Fotografias de Keiny Andrade mostram a São Paulo longe do clichê dos arranha-céus

Livro compila 174 imagens feitas com filme das fronteiras da cidade com os 22 municípios de sua região metropolitana

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São Paulo

Ao visitar os pontos de divisa da cidade de São Paulo com os 22 municípios que formam a região metropolitana, é possível se deparar com cachorros dormindo numa estrada de terra na fronteira com Guarulhos, palmeiras onde Santo André começa e uma guarita de segurança nas bordas de Osasco.

Os 346 quilômetros de contorno da capital paulista têm também gatos em lajes, cavalos à beira da estrada e muros que desembocam em estações de energia elétrica.

Foto do livro 'Perímetros', de Keiny Andrade, sobre os limites da cidade de São Paulo
Divisa de São Paulo com Guarulhos, em foto do livro de Keiny Andrade - Keiny Andrade/Divulgação

Este variado cenário, muito distinto dos arranha-céus ou dos marcos históricos com os quais São Paulo é frequentemente retratada, compõe "Perímetros", livro de fotografias de Keiny Andrade no qual o autor dá um panorama, em 174 imagens, dos pontos limítrofes da metrópole.

Em fins de semana durante os últimos cinco anos, o fotógrafo registrou com uma câmera de filme marcos e lugares na linha imaginária que passa por todas as periferias da cidade, guiando-se com a ajuda do Geosampa, o mapa oficial de São Paulo, e do Google Street View.

O resultado, ele diz, é o retrato de uma cidade "que tem uma outra atmosfera, um outro jeito de viver, mas que caminha junto" com o clichê de São Paulo —uma metrópole contemporânea, "de prédios de vidro, grandes avenidas, boom imobiliário e tecnologia".

"Perímetros" foi desenvolvido como um trabalho mais autoral, propositadamente distante da linguagem jornalística da fotografia que resume uma notícia, afirma o fotógrafo, que trabalhou no extinto jornal Agora e atualmente colabora com a Folha e o UOL.

Ele conta que queria "parar de pensar de forma digital e passar a pensar de forma analógica", gastando mais tempo para observar as paisagens que registrava, algumas das quais só acessíveis a pé.

Colaborou para isso sua escolha de usar filme, suporte que não possibilita o registro de muitas imagens em poucos segundos, como as câmeras digitais, e seu desprendimento de ter que incluir personagens ou contar uma história numa imagem, dois dos pilares da fotografia jornalística. Por isto a maior parte das imagens do livro é de paisagens.

Nas poucas fotos em que há pessoas, são os moradores das regiões visitadas. Segundo Andrade, eles ficavam curiosos com um fotógrafo carregando um tripé, achavam que se tratava de um topógrafo da prefeitura e, ao descobrirem que não, pediam para serem retratados.

Enquanto tocava o projeto, Andrade se inspirava em fotografias da escola norte-americana New Topographics, um movimento de nomes como Stephen Shore e Bernd e Hilla Becher, que registraram os Estados Unidos longe dos grandes centros urbanos em imagens que tiravam o romantismo associado a retratos de paisagem.

"Minha fotografia é de estrada, de caminhada", diz o fotógrafo.

Perímetros

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