Descrição de chapéu O Poder do Agro

Como é a moda agro, que vira objeto de desejo com Ana Castela e 'Terra e Paixão'

Diva do agronejo e novela da Globo tornam chapéu de caubói, cinto de fivelão e calça jeans estilo 'boot cut' mais populares

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Lohana Martins, rainha da Expoacre 2023

Lohana Martins, rainha do rodeio da Expoacre 2023, toca o berrante Assis Lima

São Paulo

Chapéu de caubói. Cinto de fivela grande. Bota de couro com ornamento de cactos e rosas. Calça jeans justa com aplique de brilho. Jaqueta marrom com franjas nas mangas. Estas peças não compõem o look de manequins femininos nas lojas de departamento, não estão no corpo das influenciadoras de estilo mais conhecidas e nem nas passarelas das semanas de moda no Brasil.

Lohana Martins, rainha da Expoacre 2023
Lohana Martins, rainha da Expoacre 2023, mostra o chapeu com coroa - Cleiton Cinegrafista

Contudo, são vestidas por milhares de pessoas nos estados do país onde a agropecuária é parte essencial da economia. Praticamente ignorada por quem dita as tendências no Sudeste, a moda country tem um ecossistema próprio de produção e distribuição, além de uma constelação de influenciadores dispostos a tornarem os looks caipiras objetos de desejo e ostentação.

Em paralelo, nos últimos anos o estilo agro tomou a cultura pop —passou a ser mostrado para milhões de pessoas nos shows dos sertanejos Ana Castela e Gusttavo Lima e nas novelas da Globo "Pantanal" e "Terra e Paixão". No carnaval deste ano, os foliões pularam ao som de Ivete Sangalo vestida de "cowgirl", num look vermelho cheio de brilho.

"A moda country é muito antiga, mas ela deu uma popularizada por conta da Ana Castela. Antigamente era criticada, principalmente nas mulheres. As meninas viam como algo muito masculino e brega", afirma a maquiadora e influenciadora goiana Ana Júlia Bernardes, que tem quase 120 mil seguidores no Instagram @diariodeumabruta. "Mas como a Ana Castela tem uma fama tão grande, ela quebrou o tabu, mesmo."

Bernardes destaca também as redes sociais como difusoras da moda do campo. Segundo ela, com o celular ficou mais fácil descobrir o que se usa nos rincões dos Estados Unidos, o país referência para os brasileiros neste estilo de vestir. É de lá que vem uma peça indispensável no guarda-roupas caubói, considerada também um clássico do século 20 —a calça jeans Wrangler modelo "boot cut".

Desenvolvida em 1947 e praticamente inalterada até hoje, esta calça tem os tornozelos um pouco mais largos para permitir o encaixe sobre as botas. O modelo original é feito totalmente de algodão, sem o uso de elastano, o que torna o denim resistente para o tranco na lida diária com o gado ou para a montaria nos rodeios. A calça é o jeans oficial das competições profissionais nos Estados Unidos.

A cantora Ana Castela - Instagram/anacastelacantora

É nos rodeios que o estilo country atinge seu ápice. Lohana Martins, rainha do rodeio da Expoacre 2023, representa seu título com um modelito todo verde —uma das cores da bandeira do Acre— cheio de franjas e muito, muito brilho. A coroa fica sobre o chapéu e, nas orelhas, ela carrega brincos grandes. Ao escolher seu traje, com o qual desfila montada no cavalo, ela conta que se preocupa em não ser vulgar nem carnavalesca.

Mas o look caubói não fica restrito às competições ou às fazendas, conta a figurinista Awa Guimarães, responsável pelo estilo dos personagens de "Agropeça", espetáculo do Teatro da Vertigem que critica o agronegócio. Segundo ela, que cresceu indo a rodeios, o combo chapéu, bota e calça jeans é usado pelos homens tanto no dia a dia quanto nas festas e cavalgadas de fim de semana.

No guarda-roupa do agroboy também não pode faltar uma camisa xadrez de mangas curtas ou uma camisa oxford, ambos os modelos numa paleta tradicional. "Não tem tom pastel no universo country. A gente tem cores sólidas, azul, preto, marrom que é da terra, verde ocre que remete às árvores e à natureza amadurecida", afirma a stylist Maris Tavares, que cuida da imagem de cantoras e cantores sertanejos, como Zezé di Camargo e Maiara, da dupla com Maraisa.

Foto da peça 'Agropeça', do Teatro da Vertigem
Vinicius Meloni em cena de 'Agropeça', do Teatro da Vertigem - Ligia Jardim

"A vestimenta do campo não é frágil, está associada à proteção. Não tem fragilidade de tecidos, de modelagem, de cores. São mensagens subliminares de força e segurança", acrescenta a stylist. Para Tavares, o visual supermasculino dos rapazes do campo se tornou um fetiche e mexe com o imaginário feminino, sobretudo quando vestido pelos cantores em cima do palco. Ela argumenta que usar chapéu não é jeca, mas, sim, uma opção, que muitas vezes está vinculada a uma grande fazenda e uma boa caminhonete.

Para compor o figurino, uma das lojas referência no segmento é a Texas Center, em Goiânia, que se define como a Disneylândia do agro. No ecommerce, a marca TXC é uma das mais populares, oferecendo não apenas a moda agro, mas também uma seleção de peças básicas e outra que puxa para o streetwear, com camisetas e bonés gráficos com o logo da grife. Conforme o poder aquisitivo aumenta, o investimento passa a incluir jeans da Diesel, polos da La Coste e peças da Gucci.

Quem está fora deste universo tem uma pitada de moda country na novela "Terra e Paixão", no ar na Globo. Alguns dos personagens masculinos aparecem na roça com roupas empoeiradas e gastas, enquanto outros, como o interpretado por Tony Ramos, vestem couros, camurças e coletes, passando ao espectador a ideia de poder.

Glória Pires como Irene, na novela 'Terra e Paixão'
Glória Pires como Irene, na novela 'Terra e Paixão' - Globo/ Paulo Belote

A figurinista da novela, Paula Carneiro, diz que recebe muitos comentários perguntando se Antônio La Selva, o personagem de Ramos, não sente calor por vestir tecidos encorpados. Ela afirma que não, dado que no folhetim ele vive no ar condicionado das administrações de suas fazendas.

"A gente cria personagens, não pessoas reais. Não é uma série documental, estamos contando uma história", ela afirma, acrescentando que passou uma temporada de pesquisa no interior do Mato Grosso do Sul, onde a novela é situada.

Outra personagem notável da novela é Irene –vivida por Glória Pires–, uma ex-prostituta que se tornou mulher de fazendeiro rico. A figurinista diz que, como ela não é uma fazendeira comum, uma maneira de destacá-la foi pensar um figurino com cores inspiradas em lenços umedecidos de limpeza, isto é, em tons apagados de azul, amarelo, rosa e lavanda.

"Minha pesquisa não é tendência. Acho que figurino não é moda, é personalidade, é botar a roupa para contar a história."

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