Teresa Cristina resgata paixão de infância por Maria Bethânia em show em SP

Cantora, que se apresenta nesta sexta no Tokio Marine Hall, diz que vestia anágua na cabeça para imitar cabelo da baiana

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Rio de Janeiro

Quando criança, Teresa Cristina costumava por uma anágua na cabeça para cobrir os cabelos crespos e fingir que eles eram longos como os de Maria Bethânia. Assim paramentada, brincava de imitar a baiana, os trejeitos e expressões que via nos clipes do Fantástico.

Agora, no espetáculo "Teresinha", que apresenta nesta sexta-feira no Tokio Marine Hall e no qual canta músicas do repertório de Maria Bethânia, a carioca leva sua fantasia infantil para outros patamares.

A cantora Teresa Cristina
A cantora Teresa Cristina - Nana Moraes/Divulgação

"Uma das músicas que mais cantava nessas brincadeiras de criança era ‘Foi Assim’, que agora está no show", afirma Teresa. "Eu gostava de imitá-la porque sempre fui dramática, e ela era assim, tinha uma imagem muito enigmática, o olho delineado de preto, uma expressão muito forte e compenetrada. Gostava de imitar seus gestos e suas maneiras à frente do espelho."

A cantora afirma que "Teresinha", o show, é um presente para a criança que foi. O diminutivo presente no nome da canção de Chico Buarque foi um estopim para que ela desenhasse o roteiro. "Costumava brincar com meus amigos que essa música do Chico tinha sido feita para mim", relembra a cantora, que quase foi batizada como Teresinha, nome de sua madrinha.

"A partir do nome ‘Teresinha’ foi fácil pensar o show", diz Teresa. "Porque ela é Bethânia cantando Chico e sou eu criança, ou a pessoa que eu poderia ser. Logo em seguida, vêm os versos de Batatinha: ‘Ninguém sabe quem sou eu’. Porque Bethânia é isso. Múltipla, pode te fazer rir, chorar, sentir milhões de coisas."

O repertório percorre a relação da baiana com o sagrado, com a abertura para compositores de gerações mais jovens, como Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes —parceiros em "Lua Vermelha"— e pelas "canções de rasgar o pulso", caso de "Explode Coração", de Gonzaguinha, e "Olhos nos Olhos", de Chico.

"Vou também para o samba de roda. Canto o samba enredo para ela, aquele com o qual a Mangueira foi campeã em 2016. E tem a coisa da feminilidade. Sempre fui muito moleca, de jogar bola, chegar suja em casa, mas Bethânia sempre me colocou neste lugar da celebração do feminino".

O show nasceu de uma sugestão de Adriana Calcanhotto, a partir das lives que Teresa fazia na quarentena. Ao vê-la numa dessas apresentações virtuais, feita em homenagem à Bethânia no dia de seu aniversário, Calcanhotto disse à amiga que, passada a pandemia, ela deveria levar este repertório aos palcos.

"Na hora eu falei: ‘Isso é loucura. Nem sei o que Bethânia acharia disso’", afirma Teresa. "Mas Adriana, danadinha, falou com Bethânia, que gostou da ideia. Aí, para mim, foi uma alegria enorme. Fiquei felicíssima por poder mergulhar neste universo".

O roteiro inclui sucessos inevitáveis e outras que há tempos não estão nos shows de Bethânia. Entre clássicos, músicas como "Carcará", "Um Jeito Estúpido de Ser", "Explode Coração", "Como Vai Você", "Negue", "Ronda", "Mel" e "Reconvexo". A banda, com direção musical de Felipe Pinaud, foi pensada para dar conta da variedade de gêneros e atmosferas que o repertório cobre.

A seleção inicial tinha 120 canções. As 30 que compõem o roteiro do show são as que a cantora descreve como indispensáveis. O critério de escolha é o mesmo usado em tributos que fez a artistas como Paulinho da Viola, a quem dedicou seu primeiro disco, "Cartola e Candeia".

"Sigo o método Zezé Gonzaga, de que não é a gente que escolhe a música, mas a música que escolhe a gente. Tem música que, por mais que adore, você canta e não acontece nada."

Como Bethânia é uma intérprete, e não uma compositora como seus homenageados anteriores, Teresa procurou selecionar canções que pudesse fazer de um jeito seu. "É claro que, depois que Bethânia canta essas músicas, não tem porque cantá-las sem ser como homenagem a ela. Mas eu procuro me afastar de sua interpretação", afirma.

"Grito de Alerta", de Gonzaguinha, por exemplo, ficou fora do repertório por isso. "É impossível não soar como cover ou imitação. Eu tentava, mas na hora do ‘Veja bem, nosso caso’, fodia tudo. Eu pensava: ‘As pessoas vão ouvir e rir’."

Em outras, como "Motriz", de Caetano Veloso, gravada por Bethânia em 1983, Teresa se sentiu mais à vontade. "Não podia perder a oportunidade de cantá-la. Ela parece um filme, um fim de tarde, um sol entrando. Se eu fosse cineasta, filmaria essa música."

"Teresinha" estreou no Rio em abril. Teresa lembra que, no dia seguinte, Bethânia também subiria ao palco. "Liguei para ela no dia da minha estreia, dizendo que sabia que ela não poderia ir me ver porque era véspera de seu show, mas que fazia questão de dizer que ‘Teresinha’ era uma declaração de amor à sua genialidade. Não esqueço o que ela disse: ‘Pois é, amanhã eu vou lá brincar um pouco’."

A menina Teresa, portanto, já tinha intuído, pela brincadeira, algo da essência de Maria Bethânia.

Teresa Cristina

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