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Como musical de 'O Rei Leão' em São Paulo transformou animação em carne e osso

Espetáculo, com estreia no Teatro Renault marcada para esta quinta-feira, tem ingressos à venda de R$ 160 a R$ 550

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São Paulo

Antes de estrear, em 2013, "O Rei Leão" era visto como uma espécie de bote salva-vidas no qual a produtora Time For Fun poderia se abrigar caso sua aposta de risco, o musical "A Família Addams", fracassasse na bilheteria. Isso porque os Addams chegaram ao Brasil com a má fama de não ter agradado ao mercado americano e ter causado prejuízo na Broadway.

A ideia era a de que, se a montagem protagonizada por Marisa Orth e Daniel Boaventura repetisse o débito no Brasil, "O Rei Leão" seria a forma de repor os danos e ainda alcançar algum lucro. Mas, mais do que um sucesso, "A Família Addams" foi um fenômeno de público e crítica, inspirando uma nova montagem que repetiu o êxito dez anos depois.

Encenação do musical 'O Rei Leão' no Teatro Renault
Encenação do musical 'O Rei Leão' no Teatro Renault - Caio Gallucci

Assim, o clássico da Disney consagrou o sucesso comercial da produtora, que seguiu voando em céu de brigadeiro com obras como "Wicked", "Les Misérables" e "O Fantasma da Ópera".

Agora, o cenário é diferente. Com estreia nesta quinta-feira (20), "O Rei Leão" volta a seu papel de bote salva-vidas após "Anastácia", outra aposta que não roçou a explosão de "A Família Addams", embora tenha pagado seus custos com a bilheteria.

"Toda aposta é um risco. Mesmo em um espetáculo consagrado como ‘O Rei Leão’ nos deixa apreensivos", diz a produtora Almali Zraik, que, ao lado do presidente da T4F, Fernando Altério, escolheu o clássico da Disney para marcar de vez a volta da empresa ao ramo dos musicais após uma pausa durante a pandemia.

Para Zraik, "O Rei Leão" deve encontrar um público sedento por uma história familiar que trata de sonhos, perseverança e o papel da amizade. A produtora, contudo, diz não pensar no outro lado da obra. Inspirada em "Hamlet", a história retrata temas políticos caros ao Brasil, como um golpe de estado, o abuso de poder e a briga por um reinado. "Tem isso, mas não acho que seja aí que o público foque", diz ela, entre risos.

Na história, o jovem leão Simba foge do reino onde foi criado após se sentir culpado pela morte do pai, o rei Mufasa. O filhote vive em exílio e sob os cuidados de dois amigos, Timão e Pumba, que o encorajam a retornar à sua terra. Ao descobrir que a morte do pai foi um plano de seu tio, Scar, para ascender ao trono, Simba luta por seu lugar de direito.

"É claro que a questão política é latente e todos estamos a par disso, mas agora acredito que o público brasileiro esteja entusiasmado com a chance de ver mais uma vez uma história que é clássica e que fala a tantos corações", afirma Anthony Lyn, diretor associado da produção.

O que faz de "O Rei Leão" um fenômeno de público sem desagradar a crítica é algo que intriga até os produtores da Disney. O sucesso do filme de 1994 marcou o retorno do estúdio ao pódio de soberania nas bilheterias de cinema, e o desafio da diretora Julie Taymor ao adaptar o filme para os palcos foi manter o caráter superlativo nos palcos.

Ainda que resvale por alguns instantes no vale da estranheza, o visagismo e os figurinos se tornaram efetivos para levar o público a acreditar que está vendo uma versão live-action —isto é, em carne e osso— do filme, muitas vezes mais efetivo do que a versão que chegou aos cinemas em 2019.

Desde a catártica cena inicial, quando os reis Mufasa e Sarabi apresentam à savana seu herdeiro Simba, até a luta final de um príncipe adulto com o rei usurpador Scar, o musical buscou aprofundar o caráter lúdico da obra.

Isso fez de passagens como o estouro da boiada que mata Mufasa e o clássico "Hakuna Matata" sejam duas das cenas mais aplaudidas mundo afora por sua relação direta com o público, seja quebrando a quarta parede, seja levando o elenco do palco para a plateia.

O espetáculo conta com nomes como Jennifer Nascimento, na pele da leoa Nala, Drayson Menezzes como Mufasa e Marcel Octavio como Scar, além de um elenco de 53 atores, entre eles 12 sul-africanos.

O papel de Simba será de Thales Cesar, que calça os sapatos deixados por Tiago Barbosa, intérprete original que, após a temporada brasileira, protagonizou o musical na Espanha, onde construiu uma carreira de prestígio dentro do teatro musical espanhol.

Lyn e Zraik afirmam que cada espetáculo tem uma identidade e que o que importa é a relação que o público vai estabelecer com esta montagem e seu elenco. Nas redes sociais, "O Rei Leão" tem chamado atenção também por causa dos valores dos ingressos.

O bilhete mais caro sai por R$ 550, podendo ultrapassar os R$ 600 caso a compra seja feita pela internet, por conta da taxa de conveniência aplicada pelo site da Tickets For Fun. O valor, diz a produtora, é necessário pelo fato de o espetáculo não contar com nenhum incentivo governamental.

Todo o patrocínio de "O Rei Leão" vem da T4F e de seus parceiros que aceitaram a empreitada. O mesmo aconteceu com "Anastácia", que conseguiu captar parte do valor necessário ainda na metade da temporada, o que proporcionou a política de ingressos populares.

O atraso para aprovações de projetos na Lei Rouanet durante o governo de Jair Bolsonaro criou uma demanda represada que deve desaguar ao longo deste ano sob a gestão de Margareth Menezes no Ministério da Cultura.

Zraik, entretanto, diz que a produtora preferiu investir no risco e tentar recuperar o investimento na bilheteria com uma temporada que vai de quarta-feira a domingo.

"Mesmo assim, estamos praticando ingressos que não são tão diferentes de outras produções incentivadas. Estamos dentro do mercado", diz, ao se referir a montagens como a de "Wicked", na qual o ingresso mais caro sai por R$ 400.

O Rei Leão

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