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Com 'Spirit' e 'Little Nemo', HQs esquecidas por anos são redescobertas no Brasil

Editoras como Figura, Skript, Pipoca & Nanquim e JBraga trazem personagens pouco ou nunca lançados no país

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Claudio Gabriel
Rio de Janeiro

Demorou exatos 25 anos para que os leitores brasileiros tivessem a chance de ler novamente "The Spirit", um dos heróis mais clássicos dos quadrinhos em todos os tempos. Criado por Will Eisner em 1940, o título pouco apareceu no país ao longo dos anos —a última vez foi em 1997.

Agora, a editora JBraga uma edição de aniversário de 80 anos de Spirit, com pequenos contos. É mais uma constatação de que, com o avanço do mercado de quadrinhos nos últimos anos, as editoras têm investido mais em clássicos da nona arte.

Capa da HQ 'Little Nemo', publicada pela editora Figura
Capa da HQ 'Little Nemo', publicada pela editora Figura - Divulgação

Se antes a leitura de HQs se resumia a histórias de super-heróis, hoje esse nicho busca um conteúdo cada vez mais diversificado. E é esse um dos principais motivos desse tipo de investimento.

"A fama do personagem, a empatia que temos por ele, o acreditar no seu potencial e o respeito à obra do autor original são o que determinam as escolhas do que vamos lançar", conta José Braga, criador e editor da JBraga.

Uma das que mais vêm investindo nesse tipo de material é a Figura. A editora já lançou edições especiais do italiano Sergio Toppi, por exemplo, além de clássicos argentinos. Contudo, agora trazem o material mais antigo do catálogo: "Little Nemo", clássico das tiras dominicais nos Estados Unidos.

A obra, criada por Winsor McCay, é considerada um dos maiores expoentes dos quadrinhos em todos os tempos, tendo sido publicada pela primeira vez em 1905. Fala do pequeno Nemo vivendo aventuras no mundo dos sonhos.

"Contatamos várias editoras pelo mundo que já tinham lançado até conseguirmos, com uma editora espanhola, o material em melhor qualidade. Ainda assim, tivemos um trabalho de adaptação e melhoria de cores", afirma Rodrigo Rosa, editor da Figura.

"Acho que tem uma linha de clássicas que as editoras têm feito cada vez mais. A pré-venda no Catarse traz bastante segurança para locais pequenos como o nosso investirem nesse tipo de material, já que vamos sabendo o que esperar."

O primeiro de dois volumes foi o único publicado até o momento e reúne as tiras até 1909. A ideia é lançar as produções até 1914, época considerada a mais clássica do personagem.

Para se ter uma ideia de sua influência, "Little Nemo" (que nunca tinha sido publicado no Brasil) já foi tema de uma música do grupo de rock progressivo Genesis ("Scenes From a Night's Dream") e, recentemente, serviu de base para o filme da Netflix "Terra dos Sonhos", com Jason Momoa no elenco.

A história é parecida com a Skript. A editora publicou, no fim de 2022, "Krazy Kat", outro clássico das tiras dominicais. Criada por George Herriman em 1913, nela as tramas sempre giram em torno do personagem título de gênero indefinido, de um rato e de um cão.

Diferente da Figura, no entanto, a Skript está lançando edições baseadas no trabalho da editora americana Fantagraphics. Dessa forma, a primeira publicação abarca tiras de 1916 até 1918.

"Quando nós lançamos a campanha de financiamento coletivo, muita gente não acreditou, mas o público mostrou que estava interessado nesse tipo de publicação mais clássica", comenta o editor Diego Moreau.

O personagem é outro marco na nona arte. Ela é considerada uma das grandes fontes para a criação do Mickey, de Walt Disney. Além disso, era leitura frequente de nomes como o diretor de cinema Charles Chaplin.

Moreau também contextualiza a necessidade de não ser apenas uma publicação por si só, mas com a necessidade de mudança de tons de preto e restauração de arquivos.

Página da HQ 'The Spirit', publicada pela editora JBraga
Página da HQ 'The Spirit', publicada pela editora JBraga - Divulgação

Foi o que fez, por exemplo, a editora Pipoca & Nanquim, que lançou "Maxwell, o Gato Mágico", personagem também de tiras do início da carreira do britânico Alan Moore. Os editores, após finalizarem o contrato de publicação, perceberam que não tinham os materiais, e começaram a buscá-lo com outros licenciantes pelo mundo e com fãs.

"É um material mais difícil do que o habitual, no sentido de não ter uma fonte para servir de referência. Mas, por outro lado, temos autonomia para criar uma edição única, da exata maneira como vislumbramos", analisa Alexandre Callari.

Fato é que não faltam opções para as editoras irem atrás e trazerem clássicos dos quadrinhos pela primeira vez ou de volta para o Brasil. "Popeye", "Flash Gordon" e "Pogo" são alguns dos títulos que não saem da mente e da cabeça dos leitores, unindo desde os mais antigos até os mais novos.

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