Descrição de chapéu The New York Times

Fãs de Beyoncé transformam trem para Nova Jersey em expresso temático da diva

Com chapéus de caubói e muito brilho, a sobriedade da linha de transporte público virou festa para o show da turnê Renaissance

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Callie Holtermann
The New York Times

Vários chapéus de caubói se inclinaram para cima, em direção ao quadro de partidas na Penn Station; os portadores pareciam excepcionalmente animados, se considerarmos que estavam embarcando em um trem lotado e suarento rumo a Nova Jersey.

"Beyoncé, plataforma 14!", gritava um funcionário da New Jersey Transit que usava um colete amarelo neon. Passageiros vestindo roupas enfeitadas com lantejoulas pisotearam uma placa de "cuidado: piso molhado" em sua corrida para as escadas rolantes.

Fãs de Beyoncé que viajam de trem para ver show da turnê Renaissance World Tour em Nova Jersey
Fãs de Beyoncé que viajam de trem para ver show da turnê Renaissance World Tour em Nova Jersey - Amir Hamja/The New York Times

Eram 19h no sábado, e um Uber da região central de Manhattan para o estádio Meadowlands custava cerca de US$ 70. Em lugar disso, muitos fãs de Beyoncé decidiram usar o transporte público para chegar ao MetLife Stadium em East Rutherford, onde a cantora subiria ao palco naquela noite para um show de sua Renaissance World Tour.

Eles exibiam suas unhas pintadas com esmalte cromado ao agarrar firmemente seus ingressos. O suor fazia com que o glitter de seus corpos escorresse pelas plataformas de concreto. Durante um traslado em Secaucus, os fãs dançaram o "vogue". Das 16h em diante, a linha de trens suburbanos, normalmente sóbria, se tornou a sede de uma festa popular pré-jogo.

"Estamos tentando nos divertir sem estourar o orçamento", disse Alyssa Garmone, 22, atriz que mora em Queens. Ela usava óculos escuros de strass e ocupava um cobiçado assento de canto com sua irmã; elas pagaram US$ 5,50 pelas passagens.

O mesmo valia para Victoria Muschitiello, 27, uma higienista dentária de Long Island que começou a pesquisar a melhor maneira de chegar ao estádio uma semana antes do show. "Em todo lugar que apareço, minha pequena tatuagem de 'Yoncé' aparece", ela disse, virando o lábio inferior para revelar o apelido de Beyoncé tatuado dentro de sua boca.

Muitos vagões de trem lembravam ônibus de festa —se bem que ônibus de festa exibindo muitos anúncios do Ramapo College [uma faculdade em Nova Jersey]. Alguns passageiros tomavam drinques coloridos, enquanto outros ouviam música com alto-falantes portáteis. Quando o condutor os abordava, todos os passageiros exibiam seu melhor comportamento.

Sierra Williams, 25, coordenadora de operações de vídeo em Manhattan, não deixaria que coisa alguma a impedisse de ver Beyoncé pela primeira vez —inclusive um leve resfriado.

"Bronquite, o que é isso? Ela foi embora, eu a deixei em casa", disse Williams. "Estamos falando de B, e não é B de bronquite."

Ela estava sentada ao lado de Imani Tudor, 28, editora de fotos radicada em Brooklyn, que passou a noitada trocando olhares significativos com outros fãs paramentados.

"Todos nós fazemos parte da mesma coisa", disse Tudor, a caminho do show de sábado no MetLife. O álbum "Renaissance" de Beyoncé, lançado exatamente um ano atrás, é "uma carta de amor para as pessoas queer, para as pessoas negras, para as mulheres negras", acrescentou ela. "É lindo ver isso ganhar vida."

Os fãs vêm encarando com determinação a primeira turnê solo da superestrela pop em sete anos. Alguns chegaram ao ponto de atravessar oceanos para conseguir assentos mais baratos. Os nova-iorquinos só precisaram atravessar o rio Hudson, o que nem sempre é natural para eles.

