes estreia coluna na Ilustrada dizendo que sua cachaça é a democracia

Doutor em filosofia e professor da UFBA passa a escrever às terças-feiras no site do jornal e às quartas-feiras no impresso

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São Paulo

Wilson Gomes, de 59 anos, não gosta de escrever em jornais. "Deadline é uma coisa que me deixa mal. Passei muitos anos escrevendo nas redes sociais recusando convites da mídia. Eu gosto mesmo é de escrever na hora que tenho vontade", afirma.

Entretanto, ele conta, o Brasil contemporâneo mostra a necessidade que a tarefa tem de ser executada. Gomes passa a escrever semanalmente na Ilustrada a partir desta terça no site do jornal e às quartas na edição impressa, depois de ser colunista da Ilustríssima.

Professor Wilson Gomes, professor titular da UFBA, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital - Raul Spinassé - 28.mai.19/Folhapress

"O país está conflagrado", diz o doutor em filosofia pela Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino, em Roma, e professor titular de teoria da comunicação na UFBA, a Universidade Federal da Bahia. Ele começou a escrever para veículos de imprensa em 2018. "E não por acaso", ele diz. "Foi o ano que o inverno chegou."

Em um país de cotidiano marcado por ânimos exaltados e sectarismo político, ele diz buscar colaborar, enquanto um "intelectual público", com a construção de um diálogo em sociedade mais aberto à pluralidade, um dos pilares de sua visão de mundo —a democracia liberal . "Minha cachaça é a democracia", diz.

Ignorar a cartilha de ativismos e escutar quem pensa diferente são outras premissas que orientam as análises de Gomes. Ele defende que o debate público, mediado pelos meios digitais, está repleto de opiniões sem equilíbrio.

"Dizem que uma regra básica do colunista é nunca ler os comentários, porque vemos neles o pior das pessoas. Mesmo em um ambiente moderado como o da Folha, elas são muito ferozes", diz. Mas no frigir dos ovos, é no ambiente digital em que o debate público está, gostemos ou não do atual estado dele.

A democracia digital é um tema de pesquisa de Gomes há pelo menos 20 anos. Ele é um dos coordenadores do Ceadd, o Centro de Estudos Avançados em Democracia Digital, da faculdade de comunicação da UFBA.

Além de escrever na Folha, para a revista Cult e comentar na rádio Metrópole, de Salvador —onde ele vive—, Gomes tem nas redes sociais outra plataforma em que escreve e analisa —o que trouxe a ele um espaço de atuação para além das salas de aula e dos artigos acadêmicos.

"Em uma plataforma como o Twitter e o Instagram você pode alcançar facilmente 8 milhões de pessoas em apenas um mês. E, enquanto professor universitário, quando tem o artigo citado 30 vezes —nossa, merece um prêmio, uma recompensa."

Além disso, nas redes, ele monitora páginas de figuras do cenário político. Acompanhar inclusive aquelas com as quais ele passa longe de concordar se tornou algo valioso, pois além da coleta de dados, é possível antecipar tendências e linhas de discurso. Ele vê o Twitter como um espaço que tende a ter debates mais qualificados.

Por outro lado, são nesses mesmos ambientes em que se vê muitos usuários interessados em falar, mas não em ouvir —o que, segundo o professor, torna o debate mais ralo, baseado em clichês, bolhas de afinidades. Mas é onde as coisas estão acontecendo.

"O papel dos intelectuais é dar uma contribuição ao debate público, sabe Deus se ela é eficiente ou não", diz. "É isso ou desistimos da democracia."

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