Descrição de chapéu Rita Lee

Rita Lee foi presa durante a ditadura e teve sua casa invadida, relembra advogado

José Carlos Dias, que teve a cantora como cliente, comenta episódio em que ela foi presa sob acusações de portar maconha

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São Paulo

Rita Lee tinha lado. Seu grito libertário teria mesmo de ecoar pelo rock‘n’roll, gênero musical que abarcou a contracultura nos anos 1960.

"Ela era uma cliente política", afirma José Carlos Dias, advogado de Rita, que representou mais de 500 perseguidos políticos pela ditadura militar e depois foi ministro da Justiça no governo de Fernando Henrique Cardoso. "Com sua música maravilhosa, ela enfrentou corajosamente a ditadura."

Rita Lee em 1976 - Folhapress

Mas sua irreverência se chocaria, antes, com o dogmatismo dos jovens de esquerda. Reagindo à modernidade estética mostrada nos palcos, a plateia, irada, arremessou ovos, latas e garrafas. O ideal progressista de Rita tropeçava na ideia de progresso dos outros.

Depois, a artista pagaria o preço pelo comportamento transgressor. Em 1976, foi presa por porte de drogas. Rita tinha, então, 28 anos. A versão da polícia conta que, às 7h30 do dia 24 de agosto, agentes bateram à porta de sua casa na Vila Mariana para averiguar se de fato a cantora usava drogas, na época de sua turnê com a banda Tutti Frutti, conforme constava em denúncias. Os agentes reviraram a casa inteira e disseram ter achado 300 gramas de maconha, restos de cigarro e um narguilé.

Rita negava o ocorrido, alegando que havia parado de consumir drogas. Na época, ela estava grávida de seu primeiro filho, Beto Lee. Um ano antes, a cantora havia lançado o disco "Fruto Proibido", que trazia "Ovelha Negra", clássico de seu repertório. Aqueles versos resumiram as aspirações de toda a geração de jovens.

A sonoridade lisérgica e as capas coloridas não deixavam dúvidas ao poder: Rita era uma afronta ao regime militar. No segundo dia na cadeia, recebeu a visita de Elis Regina e seu filho João Marcello Bôscoli, então com seis anos.

Invocada, Elis ordenou que os pedidos da amiga fossem prontamente atendidos: um médico e um prato de comida. Depois de dois dias numa cela temporária, foi transferida para um presídio feminino, sendo aclamada pelas detentas em sua chegada. Passados oito dias no presídio, Rita foi condenada a um ano de prisão domiciliar, cumpridos na casa de seus pais, na Vila Mariana.

Em foto colorida, homem aparece entre duas mulheres
Elis Regina, Roberto de Carvalho e Rita Lee - Reprodução/Instagram

"O julgamento dela foi histórico", afirma Dias. "O tribunal teve uma posição muito corajosa ao absolvê-la, entendendo que a invasão da casa dela era mais grave que os

restos de maconha de existência nunca comprovada."

É simbólico que, no último show de sua carreira, Rita tenha se indisposto com a polícia por causa da maconha. Em Aracaju, no ano de 2012, a cantora se incomodou com agentes que revistavam os fãs.

Do palco, chamou os policiais de "cachorros" e "cafajestes", afirmando que a polícia não tinha o direito de usar da força bruta para abordar as pessoas. Na ocasião, Dias voltou a ser advogado de Rita.

Ela e seu marido, Roberto de Carvalho, foram detidos pela polícia, assinando um boletim de ocorrência que indicava desacato à autoridade e apologia do crime. Seria superficial, porém, pensar que todo o ocorrido se resumia a maconha. Estava em debate o direito a sair de si e de se entregar a todos os prazeres da vida.

"Eu sou do tempo da ditadura. Vocês acham que eu tenho medo? Seus filhos da puta. Agora vêm me prender", disse Rita aos policiais no show.

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