Quem já passou dos 30 anos certamente lembra das ressacas que tinha às segundas-feiras, quando era mais jovem. O responsável por essa memória feliz é André Cagni, o Pomba, um dos DJs e promoters mais importantes que a noite paulistana já teve. Ele morreu aos 59 anos, neste sábado, devido a complicações de um câncer.
Com seu projeto Grind, festa que acontecia todos os domingos das 19h até o amanhecer n'A Lôca, Pomba unia dois universos aparentemente distintos —indie rock e drag queens. Ele mostrou a uma geração de jovens gays, lésbicas e simpatizantes —a então comunidade dos GLS— que era possível viver sua sexualidade sem ter divas pop como Madonna de inspiração comportamental ou trilha sonora para a vida.
Pomba tocava Nirvana, Pavement e Placebo para jovens que só queriam passar rímel preto nos olhos na madrugada de segunda. Assim, criou um espaço onde todo mundo que se sentia diferente da sociedade podia fazer cara de deprimido e encontrar amigos.
Mas na Grind havia também espaço para quem gostava das divas —sim, ele tocava Madonna, provavelmente a primeira referência para os meninos com menos de 20 anos que se descobriam gays. Fora isso, em determinado momento da madrugada, a música parava e todos ficavam vidrados nos show das drags, outra assinatura da festa.
Sua festa, uma das mais importantes de São Paulo na primeira década dos anos 2000, estava num circuito que incluía também as noites produzias pelo DJ Click e a Debut!, uma balada na extinta Torre, que acontecia às quintas-feiras. Mas a Grind era talvez a mais democrática pela mistura de públicos que trazia. Mesmo se você fosse sozinho, era certo que faria novos amigos sem dificuldade.
Pouca gente sabe, mas a Grind ainda existe, agora no Kat Club, na rua Augusta, com a bênção de Pomba, que inclusive esteve numa edição recente. Ele se foi, mas deixou uma festa onde todos os desajustados podem rezar a sua missa de domingo.
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