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Desastroso, 'Coração de Neon' tem um roteiro que segue aos trancos e barrancos

Filme escrito, dirigido e estrelado por Lucas Estevan Soares traz em sua trama sem graça um caso de violência contra a mulher

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Coração de Neon

  • Classificação 16 anos
  • Elenco Lucas Estevan Soares, Paulo Matos, Ana de Ferro
  • Produção Brasil, 2023
  • Direção Lucas Estevan Soares

O pior de tudo, em "Coração de Neon", não é o título, que já anuncia o antiquado da coisa. Pior, pior mesmo é que tudo começa por um ponto de partida bem okay. Ali, pai, por nome Lau, e filho, Fernando, têm uma pequena empresa de mensagens amorosas.

Eles levam o recado apaixonado para alguém, acompanhado de música, flores e tal. Dispõem para tanto de um calhambeque cheio de badulaques, como corações, bexigas de ar e tal. De vez em quando, o carro emperra, o que só faria aumentar nossa simpatia por Lau e Fernando de modo que eles precisam empurrar o veículo até uma ladeira onde ele resolva arrancar outra vez.

'Coração de Neon'
Cena de 'Coração de Neon', de Lucas Estevan Soares - Divulgação

Em seu primeiro compromisso, elas batem na casa da jovem Andressa, anunciam que ela está recebendo um presente ou algo assim. Ela fica comovida, sobretudo porque o filho se põe a cantar uma música alusiva ao evento. Ela nem abriu o pacote que acompanhava as flores, quando aparece o sujeito que fez a gentil oferta.

Ao ver o rapaz, a garota, traumatizada, foge para dentro da casa. O homem desaparece. O velho Lau entra para falar com ela. Para quê? O homem aparece, xinga a moça, enfia na cabeça que Lau está transando com a garota e pimba! Ela foge apavorada, enquanto o homem manda um tiro a queima-roupa no pobre Lau, que só queria espalhar o amor por Curitiba, onde se passa o filme, mas com ambição de levar o seu negócio para os Estados Unidos. Lau morre no ato. Por alguma razão misteriosa, a polícia logo atribui o crime à mulher.

À parte a música sem graça que toca durante os créditos, é preciso dizer que Lucas Estevan Soares, responsável pelo roteiro e pela direção do filme e, no mais, intérprete de Fernando, capta uma questão-chave de nossos dias, a da violência contra a mulher. Praticado primeiro pelo criminoso e logo em seguida pela polícia.

Fernando fica inconformado com o veredicto policial. Está convencido, o que não seria difícil, que o assassino é o outro fulano. Caso ainda reste alguma dúvida, somos brindados com um primeiríssimo plano do sujeito comendo um sanduíche meio repulsivo e, entre um palavrão e outro, elogiando a qualidade da iguaria. Caso mesmo assim a gente não esteja convencida, podemos ver o meliante em ação, espancando uma outra mulher.

E assim segue a vida, envolta em um roteiro que segue aos trancos e barrancos, que por vezes nos traz a graça do cinema primitivo, evoluindo da convenção ao nonsense sem maiores mediações, mas quase sempre nos força a tolerar enquadramentos capengas, uma direção de atores que lembra teatrinho circense, uma imagem sempre desbotada, seja pela decoração seja pela luz.

Espero não estragar a surpresa de ninguém ao revelar que o sentimental Fernando vai, ao longo da trama, se tornar o cavalheiro de Andressa, porque afinal o tema da violência contra a mulher se fecha com a constatação de que toda mulher precisa, basicamente, ser protegida por um homem.

Não se trata de dizer que Lucas Estevan Soares seja um picareta ou algo assim. Seu filme parece, no entanto, dirigido por alguém ainda sem preparo para saber como se escreve um roteiro e se dirige um filme. Do jeito que ficou, vai desculpar, não dá pé.

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