Noel Gallagher volta otimista em 'Council Skies', seu primeiro disco desde 2017

Ex-Oasis se une a ex-Smiths Johnny Marr para narrar esperança no amanhã e considera turnê pela América do Sul em 2024

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Barcelona

A postura de roqueiro marrento não cabe mais a Noel Gallagher. Aquele homem que cansou de lavar roupa suja em público com os conterrâneos do Blur ou no seu longo embate com o irmão Liam parece, hoje, sereno.

"Eu acho que meu estilo de música traz otimismo nas letras e nas palavras. Mas não é algo que eu penso, é algo que vem a mim naturalmente", diz ele, por chamada telefônica da sua fazenda em Dorset, no Reino Unido.

O músico britânico Noel Gallagher - Matt Crockett/Divulgação

A crença no amanhã melhor embala o novo disco do antigo líder do Oasis. Em "Council Skies", Gallagher e a banda High Flying Birds tecem um rock noventista para a década pós-pandemia. As baladas com arranjos de fácil digestão, ainda que eloquentes —característica da obra do britânico— dão a tônica do disco.

Mas desta vez Gallagher quer apontar para um futuro —não só melhor, mas um futuro que não dependa da sua obra pregressa.

"Escrevi todas as músicas durante o confinamento da pandemia", afirma Gallagher. "Não diria que é um álbum para sonhar, mas é um álbum reflexivo. A pandemia no Reino Unido foi horrível, então ficava refletindo sobre o que poderia acontecer depois."

Um dos singles do novo disco, "Open the Door, See What You Find" convida à reflexão sobre a calmaria após a tormenta —neste caso, a dos meses assolados pela pandemia. Acompanhado de sinos, orquestrações de violinos redentores e coral à moda antiga do rock, Gallagher canta "abra a porta e veja o que você encontra, não desvie o olhar".

"Eu sou uma pessoa otimista, não gosto muito de ouvir desespero nas músicas", diz Gallagher. "Fazer esse tipo de música é o que me parece certo porque faço músicas para mim, esse é meu estilo, não faço música para os outros."

Em dez faixas e um álbum com remixes e versões alternativas, o músico oferece alternativa ao rock de arena pasteurizado de bandas como Coldplay enquanto se mantém na tradição do rock contemplativo. Em "Pretty Boy", Gallagher e banda soam até indie. Arriscam nas batidas eletrônicas e riffs dançantes. É indie na forma, não na feitura.

"Meus álbuns só saem quando estão prontos e é isso", diz o músico. "Não estou sob pressão de gravadoras e faço o que quero, no meu ritmo." Foram dois anos e meio de trabalho, entre rascunhos de letras e sessões de estúdio. É uma eternidade se considerado o tempo frenético do pop hoje —e também um privilégio que apenas medalhões como um Gallagher podem ter.

Outro privilégio é escolher estrelas para embarcar nos seus projetos. Em "Council Skies", Gallagher dividiu o estúdio com Johnny Marr. O antigo guitarrista dos Smiths era um dos ídolos do então pequeno Gallagher vivendo na Manchester dos anos 1980. "Foi como se estivéssemos fazendo música juntos, e não colaborando", diz Gallagher, pouco afeito a parcerias e convites que sobram no pop atual.

O ritmo particular de produção do artista ajuda a entender por que a banda fez poucas turnês desde 2011, quando lançou seu primeiro álbum solo. O novo disco, quase dez anos depois da estreia, é promessa de novos palcos. "Minha música hoje não é mais a música dos anos 1990, mas, quando saio em turnê, eu toco minhas músicas antigas", diz ele. "Acho que vou para a América do Sul com essa turnê, talvez ano que vem."

O novo disco do Gallagher mais prolífico —agora são quatro discos de Gallagher ante três do irmão— joga mais uma pá de cal nos sonhos dos antigos fãs do Oasis acerca de um retorno do grupo. Quem acompanhou essa era do rock britânico renovou a esperança na reunião do Blur —o grupo faz uma turnê global após o lançamento de um novo disco.

Em conversa em que mencionar o Oasis era proibido, o músico é perspicaz ao ser questionado sobre britpop, termo que cunhou a última grande geração do rock britânico. "O Blur está em turnê, então acho que o britpop está voltando," diz o torcedor fanático do Manchester City, que parece não se enquadrar em nenhum time que não seja o seu.

Council Skies

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.