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Brasil leva thriller sangrento com Malu Galli e reflexão sobre Guarulhos a Berlim

Bem diferentes, 'Propriedade' vê revolta de trabalhadores enquanto 'O Estranho' lembra origens do aeroporto paulista

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Berlim

Dois novos longas brasileiros estão sendo exibidos em Berlim. São o paulista "O Estranho", dirigido pela dupla Flora Dias e Juruna Mallon, e o pernambucano "Propriedade", de Daniel Bandeira.

São duas propostas radicalmente diferentes. "Propriedade" é um suspense que se apresenta no evento alemão como um thriller sobre as disparidades entre classes sociais no Brasil. Trabalhadores se revoltam na propriedade da família Teresa, que foge para um carro blindado e se recusa a negociar ao ver o movimento.

Malu Galli em cena do filme 'Propriedade', de Daniel Bandeira
Malu Galli em cena do filme 'Propriedade', de Daniel Bandeira - Divulgação

Em suas cenas, parece haver várias citações a filmes do gênero. O díptico "Funny Games" —versão alemã de 1997 e outra, de 2007, para Hollywood—, de Michael Haneke, é evocado nos créditos iniciais, quando o casal sai da metrópole para o campo em um carro que vai sendo filmado por cima.

"O Iluminado", de 1980, do grande Stanley Kubrick, tem lembrada a cena da perseguição final no jardim de labirinto, aqui espertamente substituído pelos currais que levam o gado para o abate

E há, claro, "O Silêncio do Lago", curiosamente outro díptico —versão europeia de 1988 e americana de 1993—, desta vez do francês George Sluizer.

Só por isso já dá para entender por onde "Propriedade" transita, mas o filme é essencialmente brasileiro, situado no interior de Pernambuco. Daí saem bons achados, como a cena do carro de boi, que se comentada estragaria a apreciação da trama.

Bandeira claramente se diverte na direção, mas há certo exagero gore em algumas cenas e o grupo de trabalhadores que se rebelam parece um tanto sem noção. O filme, enfim, se sustenta. Malu Galli, Zuleika Ferreira, Tavinho Teixeira, Samuel Santos e Edilson Silva encabeçam o elenco.

Já "O Estranho" é de outra lavra. Com um fiapo de história, retrata a vida de alguns trabalhadores do aeroporto de Guarulhos. Mas não a parte glamourosa das viagens internacionais e dos lounges VIPs, e sim a do povo que coloca malas nas esteiras da devolução de bagagem.

Patricia Saravy e Larissa Siqueira em cena do filme 'O Estranho', de Flora Dias e Juruna Mallon
Patricia Saravy e Larissa Siqueira em cena do filme 'O Estranho', de Flora Dias e Juruna Mallon - Divulgação

Isso, no entanto, é apenas um véu sobre o que o filme verdadeiramente investiga, que é o fato de o aeroporto ter sido construído em cima de uma terra indígena e, ao chegar a Guarulhos —a inauguração foi em 1985, conforme lembrado em um diálogo—, casas e ruas foram destruídas para dar lugar à sua construção.

Daí decorre o nome do filme. O estranho do título é o próprio aeroporto. No início, vê-se um rápido e curioso jogo temporal em que a região de Guarulhos, cujo nome vem da língua tupi, é mostrada nos anos 1590, 1932, 1893, 1677 e 1492.

Delicadamente, o filme utiliza cenas estilizadas e às vezes seus personagens atuam de forma estranha, sem que se gaste tempo explicando seus porquês. Do elenco participam Larissa Siqueira, Antonia Franco, Rômulo Braga, Patrícia Saravy e Thiago Calixto.

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