"Pesquisamos no Google para ver como as pessoas fizeram para ir ao show de Taylor Swift", disse Camila Grisel, 25, que mora em Manhattan e trabalha no Lincoln Center. Ela estava perdida na Penn Station, lambendo uma casquinha de sorvete da Häagen-Dazs subterrânea que existe na estação. Sua noiva, Linda Garcia, 28, professora de jardim de infância, percebeu que o número da plataforma tinha sido anunciado e a puxou pelas escadas.

Elas chegaram a uma plataforma parcialmente encoberta por botas de caubói iridescentes e olharam ao redor. Chapéus Stetson pareciam estar se transformando em bolas de discoteca, com suas placas espelhadas refletindo a luz sobre os biquínis prateados de outros fãs. Camisas de futebol ostentavam o título da música "Thique", em vez de nomes de jogadores.

Os looks siderais inspirados pela canção "Alien Superstar" —cores metálicas de insetos, acessórios verdes neon— pareciam um pouco menos extraterrestres naquele ambiente. Duas irmãs com bustiês prateados e pretos posaram em frente a uma imagem gigantesca de Judy Blume.

"Sinto-me estranha", disse Hannah Wheeler, 58, que usava um vestido maxi floral e estava voltando para casa em Chestnut Ridge, Nova York, depois da reunião de 40 anos de sua turma de ensino médio. Wheeler tirou uma foto do pessoal que estava indo ao show para mostrar ao marido o "bling-bling chamativo" da moçada.

Jair Fonseca, que por acaso estava usando um chapéu de caubói, também não estava a caminho do show de Beyoncé; ele estava indo para Rahway, Nova Jersey. Ainda assim, Fonseca, 38, dono de um restaurante peruano, disse que foi emocionante ver pessoas de Nova York e de outros lugares passarem por sua área a caminho do show. "Hoje estamos funcionando como anfitriões aqui em Jersey", ele disse.

Em um túnel abaixo do Rio Hudson, os fãs discutiam se os convidados especiais do show seriam apenas bons (Jay-Z) ou ótimos (Grace Jones). Antes que pudessem chegar a uma resposta, o trem chegou à Secaucus Junction, onde a multidão teve que fazer a transferência para a Meadowlands Rail Line a fim de chegar ao estádio.

O desfile de lantejoulas passou por sob uma placa que dedica a estação ao ex-senador americano Frank Lautenberg. Funcionários da New Jersey Transit, vestindo calças cáqui, estavam diante de um restaurante Sbarro fechado, segurando cartazes que diziam "Queen B" em letras maiúsculas, com uma seta vermelha.

As placas eram apenas uma parte dos extensos esforços de planejamento da New Jersey Transit, disse Kyalo Mulumba, porta-voz do sistema de transporte público. "Os passageiros e o público não veem as horas de preparo necessárias para levar 15 mil ou mais passageiros de e para o estádio nos dias de eventos", ele escreveu em um e-mail. (O MetLife Stadium também recebe jogos do New York Giants e do Jets, e outros shows, incluindo os de Taylor Swift e Ed Sheeran.)

A New Jersey Transit empregou cerca de cem funcionários adicionais para ajudar no atendimento aos passageiros, disse Mulumba. A empresa também divulgou memes de vagões de trem decorados com chapéus de caubói brilhantes, no Twitter, para divulgar o serviço.

Por volta das 20 horas, a multidão havia diminuído, mas os traços da passagem da BeyHive permaneciam.

Ethan Lin, 20, um estudante de Los Angeles, encontrou uma das placas "Queen B" no chão em Secaucus Junction, enquanto voltava para Manhattan depois de uma festa na piscina. Ele achou hilário. "Algum funcionário público de Nova Jersey fez essa placa", ele disse.

Seu amigo Alan Gao, 21, estagiário em Manhattan, perguntou quando seria o show da Beyoncé. "Agora?", ele disse. "Talvez devêssemos mudar de rota."

Tradução Paulo Migliacci

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